domingo, 29 de maio de 2016

KING



Ela em Miami a visitar parentes.

Meus filhos e netos no BH. Ontem passaram todo o dia comigo em alvoroças, gritos, traquinagens, gangorras, tintas, esconde-escondes e tantas.

Eu aqui no Santa Luzia, só, com a vista fora para os verdes e outros de tanta boniteza. Bastava. Se tem felicidade era isto, por que de quê mais? Mas quem disse que felicidade é torpor? Quietude? Vista sobre as bonitezas?

Tenho amiga querida que me diz, sempre: “Larga de ser angustiado, rapaz! Faz como seus amigos: se liga no foda-se”!

Noninha me pede para mudar do “reportem” para filme: Cinderela, Rapunzel, Peppa... Pretinha me acusa e denuncia, “sai do face”.

O silêncio colorido por maritacas, canários e outros gorjeios, ao longe uma musica qualquer de um vizinho amante.

Eu aqui com os meus idaís.

Daí que eu quero acreditar, por crédito nos desdobramentos, por fé no homem, fé na vida, fé no que vier. Torcer para que afinal tenhamos a coerência ansiada pelos humildes, pelos necessitados de justiça, pelos tantos cumpridores de sua modesta e extraordinária tarefa.

Daí que eu quero que os satrápias se auto-golpeiem, busquem todos os tribunais e sucumbam no mar de vilanias, que milhões de captadores de imagens e sons os gravem com seus dentes verdugos sobre a pátria desperta, que grita o eco de ruas.

Quero muito que tenhamos alguma chance.

Ver Martin Luther King vivo em seu igual de cor e pensar que a luta não é nunca em vão, ao abraçar o ex-inimigo vitimado por imensa torpeza humana. Esse presidente americano deveria ser negro, para mostrar que a bandeira da paz não tem cor, mas essência, que contém todos os matizes da diversidade.

Obama podia mais em Sírias e em tantos outros que desaguam sobre europas. Obama podia em Venezuelas, Honduras, Áfricas distantes, Obama Luther Francisco podia em Coréias, em todos os cantos onde ainda grassa hecatombe da mísera ganância e atrocidade que a raça ainda é capaz de destilar.

“Eu tenho um sonho.”

Essas quatro palavras quimicamente perfeitas para nutrirem os grandes líderes. E permanecer nelas, ainda que tudo sinalize o contrário. Mesmo que a cada dia trinta ou mais violentem, seviciem, concreta e simbolicamente o lugar do mais frágil, do indefeso, daquele que acolhe.

Não vamos nos curvar à barbárie e nem à mediocridade do que governa, não vamos nos armar de fogos, nem de represálias fundadas na violência com a qual nos atacam. É preciso ter inteligência, paz e ciência.

Como em um filme americano: vida de mocinho é difícil, mas de bandido é pior porque morre no final.



Até breve.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

JUNHOS



Em 14 de junho de 2013 escrevi no post RESPÚBLICA:
“Movimento orquestrado por jovens alucinados, estudantes secundaristas e universitários, professores, pedagogos, jornalistas (um inclusive do portal APRENDIZ), integrantes de um grupo de ajuda social a milhares de desassistidos e que abraçaram agora a causa pelo debate sobre o aumento das tarifas.
O governador nomeia o movimento de político e organizado por uma minoria. O povo sempre foi minoria e é nele que reside a essência de haver Política. Jamais foram as massas que mudaram o status quo. Meia dúzia de demoníacos cérebros e corações apaixonados por um ideal que conscientizaram, iluminaram e incendiaram causas libertárias é que fizeram História e arrastaram multidões.
Meninos voltem para seus lares. Deixem estas ideias revolucionárias no esquecimento. Amadureçam. Tornem-se cidadãos de um mundo desinteressante e sem sentido, onde tudo deve mudar para ficar do mesmo jeito.
Aproveitem as Copas nos imensos telões instalados em praças públicas ou em bares. Embriaguem-se. Torçam pelo que é determinado torcer. Nós seremos hexa.
E tudo continuará como dantes.
A ordem imperará.”


Nascia ali a maior revolução social neste país de que se terá notícia.


