Meus filhos e netos no BH. Ontem
passaram todo o dia comigo em alvoroças, gritos, traquinagens, gangorras,
tintas, esconde-escondes e tantas.
Eu aqui no Santa Luzia, só, com a
vista fora para os verdes e outros de tanta boniteza. Bastava. Se tem
felicidade era isto, por que de quê mais? Mas quem disse que felicidade é
torpor? Quietude? Vista sobre as bonitezas?
Tenho amiga querida que me diz,
sempre: “Larga de ser angustiado, rapaz! Faz como seus amigos: se liga no
foda-se”!
Noninha me pede para mudar do “reportem” para filme: Cinderela,
Rapunzel, Peppa... Pretinha me acusa e denuncia, “sai do face”.
O silêncio colorido por maritacas,
canários e outros gorjeios, ao longe uma musica qualquer de um vizinho amante.
Eu aqui com os meus idaís.
Daí que eu quero acreditar, por
crédito nos desdobramentos, por fé no homem, fé na vida, fé no que vier. Torcer
para que afinal tenhamos a coerência ansiada pelos humildes, pelos necessitados
de justiça, pelos tantos cumpridores de sua modesta e extraordinária tarefa.
Daí que eu quero que os satrápias
se auto-golpeiem, busquem todos os tribunais e sucumbam no mar de vilanias, que
milhões de captadores de imagens e sons os gravem com seus dentes verdugos
sobre a pátria desperta, que grita o eco de ruas.
Quero muito que tenhamos alguma
chance.
Ver Martin Luther King vivo em seu
igual de cor e pensar que a luta não é nunca em vão, ao abraçar o ex-inimigo
vitimado por imensa torpeza humana. Esse presidente americano deveria ser
negro, para mostrar que a bandeira da paz não tem cor, mas essência, que contém
todos os matizes da diversidade.
Obama podia mais em Sírias e em
tantos outros que desaguam sobre europas. Obama podia em Venezuelas, Honduras,
Áfricas distantes, Obama Luther Francisco podia em Coréias, em todos os cantos
onde ainda grassa hecatombe da mísera ganância e atrocidade que a raça ainda é
capaz de destilar.
“Eu tenho um sonho.”
Essas quatro palavras quimicamente
perfeitas para nutrirem os grandes líderes. E permanecer nelas, ainda que tudo
sinalize o contrário. Mesmo que a cada dia trinta ou mais violentem, seviciem,
concreta e simbolicamente o lugar do mais frágil, do indefeso, daquele que
acolhe.
Não vamos nos curvar à barbárie e
nem à mediocridade do que governa, não vamos nos armar de fogos, nem de
represálias fundadas na violência com a qual nos atacam. É preciso ter
inteligência, paz e ciência.
Como em um filme americano: vida de
mocinho é difícil, mas de bandido é pior porque morre no final.
Em 14 de junho de 2013 escrevi no
post RESPÚBLICA:
“Movimento orquestrado por jovens
alucinados, estudantes secundaristas e universitários, professores, pedagogos,
jornalistas (um inclusive do portal APRENDIZ), integrantes de um grupo de ajuda
social a milhares de desassistidos e que abraçaram agora a causa pelo debate
sobre o aumento das tarifas.
O governador nomeia o movimento de político
e organizado por uma minoria. O povo sempre foi minoria e é nele que reside a
essência de haver Política. Jamais foram as massas que mudaram o status quo. Meia dúzia de demoníacos
cérebros e corações apaixonados por um ideal que conscientizaram, iluminaram e
incendiaram causas libertárias é que fizeram História e arrastaram multidões.
Meninos voltem para seus lares. Deixem estas
ideias revolucionárias no esquecimento. Amadureçam. Tornem-se cidadãos de um
mundo desinteressante e sem sentido, onde tudo deve mudar para ficar do mesmo
jeito.
Aproveitem as Copas nos imensos telões
instalados em praças públicas ou em bares. Embriaguem-se. Torçam pelo que é
determinado torcer. Nós seremos hexa.
E tudo continuará como dantes.
A ordem imperará.”
