Dia para se guardar na memória. Dia
para se lamentar.
Vivemos processo que poderá
encontrar compreensão ao longo de pouco mais de cinco anos. O dia de hoje
resulta em algo que explode em junho de 2013 e que, provavelmente, encontrará
ápice em outubro de 2018.
Em junho de 2013 o povo foi para as
ruas empurrado por uma demanda específica (o preço das passagens de ônibus) que
alcançou eco e o transportou por um leque variado de outras demandas. Entre
estas o fim da corrupção e a reforma política.
No post ALVO de 13 de junho de 2013,
escrevi: “O esgotamento é de Modelo. Se
nos prendermos à essência e ao conjunto dos fatos, aqui e fora daqui, o que
observamos é a falência de algo muito maior e que nos sufoca. Nós construímos
um tempo de trevas envolto em celofane de cores púrpuras”.
Dali em diante não fomos os mesmos.
O país começa a ter interesse maior por si próprio. Não são as novelas, o
carnaval, o futebol, os BBBs, as Olímpiadas que preenchem as páginas das redes
sociais.
O país se propõe a ser outro.
Em inúmeras oportunidades país a
fora as manifestações populares empurram as suas demandas e surgem as condições
para que as suas ânsias comecem a ser atendidas. Centenas de pessoas, antes
invulneráveis e inimputáveis, são presas, julgadas e condenadas.
O país constrói seus heróis pela
justiça, pessoas, ainda que com brilhantismo e coragem, apenas cumprem com
suas obrigações e deveres.
Em 2014 o país se divide entre
aqueles que negam mais do que afirmam. Voto em Aécio por que não voto em
Lula/Dilma. Voto em Dilma por que não voto em Aécio. Nossa tragédia ainda era e
continua sendo a ausência de líderes legítimos que nos fazem colocar todas as
nossas esperanças.
Talvez por esta razão o resultado
das urnas não se consolida. E a sequência de equívocos empreendida pela eleita,
somada a avalanche de denúncias e prisões de corruptores e corrompidos, implica
em cartazes de FORA e BASTA.
O povo quer todos FORA. As
manifestações são conduzidas por entidades à margem dos partidos instituídos e
não contemplam, para não dizer que não permitem, a presença e os discursos de
políticos de qualquer matiz.
O país começa a se passar a limpo,
tendo como ícone a Operação Lavajato, que se assemelha àquela italiana dos idos
de 70, Mãos Limpas.
Não há infecção sem febre. As
paixões se exacerbam, as páginas dos noticiários e das redes sociais ocupam
mais espaço do que outros males e mazelas nacionais. Os homicídios perdem
espaço e também os vírus. Nem a maior tragédia natural da história nacional
permanece à tona.
O país privilegia a política. TVs
de shopping, de bares e restaurantes, prendem espectadores de todas as classes
sociais em sessões plenárias das câmaras, das cortes, dos debates em jornais
televisivos.
A audiência é pelo país.
No dia de hoje o que se coloca fora
não é a governante e nem o PT, apenas. Sobretudo o que se coloca fora é um país
anterior a 2013, cujo povo permitiu e cumpliciou com algozes, vis,
incompetentes, nefastos governantes e abomináveis empresários.
Para lamentar o dia de hoje são os
nossos milhões de brasileiros que foram traídos no seu projeto de construção de
um país mais justo socialmente, íntegro e próspero. Pessoas de ilibada conduta,
brilhantes intelectuais e artistas, sindicalistas autênticos, líderes de
movimentos sociais, pessoas portadoras das melhores intenções, todas elas
usadas em um projeto conduzido por notórios gangsteres.
Muito ainda nos surpreenderá os
próximos acontecimentos. Minha esperança ativa é de que sigamos de forma
pacífica e rigorosamente dentro dos ditames da Lei.
Até breve.
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