No post ALVO de 16 de junho de 2013, escrevi:


“A quem foram endereçadas as vaias de ontem no majestoso estádio de Brasília, quando da abertura da Copa, repreendidas laconicamente pelo presidente da FIFA como falta de fair play?

A quem? À pobre mulher de trejeitos palacianos que representa a figura tosca de um poder que agoniza, estéril e frágil, aqui como em qualquer outro limite territorial que ainda insistimos em nomear como país ou, se preferirem, nação?

As vaias foram para Dilma, aquela pessoa, refém de suas circunstâncias históricas, que vive solitária em Alvorada trocando confidências e segredos com suas anciãs (mãe e tia) de confiança?”

Em 18 de junho de 2013, registrei no post TAÇA:

“Ontem o Estado saiu de cena. Deixou que a anarquia se estabelecesse sem contornos. Tinha gente à beça, pacificamente às dezenas e centenas de milhares ocupando os largos urbanos. Bonito de se ver.
Há algo que me encanta ainda. Os partidos políticos foram colocados, todos, em seu devido lugar. Manifestantes protestaram quanto à intervenção de bandeiras partidárias flanando entre eles. Gritavam: Pedágio!!! Pedágio!!! Essa parte é antológica.

Posso estar enganado ou declaro aqui o meu mais caro desejo. Isso vai crescer. Porque é preciso que cresça. Ninguém sabe muito bem o que deve, como, com quem e sob que instituições fazer. Mas há o vírus da demanda descontrolado e ocupando as mentes e corações de muitos.

São inúmeras as demandas reprimidas, incontáveis frustrações, perversas traições às expectativas, achaques, zombarias, vergonhas legislativas, executivas, judiciárias. Seguramente o povo, a sociedade sempre foi superior a tudo isto. Só que agora vai às ruas e aos estádios para dizer: “Basta!”.

Em 19 de junho de 2013, o post FAÍSCA refletiu:

“Não é possível saber exatamente o que está acontecendo, porque ainda está por acontecer e ninguém pode precisar o que virá. Não acredito, porque prefiro não acreditar, que este algo adormeça. E também sofro com a possibilidade de, com a extensão que isto possa vir a ter, o Estado regulador voltar à cena com poderes discricionários para vigiar e punir.

Ontem a presidente, em discurso em evento sobre os marcos regulatórios da mineração, disse que devemos escutar os apelos das ruas contra os descasos,  a corrupção e a destinação dos investimentos públicos. Agora?

Os políticos profissionais estão assustados com seus representados, provavelmente inconformados pelo fato de seus eleitores estarem atrapalhando a sua prática representativa.

Tragicômica a saída, fortemente escoltada, ontem à noite, de senador vitalício e ex-presidente casual pelas portas dos fundos do Congresso Nacional. Eles têm horror de povo.”

No post TRAÇO de 20 de junho de 2013:

“Jovem iluminado e de um discurso breve e contundente, o rapaz interpelado pela repórter como um dos líderes do MPL foi logo dizendo: “Olha, deixe-me esclarecer um ponto. Eu não sou líder do MPL mesmo porque o MPL não tem lideranças. É um movimento horizontal”.

Eu posso estar enganado com o que o menino da reportagem quis nos trazer. O movimento que está nas ruas é horizontal, linear, aberto e por si próprio será capaz de encaminhar demandas que, se não atendidas, só o tempo dirá o que poderá advir.

Se bem entendo o que está nas ruas, e é preciso que se desenvolva, é um novo modelo de relações sociais de poder de governança. Deliberar não deverá permanecer como um ato solitário de um governante respaldado por estruturas institucionais, mas algo que deverá ser trazido aos principais afetados para que se estabeleça a melhor decisão.”

Em 23 de junho de 2013, no post  ENTREMENTES publiquei:



Em 25 de junho de 2013, há três anos atrás, no post SE:

“Talvez a História tenha nos reservado a oportunidade de, agora, construirmos um futuro. Quê futuro? O próximo tempo nos dirá.

E será breve porque o povo está com pressa.”

O post de hoje me anima a editar em livro os posts nos quais tratei do desenvolvimento dos fatos sociais e políticos ocorridos desde o inesquecível junho de 2013. Talvez o faça às margens das eleições presidenciais de 2018.

