domingo, 8 de maio de 2016

CINCO



LINGUAR

Temo bolinar a toca das palavras,
Pela volúpia delas a busca de sentido.
Passo longe de papéis em branco,
Onde, saltando de mim, elas impregnem.

Fujo de pensamento,
Quase esvazio...
É perigoso, também.

Escrevê-las e inscrever,
É ato de coragem, de poucos.
Quando as juntando,
Versam prosam.

Bom mesmo é despalavrar.
Tirando tudo de que é possível...
Assim.

Foi com este poeminha que abri o blog há exatos cinco anos. O post de hoje é o 935º. Despalavrei à beça, mas com toda a certeza não tirei tudo de que é possível. Só escrevo por força de comichão que me acomete. Não fosse por isto eu seria normal.

Inúmeras vezes tentei me curar, parar de vez com esta compulsão, e olha que não foram poucas as sinalizações para que eu nunca mais voltasse à post. Permaneci e, pior, hoje é como meu comprimido que tomo diariamente face à retirada da tireoide, uma obrigação. Sempre que termino um texto rejubilizo-me.

O que escrevi nos oito de maio de cada ano passado que gostaria de destacar? A seguir fragmentos dos posts editados na data.

2012
- Eu já tô prontinha, peguei o creminho, repelente e pus tudo dentro da mochila. Já tô de casaco e com o tênis de luzinhas... Vai ser legal, num vai?

(Eu começava neste dia a escrever uma série de diálogos hipotéticos com minha netinha Liz que nasceria em 01 de agosto. O post de 08.05.2012 abria uma série que relatava nossa viagem de balão à lua).

2013
Dei de Pelé e de Macalé nos meus posts, alguns em jogadas brilhantes e outros que envergonham a qualquer atleta das letras. Joguei meu jogo, no entanto. Destilei meu mais amargo fel aos abomináveis seres que conosco convivem e, por vezes, nos sugam como verdugos nossa mais cândida esperança.
Escrevi.

2014
Recolhimento, a palavra que deveria intitular este post. Já passou da hora deste blog prestar algum serviço a seus leitores. 549 textos depois, não posso continuar em abordagens que não acrescentam nem ao espírito, nem à cultura e muito menos a qualquer aspecto que melhore a vida das pessoas que acessaram esta página.
É verdade que nunca prometi nada a ninguém. Sempre deixei claro que os posts são mais catárticos do que qualquer outra coisa. Mas, no fundo, prá mim está ficando incômodo o fato de eu trazer questionamentos que não são do interesse de ninguém.

2015
Escrevi em todos os lugares por onde andei e em todas as horas. Banheiros de bares, públicos, ônibus de turismo, aviões, quartos de hotéis, restaurantes, durante reuniões de trabalho e em intervalos destas, em saguões de espera em aeroportos, freneticamente sempre em uma dimensão de forma que fosse suficiente para dar conta da ideia que fluía. Em minhas casas, em casas de outros. Pela manhã, à tarde, à noite e pelas madrugadas.


Quais foram, em minha opinião, os posts mais significativos? Eu não tenho dúvida. Foram aqueles editados no dia de nascimento de cada um de meus netos.

LIZ
Vou dizer o que é alegria.
Ela pesa 2,960 quilos, mede perto de quarenta e poucos centímetros, cabelos escuros, coradinha.
E se chama Liz.

VALENTIN
Vou logo dizendo que alegria também verte lágrima, porque não é pouca.

ANTÔNIO
Cada neto meu é personagem ativo de uma proposta modesta, ainda que ideológica, de que o futuro precisa ser reescrito e uma criança que nasce renova os mais profundos desejos de que algo verdadeiramente aconteça para que tempos melhores sobrevenham.

HELENA
A gente não pode ver nascer sem ter esperança. E é tudo que eu gostaria que se fortificasse com Helena.


Pois é.


Até breve.

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