Nascia ali a maior revolução social
neste país de que se terá notícia.
“A quem foram endereçadas as vaias de ontem
no majestoso estádio de Brasília, quando da abertura da Copa, repreendidas
laconicamente pelo presidente da FIFA como falta de fair play?
A quem? À pobre mulher de trejeitos
palacianos que representa a figura tosca de um poder que agoniza, estéril e
frágil, aqui como em qualquer outro limite territorial que ainda insistimos em
nomear como país ou, se preferirem, nação?
As vaias foram para Dilma, aquela pessoa,
refém de suas circunstâncias históricas, que vive solitária em Alvorada
trocando confidências e segredos com suas anciãs (mãe e tia) de confiança?”
“Ontem o Estado saiu de cena. Deixou que a
anarquia se estabelecesse sem contornos. Tinha gente à beça, pacificamente às
dezenas e centenas de milhares ocupando os largos urbanos. Bonito de se ver.
Há algo que me encanta ainda. Os partidos
políticos foram colocados, todos, em seu devido lugar. Manifestantes
protestaram quanto à intervenção de bandeiras partidárias flanando entre eles.
Gritavam: Pedágio!!! Pedágio!!! Essa parte é antológica.
Posso estar enganado ou declaro aqui o meu
mais caro desejo. Isso vai crescer. Porque é preciso que cresça. Ninguém sabe
muito bem o que deve, como, com quem e sob que instituições fazer. Mas há o
vírus da demanda descontrolado e ocupando as mentes e corações de muitos.
São inúmeras as demandas reprimidas,
incontáveis frustrações, perversas traições às expectativas, achaques,
zombarias, vergonhas legislativas, executivas, judiciárias. Seguramente o povo,
a sociedade sempre foi superior a tudo isto. Só que agora vai às ruas e aos
estádios para dizer: “Basta!”.
“Não é
possível saber exatamente o que está acontecendo, porque ainda está por
acontecer e ninguém pode precisar o que virá. Não acredito, porque prefiro não
acreditar, que este algo adormeça. E também sofro com a possibilidade de, com a
extensão que isto possa vir a ter, o Estado regulador voltar à cena com poderes
discricionários para vigiar e punir.
Ontem a presidente, em discurso em evento
sobre os marcos regulatórios da mineração, disse que devemos escutar os apelos
das ruas contra os descasos, a corrupção e a destinação dos investimentos
públicos. Agora?
Os políticos profissionais estão assustados
com seus representados, provavelmente inconformados pelo fato de seus eleitores
estarem atrapalhando a sua prática representativa.
Tragicômica a saída, fortemente escoltada,
ontem à noite, de senador vitalício e ex-presidente casual pelas portas dos
fundos do Congresso Nacional. Eles têm horror de povo.”
“Jovem iluminado e de um discurso breve e
contundente, o rapaz interpelado pela repórter como um dos líderes do MPL foi
logo dizendo: “Olha, deixe-me
esclarecer um ponto. Eu não sou líder do MPL mesmo porque o MPL não tem
lideranças. É um movimento horizontal”.
Eu posso estar enganado com o que o menino
da reportagem quis nos trazer. O movimento que está nas ruas é horizontal,
linear, aberto e por si próprio será capaz de encaminhar demandas que, se não
atendidas, só o tempo dirá o que poderá advir.
Se bem entendo o que está nas ruas, e é
preciso que se desenvolva, é um novo
modelo de relações sociais de poder de governança. Deliberar
não deverá permanecer como um ato solitário de um governante respaldado por
estruturas institucionais, mas algo que deverá ser trazido aos principais
afetados para que se estabeleça a melhor decisão.”
Em 23 de junho de 2013, no
post ENTREMENTES
publiquei:
Em 25 de junho de 2013, há três
anos atrás, no post SE:
“Talvez a História tenha nos reservado a
oportunidade de, agora, construirmos um futuro. Quê futuro? O próximo tempo nos
dirá.
E será breve porque o povo está com pressa.”
O post de hoje me anima a editar em
livro os posts nos quais tratei do desenvolvimento dos fatos sociais e políticos
ocorridos desde o inesquecível junho de 2013. Talvez o faça às margens das
eleições presidenciais de 2018.