Por quê somente em 2018? Há muito ainda a registrar até lá. Senão vejam notícias de hoje publicadas no Estadão.



“O avanço da negociação do empreiteiro Marcelo Odebrecht com a força-tarefa da Operação Lava Jato e a delação de Sérgio Machado fizeram crescer ainda mais dentro do PT a desesperança com a volta de Dilma Rousseff ao Palácio do Planalto, mas motivaram líderes do partido a ressuscitar a tese da implosão do sistema político, que culminaria na convocação de novas eleições ou até nas discussões em torno do parlamentarismo. 

Líderes do PT e ex-ministros da petista afirmam que Marcelo Odebrecht, preso desde o ano passado em Curitiba, deve dar detalhes e fornecer provas sobre as contribuições do conglomerado de empresas às campanhas de Dilma Rousseff em 2010 e em 2014 capazes de enfraquecer a tese de que ela foi vítima de um “golpe”, hoje a principal e quase única estratégia de defesa de Dilma e do partido”.

E, em: ELEIÇÕES

“O ex-presidente Lula defendeu em reunião com senadores do partido que, se reassumir o mandato, Dilma deve pedir um plebiscito para antecipar as eleições presidenciais. Raciocina que Dilma não terá força política para concluir o governo e isso inviabilizaria o partido numa disputa só em 2018. Ontem, Lula e senadores estiveram com a presidente. Ela mais ouviu do que falou.”

Prognóstico: o menino do MPL verá sua razão explícita em futuro próximo.

Perdoem-me o extenso post. Mais virá.


Até breve.





terça-feira, 24 de maio de 2016

IMPORTÂNCIA



Netos, afazeres profissionais e o que mais importa me tiraram de posts aqui no dasletra. Houve época que este espaço era tomado por questões do meu cotidiano mais do que importante, agora quase sempre reservado a um olhar do que se passa no mundo da política ou da puslítica.

Não trouxe aqui, por exemplo, algo que tive que elaborar com certa dor, o acidente decorrente de peraltice ocorrido com Tin que levou dele um de seus dentinhos da frente.

Liz, minha Noninha, seu olhar demolidor, suas mais do que surpreendentes observações, crescendo a olhos vistos.

Antônio, às voltas com alguém que lhe chegou quarto à frente, cheia de olhares dele desviados e que chamam de Helena.

Helena, de orelhinhas furadas para brinquinhos, mãozinhas agasalhadas, bochechas vermelhadas, cheirinho de... sei lá de delicioso.

Quanto aos afazeres profissionais, pela natureza, não os posso revelar aqui.

Sobra a política. Continuo atento e satisfeito com que vejo. Feliz do país que pode esbanjar tal nível de liberdade de expressão. O que se vê, em que pese os excessos, o mau gosto, a pilhéria escabrosa, o acinte, o exagero, o desproposital, é que tudo está exposto.

Há um calor popular que me encanta, com manifestações intensas, apaixonadas, no entanto, sem nenhum incidente que faça com que possamos nos preocupar. Nas ruas e nas redes sociais pululam manifestações, todo post recebe centenas de comentários, debates interessantíssimos e toda sorte de “criações artísticas” construídas pela veia ímpar do humor da nossa brasilidade.

Estamos sendo um povo, afinal.

O maior protagonista da História recente, marco desde junho de 2013. O povo está ditando. Todas as instituições estão expostas ao crivo de milhões de opiniões que numa velocidade estonteante determinam os fatos.

A ausência absoluta de censura conjugada com a obsessiva busca de evidências e/ou provas que contestem atitudes daqueles que estão no Poder a todo o momento expõe fatos que se sucedem diariamente, cada um com nuances apocalípticas.

Claro que há preferências, afinal é disso que se trata, cabe escolher entre aqueles que fazem o jogo democrático qual deverá ser o protagonista. E é aqui que reside minha esperança, o povo está escolhendo quem fica.

Os coadjuvantes estão atordoados, cercados pelos seus atos presentes, preocupados com seus atos passados, desesperançados com o futuro. No futuro, virá a transparência e ninguém ficará isento da nudez de seus atos.

Isto me parece ser o que importa. O povo descobrindo, como ditam os livros de sociologia e política, que o poder dele emana e em seu nome deverá ser exercido.

E, por favor, não me digam que não saberemos escolher o melhor, se já o estavamos fazendo.






Até breve. 

domingo, 15 de maio de 2016

PÍLULAS



Em artigo na Folha Vladimir Safatle escreveu: Nós acusamos. Prefiro atribuir o texto ao cidadão Vladimir e não ao filósofo Safatle. Penso que à Filosofia não cabe “acusar” no sentido de apontar, cabe antes interpretar, quando possível, nuances. A máxima filosófica socrática contempla: “A única coisa que sei é que nada sei.”.

Não fosse assim a Filosofia não seria considerada a mãe de todas as ciências. O que move o espírito amante do saber é sempre aquilo que ele ignora. Daí a razão de todas as descobertas: a ignorância.

Daí, talvez e também, a razão pela qual quando pessoas afirmam por demais suas convicções usando muitas vezes de forma bélica, as nomeamos como ignorantes.

Outra máxima filosófica (não tenho a autoria, isto é, não sei quem foi o autor) provoca: “A mentira tem pernas curtas.”.

Quero partir de ambas, da minha ignorância e da máxima da Verdade, e lofisofar.

Penso que a tese e estratégia de defesa da Presidência da República podem ter sido formuladas de maneira equivocada. Senão observemos, se alguém ainda reúne paz e ciência para tanto:

1. O processo do impedimento está viciado já que conduzido por parlamentar que usou de vingança mórbida além de desvio de finalidade e responsabilidade.
NOTA: É como matar o emissário quando não se quer aceitar a mensagem. No caso pelo fato de que o emissário estar mais sujo que pau de galinheiro (enunciado lofisófico) e ser unanimidade nacional. Por outro lado negar os gritos de milhões bradados a partir de junho de 2013.

2. Trata-se de um processo sem legitimidade, um atentado contra a Constituição, portanto um Golpe.
NOTA: Até o pobre do Francisco foi demandado e, como era de se esperar, sugeriu a harmonia e a paz entre os brasileiros. Nada mais regular (chancelado pela Suprema Corte) e pacífico do que as manifestações de todos nós ao longo do processo. Comparações com 64 são tolas, ali o Congresso foi fechado, portanto o povo foi tirado do processo.

3. Não ocorreu crime de responsabilidade. Aceitar que tenha ocorrido é, necessariamente, condenar a todos os governantes que também o praticaram. 
   NOTA: Não é possível que sejamos todos ignorantes (latu sensu) e não entendermos minimamente que, fosse assim, poderia eu justificar a justa razão de meus crimes por que outros também as tiveram. Aliás, é exatamente por isto que clama a sociedade: quando da ocorrência de crime, que todos sejam punidos com o rigor da Lei.

4. A presidente é uma mulher honesta.
NOTA: Mesmo que seja, porque pairam dúvidas, ela não está sendo julgada por conduta moral, mas por prática delituosa prevista em Lei.

5. O vice-presidente é um oportunista, traidor.
NOTA: Mesmo que boa parte de nós não ignoremos esta possibilidade, ele teria sido escolhido para ocupar a chapa e ajudar a vencer as eleições. Há outro problema: a Constituição Federal assim o determina.

Juro que não volto a este assunto. Formulei aqui apenas para recomendar aos filósofos e estrategistas da presidente - sim porque ainda ela o é senão não teria moradia, transporte, alimentação, plano de saúde e outros benefícios - melhor que mudem para a elucidação dos fatos.