Por quê somente em 2018? Há muito
ainda a registrar até lá. Senão vejam notícias de hoje publicadas no Estadão.
“O avanço da negociação do empreiteiro
Marcelo Odebrecht com a força-tarefa da Operação Lava Jato e a delação de
Sérgio Machado fizeram crescer ainda mais dentro do PT a desesperança com a
volta de Dilma Rousseff ao Palácio do Planalto, mas motivaram líderes do
partido a ressuscitar a tese da implosão do sistema político, que culminaria na
convocação de novas eleições ou até nas discussões em torno do
parlamentarismo.
Líderes do PT e ex-ministros da petista
afirmam que Marcelo Odebrecht, preso desde o ano passado em Curitiba, deve dar
detalhes e fornecer provas sobre as contribuições do conglomerado de empresas
às campanhas de Dilma Rousseff em 2010 e em 2014 capazes de enfraquecer a tese
de que ela foi vítima de um “golpe”, hoje a principal e quase única estratégia de
defesa de Dilma e do partido”.
“O ex-presidente Lula defendeu em reunião
com senadores do partido que, se reassumir o mandato, Dilma deve pedir um
plebiscito para antecipar as eleições presidenciais. Raciocina que Dilma não
terá força política para concluir o governo e isso inviabilizaria o partido
numa disputa só em 2018. Ontem, Lula e senadores estiveram com a presidente.
Ela mais ouviu do que falou.”
Prognóstico: o menino do MPL verá
sua razão explícita em futuro próximo.
Netos, afazeres profissionais e o
que mais importa me tiraram de posts aqui no dasletra. Houve época que este
espaço era tomado por questões do meu cotidiano mais do que importante, agora
quase sempre reservado a um olhar do que se passa no mundo da política ou da puslítica.
Não trouxe aqui, por exemplo, algo
que tive que elaborar com certa dor, o acidente decorrente de peraltice
ocorrido com Tin que levou dele um de seus dentinhos da frente.
Liz, minha Noninha, seu olhar
demolidor, suas mais do que surpreendentes observações, crescendo a olhos
vistos.
Antônio, às voltas com alguém que
lhe chegou quarto à frente, cheia de olhares dele desviados e que chamam de
Helena.
Helena, de orelhinhas furadas para
brinquinhos, mãozinhas agasalhadas, bochechas vermelhadas, cheirinho de... sei
lá de delicioso.
Quanto aos afazeres profissionais,
pela natureza, não os posso revelar aqui.
Sobra a política. Continuo atento e
satisfeito com que vejo. Feliz do país que pode esbanjar tal nível de liberdade
de expressão. O que se vê, em que pese os excessos, o mau gosto, a pilhéria
escabrosa, o acinte, o exagero, o desproposital, é que tudo está exposto.
Há um calor popular que me encanta,
com manifestações intensas, apaixonadas, no entanto, sem nenhum incidente que
faça com que possamos nos preocupar. Nas ruas e nas redes sociais pululam
manifestações, todo post recebe centenas de comentários, debates
interessantíssimos e toda sorte de “criações artísticas” construídas pela veia
ímpar do humor da nossa brasilidade.
Estamos sendo um povo, afinal.
O maior protagonista da História
recente, marco desde junho de 2013. O povo está ditando. Todas as instituições
estão expostas ao crivo de milhões de opiniões que numa velocidade estonteante
determinam os fatos.
A ausência absoluta de censura
conjugada com a obsessiva busca de evidências e/ou provas que contestem
atitudes daqueles que estão no Poder a todo o momento expõe fatos que se
sucedem diariamente, cada um com nuances apocalípticas.
Claro que há preferências, afinal é
disso que se trata, cabe escolher entre aqueles que fazem o jogo democrático qual
deverá ser o protagonista. E é aqui que reside minha esperança, o povo está
escolhendo quem fica.
Os coadjuvantes estão atordoados,
cercados pelos seus atos presentes, preocupados com seus atos passados,
desesperançados com o futuro. No futuro, virá a transparência e ninguém ficará
isento da nudez de seus atos.