Por exemplo, entre tantos outros:

1. Reconhecer que ocorreram equívocos sérios como a expressiva desoneração fiscal que transferiu recursos vultosos de empresas transnacionais para os seus países de origem;

2. Reconhecer que a expansão de crédito criou bolha de consumo fictícia muito para além da capacidade de pagamento de seus tomadores;

3. Reconhecer a negligência com os fragrantes desvios nas empresas públicas e na contratação de obras de infraestrutura, especialmente aquelas destinadas à realização da Copa do Mundo, diga-se de passagem, algumas até hoje inacabadas ou, pelo menos uma aqui em BH que desabou transformando R$460 milhões em pó;

4. Aceitar que omitiu da sociedade, por ocasião do período eleitoral, a verdadeira situação das finanças públicas;

5. Justificar que a necessidade de investir de maneira maciça em programas de alto impacto social se deu com vistas a manter o projeto político de defesa aos mais necessitados e, portanto, para vencer as eleições de 2014;

6. Reconhecer que, tendo perdido base de sustentação parlamentar, não tiveram condições e nem competência para vir à sociedade e denunciar o boicote ao governo com inúmeras pautas-bombas que travaram todas as possibilidades de governança.


Como disse, juro que não volto a este assunto, mesmo sabendo que mentir torna-nos cada vez mais ignorantes. Latu sensu.



Até breve. 

quarta-feira, 11 de maio de 2016

D



Dia para se guardar na memória. Dia para se lamentar.

Vivemos processo que poderá encontrar compreensão ao longo de pouco mais de cinco anos. O dia de hoje resulta em algo que explode em junho de 2013 e que, provavelmente, encontrará ápice em outubro de 2018.

Em junho de 2013 o povo foi para as ruas empurrado por uma demanda específica (o preço das passagens de ônibus) que alcançou eco e o transportou por um leque variado de outras demandas. Entre estas o fim da corrupção e a reforma política.

No post ALVO de 13 de junho de 2013, escrevi: “O esgotamento é de Modelo. Se nos prendermos à essência e ao conjunto dos fatos, aqui e fora daqui, o que observamos é a falência de algo muito maior e que nos sufoca. Nós construímos um tempo de trevas envolto em celofane de cores púrpuras”.

Dali em diante não fomos os mesmos. O país começa a ter interesse maior por si próprio. Não são as novelas, o carnaval, o futebol, os BBBs, as Olímpiadas que preenchem as páginas das redes sociais.

O país se propõe a ser outro.

Em inúmeras oportunidades país a fora as manifestações populares empurram as suas demandas e surgem as condições para que as suas ânsias comecem a ser atendidas. Centenas de pessoas, antes invulneráveis e inimputáveis, são presas, julgadas e condenadas.

O país constrói seus heróis pela justiça, pessoas, ainda que com brilhantismo e coragem, apenas cumprem com suas obrigações e deveres.

Em 2014 o país se divide entre aqueles que negam mais do que afirmam. Voto em Aécio por que não voto em Lula/Dilma. Voto em Dilma por que não voto em Aécio. Nossa tragédia ainda era e continua sendo a ausência de líderes legítimos que nos fazem colocar todas as nossas esperanças.

Talvez por esta razão o resultado das urnas não se consolida. E a sequência de equívocos empreendida pela eleita, somada a avalanche de denúncias e prisões de corruptores e corrompidos, implica em cartazes de FORA e BASTA.

O povo quer todos FORA. As manifestações são conduzidas por entidades à margem dos partidos instituídos e não contemplam, para não dizer que não permitem, a presença e os discursos de políticos de qualquer matiz.

O país começa a se passar a limpo, tendo como ícone a Operação Lavajato, que se assemelha àquela italiana dos idos de 70, Mãos Limpas.

Não há infecção sem febre. As paixões se exacerbam, as páginas dos noticiários e das redes sociais ocupam mais espaço do que outros males e mazelas nacionais. Os homicídios perdem espaço e também os vírus. Nem a maior tragédia natural da história nacional permanece à tona.

O país privilegia a política. TVs de shopping, de bares e restaurantes, prendem espectadores de todas as classes sociais em sessões plenárias das câmaras, das cortes, dos debates em jornais televisivos.

A audiência é pelo país.

No dia de hoje o que se coloca fora não é a governante e nem o PT, apenas. Sobretudo o que se coloca fora é um país anterior a 2013, cujo povo permitiu e cumpliciou com algozes, vis, incompetentes, nefastos governantes e abomináveis empresários.

Para lamentar o dia de hoje são os nossos milhões de brasileiros que foram traídos no seu projeto de construção de um país mais justo socialmente, íntegro e próspero. Pessoas de ilibada conduta, brilhantes intelectuais e artistas, sindicalistas autênticos, líderes de movimentos sociais, pessoas portadoras das melhores intenções, todas elas usadas em um projeto conduzido por notórios gangsteres.