Isto me parece ser o que importa. O
povo descobrindo, como ditam os livros de sociologia e política, que o poder
dele emana e em seu nome deverá ser exercido.
E, por favor, não me digam que não
saberemos escolher o melhor, se já o estavamos fazendo.
Em artigo na Folha Vladimir Safatle
escreveu: Nós acusamos. Prefiro atribuir o texto ao cidadão Vladimir e não ao
filósofo Safatle. Penso que à Filosofia não cabe “acusar” no sentido de
apontar, cabe antes interpretar, quando possível, nuances. A máxima filosófica
socrática contempla: “A única coisa que sei é que nada sei.”.
Não fosse assim a Filosofia não
seria considerada a mãe de todas as ciências. O que move o espírito amante do
saber é sempre aquilo que ele ignora. Daí a razão de todas as descobertas: a
ignorância.
Daí, talvez e também, a razão pela
qual quando pessoas afirmam por demais suas convicções usando muitas vezes de
forma bélica, as nomeamos como ignorantes.
Outra máxima filosófica (não tenho
a autoria, isto é, não sei quem foi o autor) provoca: “A mentira tem pernas
curtas.”.
Quero partir de ambas, da minha
ignorância e da máxima da Verdade, e lofisofar.
Penso que a tese e estratégia de
defesa da Presidência da República podem ter sido formuladas de maneira
equivocada. Senão observemos, se alguém ainda reúne paz e ciência para tanto:
1.O processo do
impedimento está viciado já que conduzido por parlamentar que usou de vingança
mórbida além de desvio de finalidade e responsabilidade.
NOTA: É
como matar o emissário quando não se quer aceitar a mensagem. No caso pelo fato
de que o emissário estar mais sujo que pau de galinheiro (enunciado lofisófico) e ser unanimidade nacional.
Por outro lado negar os gritos de milhões bradados a partir de junho de 2013.
2. Trata-se de
um processo sem legitimidade, um atentado contra a Constituição, portanto um
Golpe.
NOTA: Até o
pobre do Francisco foi demandado e, como era de se esperar, sugeriu a harmonia
e a paz entre os brasileiros. Nada mais regular (chancelado pela Suprema Corte)
e pacífico do que as manifestações de todos nós ao longo do processo.
Comparações com 64 são tolas, ali o Congresso foi fechado, portanto o povo foi
tirado do processo.
3.Não ocorreu
crime de responsabilidade. Aceitar que tenha ocorrido é, necessariamente,
condenar a todos os governantes que também o praticaram. NOTA: Não é possível
que sejamos todos ignorantes (latu sensu) e não entendermos minimamente que,
fosse assim, poderia eu justificar a justa razão de meus crimes por que outros
também as tiveram. Aliás, é exatamente por isto que clama a sociedade: quando
da ocorrência de crime, que todos sejam punidos com o rigor da Lei.
4.A
presidente é uma mulher honesta.
NOTA: Mesmo
que seja, porque pairam dúvidas, ela não está sendo julgada por conduta moral,
mas por prática delituosa prevista em Lei.
5.O
vice-presidente é um oportunista, traidor.
NOTA: Mesmo
que boa parte de nós não ignoremos esta possibilidade, ele teria sido escolhido
para ocupar a chapa e ajudar a vencer as eleições. Há outro problema: a
Constituição Federal assim o determina.
Juro que não volto a este assunto. Formulei aqui apenas para
recomendar aos filósofos e estrategistas da presidente - sim porque ainda ela o
é senão não teria moradia, transporte, alimentação, plano de saúde e outros benefícios
- melhor que mudem para a elucidação dos fatos.
Por exemplo, entre tantos outros:
1.Reconhecer
que ocorreram equívocos sérios como a expressiva desoneração fiscal que
transferiu recursos vultosos de empresas transnacionais para os seus países de
origem;
2.Reconhecer
que a expansão de crédito criou bolha de consumo fictícia muito para além da
capacidade de pagamento de seus tomadores;
3.Reconhecer
a negligência com os fragrantes desvios nas empresas públicas e na contratação
de obras de infraestrutura, especialmente aquelas destinadas à realização da
Copa do Mundo, diga-se de passagem, algumas até hoje inacabadas ou, pelo menos
uma aqui em BH que desabou transformando R$460 milhões em pó;
4.Aceitar que
omitiu da sociedade, por ocasião do período eleitoral, a verdadeira situação
das finanças públicas;
5.Justificar que
a necessidade de investir de maneira maciça em programas de alto impacto social
se deu com vistas a manter o projeto político de defesa aos mais necessitados e,
portanto, para vencer as eleições de 2014;
6.Reconhecer
que, tendo perdido base de sustentação parlamentar, não tiveram condições e nem
competência para vir à sociedade e denunciar o boicote ao governo com inúmeras
pautas-bombas que travaram todas as possibilidades de governança.
Como disse, juro que não volto a
este assunto, mesmo sabendo que mentir torna-nos cada vez mais ignorantes. Latu
sensu.
Dia para se guardar na memória. Dia
para se lamentar.
Vivemos processo que poderá
encontrar compreensão ao longo de pouco mais de cinco anos. O dia de hoje
resulta em algo que explode em junho de 2013 e que, provavelmente, encontrará
ápice em outubro de 2018.
Em junho de 2013 o povo foi para as
ruas empurrado por uma demanda específica (o preço das passagens de ônibus) que
alcançou eco e o transportou por um leque variado de outras demandas. Entre
estas o fim da corrupção e a reforma política.
No post ALVO de 13 de junho de 2013,
escrevi: “O esgotamento é de Modelo. Se
nos prendermos à essência e ao conjunto dos fatos, aqui e fora daqui, o que
observamos é a falência de algo muito maior e que nos sufoca. Nós construímos
um tempo de trevas envolto em celofane de cores púrpuras”.
Dali em diante não fomos os mesmos.
O país começa a ter interesse maior por si próprio. Não são as novelas, o
carnaval, o futebol, os BBBs, as Olímpiadas que preenchem as páginas das redes
sociais.
O país se propõe a ser outro.
Em inúmeras oportunidades país a
fora as manifestações populares empurram as suas demandas e surgem as condições
para que as suas ânsias comecem a ser atendidas. Centenas de pessoas, antes
invulneráveis e inimputáveis, são presas, julgadas e condenadas.
O país constrói seus heróis pela
justiça, pessoas, ainda que com brilhantismo e coragem, apenas cumprem com
suas obrigações e deveres.
Em 2014 o país se divide entre
aqueles que negam mais do que afirmam. Voto em Aécio por que não voto em
Lula/Dilma. Voto em Dilma por que não voto em Aécio. Nossa tragédia ainda era e
continua sendo a ausência de líderes legítimos que nos fazem colocar todas as
nossas esperanças.
Talvez por esta razão o resultado
das urnas não se consolida. E a sequência de equívocos empreendida pela eleita,
somada a avalanche de denúncias e prisões de corruptores e corrompidos, implica
em cartazes de FORA e BASTA.
O povo quer todos FORA. As
manifestações são conduzidas por entidades à margem dos partidos instituídos e
não contemplam, para não dizer que não permitem, a presença e os discursos de
políticos de qualquer matiz.
O país começa a se passar a limpo,
tendo como ícone a Operação Lavajato, que se assemelha àquela italiana dos idos
de 70, Mãos Limpas.
Não há infecção sem febre. As
paixões se exacerbam, as páginas dos noticiários e das redes sociais ocupam
mais espaço do que outros males e mazelas nacionais. Os homicídios perdem
espaço e também os vírus. Nem a maior tragédia natural da história nacional
permanece à tona.
O país privilegia a política. TVs
de shopping, de bares e restaurantes, prendem espectadores de todas as classes
sociais em sessões plenárias das câmaras, das cortes, dos debates em jornais
televisivos.
A audiência é pelo país.
No dia de hoje o que se coloca fora
não é a governante e nem o PT, apenas. Sobretudo o que se coloca fora é um país
anterior a 2013, cujo povo permitiu e cumpliciou com algozes, vis,
incompetentes, nefastos governantes e abomináveis empresários.