Muito ainda nos surpreenderá os próximos acontecimentos. Minha esperança ativa é de que sigamos de forma pacífica e rigorosamente dentro dos ditames da Lei.



Até breve.

domingo, 8 de maio de 2016

CINCO



LINGUAR

Temo bolinar a toca das palavras,
Pela volúpia delas a busca de sentido.
Passo longe de papéis em branco,
Onde, saltando de mim, elas impregnem.

Fujo de pensamento,
Quase esvazio...
É perigoso, também.

Escrevê-las e inscrever,
É ato de coragem, de poucos.
Quando as juntando,
Versam prosam.

Bom mesmo é despalavrar.
Tirando tudo de que é possível...
Assim.

Foi com este poeminha que abri o blog há exatos cinco anos. O post de hoje é o 935º. Despalavrei à beça, mas com toda a certeza não tirei tudo de que é possível. Só escrevo por força de comichão que me acomete. Não fosse por isto eu seria normal.

Inúmeras vezes tentei me curar, parar de vez com esta compulsão, e olha que não foram poucas as sinalizações para que eu nunca mais voltasse à post. Permaneci e, pior, hoje é como meu comprimido que tomo diariamente face à retirada da tireoide, uma obrigação. Sempre que termino um texto rejubilizo-me.

O que escrevi nos oito de maio de cada ano passado que gostaria de destacar? A seguir fragmentos dos posts editados na data.

2012
- Eu já tô prontinha, peguei o creminho, repelente e pus tudo dentro da mochila. Já tô de casaco e com o tênis de luzinhas... Vai ser legal, num vai?

(Eu começava neste dia a escrever uma série de diálogos hipotéticos com minha netinha Liz que nasceria em 01 de agosto. O post de 08.05.2012 abria uma série que relatava nossa viagem de balão à lua).

2013
Dei de Pelé e de Macalé nos meus posts, alguns em jogadas brilhantes e outros que envergonham a qualquer atleta das letras. Joguei meu jogo, no entanto. Destilei meu mais amargo fel aos abomináveis seres que conosco convivem e, por vezes, nos sugam como verdugos nossa mais cândida esperança.
Escrevi.

2014
Recolhimento, a palavra que deveria intitular este post. Já passou da hora deste blog prestar algum serviço a seus leitores. 549 textos depois, não posso continuar em abordagens que não acrescentam nem ao espírito, nem à cultura e muito menos a qualquer aspecto que melhore a vida das pessoas que acessaram esta página.
É verdade que nunca prometi nada a ninguém. Sempre deixei claro que os posts são mais catárticos do que qualquer outra coisa. Mas, no fundo, prá mim está ficando incômodo o fato de eu trazer questionamentos que não são do interesse de ninguém.

2015
Escrevi em todos os lugares por onde andei e em todas as horas. Banheiros de bares, públicos, ônibus de turismo, aviões, quartos de hotéis, restaurantes, durante reuniões de trabalho e em intervalos destas, em saguões de espera em aeroportos, freneticamente sempre em uma dimensão de forma que fosse suficiente para dar conta da ideia que fluía. Em minhas casas, em casas de outros. Pela manhã, à tarde, à noite e pelas madrugadas.


Quais foram, em minha opinião, os posts mais significativos? Eu não tenho dúvida. Foram aqueles editados no dia de nascimento de cada um de meus netos.

LIZ
Vou dizer o que é alegria.
Ela pesa 2,960 quilos, mede perto de quarenta e poucos centímetros, cabelos escuros, coradinha.
E se chama Liz.

VALENTIN
Vou logo dizendo que alegria também verte lágrima, porque não é pouca.

ANTÔNIO
Cada neto meu é personagem ativo de uma proposta modesta, ainda que ideológica, de que o futuro precisa ser reescrito e uma criança que nasce renova os mais profundos desejos de que algo verdadeiramente aconteça para que tempos melhores sobrevenham.

HELENA
A gente não pode ver nascer sem ter esperança. E é tudo que eu gostaria que se fortificasse com Helena.