Para lamentar o dia de hoje são os
nossos milhões de brasileiros que foram traídos no seu projeto de construção de
um país mais justo socialmente, íntegro e próspero. Pessoas de ilibada conduta,
brilhantes intelectuais e artistas, sindicalistas autênticos, líderes de
movimentos sociais, pessoas portadoras das melhores intenções, todas elas
usadas em um projeto conduzido por notórios gangsteres.
Muito ainda nos surpreenderá os
próximos acontecimentos. Minha esperança ativa é de que sigamos de forma
pacífica e rigorosamente dentro dos ditames da Lei.
Foi com este poeminha que abri o blog há exatos cinco anos. O post de
hoje é o 935º. Despalavrei à beça, mas com toda a certeza não tirei tudo de que
é possível. Só escrevo por força de comichão que me acomete. Não fosse por isto
eu seria normal.
Inúmeras vezes tentei me curar, parar de vez com esta compulsão, e olha
que não foram poucas as sinalizações para que eu nunca mais voltasse à post.
Permaneci e, pior, hoje é como meu comprimido que tomo diariamente face à
retirada da tireoide, uma obrigação. Sempre que termino um texto rejubilizo-me.
O que escrevi nos oito de maio de cada ano passado que gostaria de
destacar? A seguir fragmentos dos posts editados na data.
2012
- Eu já tô prontinha, peguei o
creminho, repelente e pus tudo dentro da mochila. Já tô de casaco e com o tênis
de luzinhas... Vai ser legal, num vai?
(Eu começava neste dia a escrever uma série de diálogos hipotéticos com
minha netinha Liz que nasceria em 01 de agosto. O post de 08.05.2012 abria uma
série que relatava nossa viagem de balão à lua).
2013
Dei de Pelé e de Macalé nos meus
posts, alguns em jogadas brilhantes e outros que envergonham a qualquer atleta
das letras. Joguei meu jogo, no entanto. Destilei meu mais amargo fel aos
abomináveis seres que conosco convivem e, por vezes, nos sugam como verdugos
nossa mais cândida esperança.
Escrevi.
2014
Recolhimento, a palavra que deveria
intitular este post.Já passou da hora deste blog prestar algum
serviço a seus leitores. 549 textos depois, não posso continuar em abordagens
que não acrescentam nem ao espírito, nem à cultura e muito menos a qualquer
aspecto que melhore a vida das pessoas que acessaram esta página.
É verdade que nunca prometi nada a
ninguém. Sempre deixei claro que os posts são mais catárticos do que qualquer
outra coisa. Mas, no fundo, prá mim está ficando incômodo o fato de eu trazer
questionamentos que não são do interesse de ninguém.
2015
Escrevi em todos os lugares por
onde andei e em todas as horas. Banheiros de bares, públicos, ônibus de
turismo, aviões, quartos de hotéis, restaurantes, durante reuniões de trabalho
e em intervalos destas, em saguões de espera em aeroportos, freneticamente
sempre em uma dimensão de forma que fosse suficiente para dar conta da ideia
que fluía. Em minhas casas, em casas de outros. Pela manhã, à tarde, à noite e
pelas madrugadas.
Quais foram, em minha opinião, os
posts mais significativos? Eu não tenho dúvida. Foram aqueles editados no dia
de nascimento de cada um de meus netos.
LIZ
Vou dizer o que é alegria.
Ela pesa 2,960 quilos, mede perto
de quarenta e poucos centímetros, cabelos escuros, coradinha.
E se chama Liz.
VALENTIN
Vou logo dizendo que alegria também
verte lágrima, porque não é pouca.
ANTÔNIO
Cada neto meu é personagem ativo de
uma proposta modesta, ainda que ideológica, de que o futuro precisa ser
reescrito e uma criança que nasce renova os mais profundos desejos de que algo
verdadeiramente aconteça para que tempos melhores sobrevenham.
HELENA
A gente não pode ver nascer sem ter
esperança. E é tudo que eu gostaria que se fortificasse com Helena.