Pois é.


Até breve.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

TRIGO



Queridos companheiros,

Permitam-me trata-los assim aqueles com os quais divido o pão simbólico da esperança em um mundo melhor. Um mundo em que não seja caracterizado pelo profundo abismo de desigualdade social. Um mundo em que seja possível a harmonia e a paz entre todos os homens de boa vontade.

Dirijo-me aos meus queridos parentes e amigos com os quais tenho o privilégio do convívio mais íntimo e restrito e também àqueles distantes por quem nutro um imenso respeito e gratidão pelo gosto ao saber e à poesia.

Dirijo-me àqueles que pelo amor à justiça, ao bem, à causa da superação humana, aos desvalidos, aos menos favorecidos pela sorte, aos excluídos pela natureza de cor, opção sexual, religiosa, enfim a todos aqueles apaixonados e íntegros na defesa dos mais fracos e oprimidos.

Dirijo-me a todos aqueles com os quais me assemelho.

Dirijo-me à Pretinha, minha filha, que tem por força de seu dever de ofício na seara da saúde mental, convivido diariamente em seu consultório com nossa tragédia social e que, também por força disto, simpatizado com determinado alinhamento político.

Dirijo-me à Marilda Castanha, minha vizinha, a Humberto Werneck, Chico Buarque de Holanda, Luiz Fernando Veríssimo, Vladimir Safatle, Fabio Konder Comparato, Letícia Sabatella e a tantos outros luminares da cultura, das artes, da filosofia, por quem nutro profundo respeito e admiração intelectual.

Convido-os à reflexão. É imperiosa e inadiável a tarefa de reconhecer que fomos traídos por algumas pessoas que se apropriando de nossos ideários e discursos, recebedores de nossa irrestrita confiança expressa em nosso maior valor democrático - o voto soberano – denegriram e violentaram nossos maiores sonhos de mudança.

É preciso extirpa-los para que com eles não se percam os nossos ideais revolucionários. Estes que mancharam, por interesses escusos e inconfessáveis, que nos fizeram de escudo pela nossa lisura e paixão desmedida para se locupletarem em ganhos advindos de vergonhosa e imunda trapaça.

É preciso deixa-los a mercê de seus crimes hediondos, bani-los da História, sob pena de perder com eles a chama da defesa de nossos ideais mais nobres. Apesar de favorecer circunstancialmente aos oportunistas de plantão, que lentamente também serão julgados, vamos recuperar de vez nossa fé e determinação na luta que sempre pautou o nosso espírito.

É preciso fazer compreender àqueles que se deixam levar pela avalanche do que negam o que está verdadeiramente em jogo. Não podemos no afã de defender lideranças espúrias, condenar nossas instituições pelas quais tanto trabalhamos e que precisamos dar crédito e fortalecer.

É hora da razão, do equilíbrio, da serenidade e da vigilância. Somos todos protagonistas de uma nova realidade brasileira, e precisamos confiar que vamos tirar desta amarga experiência uma lição definitiva.

Os fatores que outrora marcaram nossa conduta política caducaram. A ideologia de que somos condenados a ser por força do imperialismo americano ou bestializados por uma mídia programática tornou-se ridícula, patrocinada por delirantes.

Não vamos nos pautar pela tensão e imediatismo, vamos seguir na defesa das instituições, nos preceitos constitucionais e no império da Lei, rechaçando práxis que com o exclusivo interesse de vitimá-las as colocam em questão.

Hoje o que faz opinião e determina o curso dos fatos são as redes sociais trazidas à tona por uma juventude que nega mecanismos de opressão e deslavada mentira.

Nossos jovens estão ocupando o que é, por direito e conquistas, nosso. Nossas escolas, nossas casas legislativas, nossa causa.

Vamos ombrear pelo que está por vir e lutar sim por um tempo em que jamais sejamos traídos de forma tão cruel como fomos por estes que precisam passar seu ocaso no cárcere.

Vamos conduzir nossa conduta com faróis altos, com uma visão de longo prazo, já que não é uma tarefa para anos, mas para décadas. Mas vamos continuar agora.

Por nossos netos.



Até breve.