Permitam-me trata-los assim aqueles
com os quais divido o pão simbólico da esperança em um mundo melhor. Um mundo
em que não seja caracterizado pelo profundo abismo de desigualdade social. Um
mundo em que seja possível a harmonia e a paz entre todos os homens de boa vontade.
Dirijo-me aos meus queridos
parentes e amigos com os quais tenho o privilégio do convívio mais íntimo e
restrito e também àqueles distantes por quem nutro um imenso respeito e
gratidão pelo gosto ao saber e à poesia.
Dirijo-me àqueles que pelo amor à
justiça, ao bem, à causa da superação humana, aos desvalidos, aos menos
favorecidos pela sorte, aos excluídos pela natureza de cor, opção sexual,
religiosa, enfim a todos aqueles apaixonados e íntegros na defesa dos mais
fracos e oprimidos.
Dirijo-me a todos aqueles com os
quais me assemelho.
Dirijo-me à Pretinha, minha filha,
que tem por força de seu dever de ofício na seara da saúde mental, convivido diariamente
em seu consultório com nossa tragédia social e que, também por força disto,
simpatizado com determinado alinhamento político.
Dirijo-me à Marilda Castanha, minha
vizinha, a Humberto Werneck, Chico Buarque de Holanda, Luiz Fernando Veríssimo,
Vladimir Safatle, Fabio Konder Comparato, Letícia Sabatella e a tantos outros
luminares da cultura, das artes, da filosofia, por quem nutro profundo respeito
e admiração intelectual.
Convido-os à reflexão. É imperiosa
e inadiável a tarefa de reconhecer que fomos traídos por algumas pessoas que se
apropriando de nossos ideários e discursos, recebedores de nossa irrestrita
confiança expressa em nosso maior valor democrático - o voto soberano –
denegriram e violentaram nossos maiores sonhos de mudança.
É preciso extirpa-los para que com
eles não se percam os nossos ideais revolucionários. Estes que mancharam, por
interesses escusos e inconfessáveis, que nos fizeram de escudo pela nossa
lisura e paixão desmedida para se locupletarem em ganhos advindos de vergonhosa
e imunda trapaça.
É preciso deixa-los a mercê de seus
crimes hediondos, bani-los da História, sob pena de perder com eles a chama da
defesa de nossos ideais mais nobres. Apesar de favorecer circunstancialmente aos
oportunistas de plantão, que lentamente também serão julgados, vamos recuperar
de vez nossa fé e determinação na luta que sempre pautou o nosso espírito.
É preciso fazer compreender àqueles
que se deixam levar pela avalanche do que negam o que está verdadeiramente em
jogo. Não podemos no afã de defender lideranças espúrias, condenar nossas
instituições pelas quais tanto trabalhamos e que precisamos dar crédito e fortalecer.
É hora da razão, do equilíbrio, da
serenidade e da vigilância. Somos todos protagonistas de uma nova realidade
brasileira, e precisamos confiar que vamos tirar desta amarga experiência uma
lição definitiva.
Os fatores que outrora marcaram
nossa conduta política caducaram. A ideologia de que somos condenados a ser por
força do imperialismo americano ou bestializados por uma mídia programática
tornou-se ridícula, patrocinada por delirantes.
Não vamos nos pautar pela tensão e
imediatismo, vamos seguir na defesa das instituições, nos preceitos
constitucionais e no império da Lei, rechaçando práxis que com o exclusivo interesse
de vitimá-las as colocam em questão.
Hoje o que faz opinião e determina
o curso dos fatos são as redes sociais trazidas à tona por uma juventude que
nega mecanismos de opressão e deslavada mentira.
Nossos jovens estão ocupando o que
é, por direito e conquistas, nosso. Nossas escolas, nossas casas legislativas,
nossa causa.
Vamos ombrear pelo que está por vir
e lutar sim por um tempo em que jamais sejamos traídos de forma tão cruel como
fomos por estes que precisam passar seu ocaso no cárcere.
Vamos conduzir nossa conduta com
faróis altos, com uma visão de longo prazo, já que não é uma tarefa para anos,
mas para décadas. Mas vamos continuar agora.