Senhora Dilma Vana Rousseff,
Sou cidadão brasileiro, três filhos
e, daqui alguns dias, avô de Helena que junto com Liz, Valentin e Antônio
constituem a minha herança sanguínea.
Dirijo-me a senhora com o propósito
exclusivo de contribuir com algumas ponderações sobre as quais eu apreciaria
muito que fizesse profunda reflexão.
Quis a História colocá-la, depois
de vivermos o mais longo período de experiência democrática, diante de um dos
momentos mais expressivos para a consolidação e preservação de nossas
conquistas.
E a senhora foi e é personagem que,
independentemente do juízo que possamos fazer, de movimentos que nos trouxeram
aos tempos que vivemos hoje de absoluta liberdade de opinião, expressão e
escolhas.
Eu queria agradecê-la por isto.
No entanto, permita-me divergir na
forma com que vem conduzindo o afã de preservar seu legítimo mandato, vontade
soberana de mais de 54 milhões de brasileiros.
Nada mais antidemocrático do que
trazer para si a propriedade da luta democrática. A exclusão de todos os demais
da cena da disputa sinaliza uma perspectiva totalitária. A senhora sabe e
conhece como ninguém do que estou falando: o arbítrio.
Não me parece eficaz, para que
logre êxito em seu intento, a escolha de estratégia fundada na agressão aberta
aos seus adversários sob alegações que não se sustentam e não a ajudarão nada
em juízo. Antes pelo contrário. Mais do que com os seus adversários a senhora
precisa se ocupar com o país.
Sugiro à senhora que pense e
desenvolva outro encaminhamento. Apoio-me na tese de que não há substituto para
a verdade. E ela, toda ela, vista sob o prisma que lhe cabe, deve ser afinal
apresentada à Nação.
Quais foram as circunstâncias que
determinaram as suas decisões objeto das denúncias? Por que optou por seguir aqueles
procedimentos, quais eram os riscos potenciais em não fazê-lo, quais eram as
resistências que poderiam obstar os seus propósitos os quais, só posso crer,
estavam orientados ao melhor para o país.
Enfim, todos precisamos conhecer
aquilo que acontecia sob a sua ótica, sob a ótica do maior posto de governança
do país. E, em função das circunstâncias impostas, podermos avaliar a adequação
das medidas que foram tomadas.
Nos dê a chance de salvá-la,
compreendendo as suas motivações para o que fez. A mim importa menos o que está no
texto da Lei que poderá levar ao seu impedimento. O que me angustia é não
aprendermos nada com isto.
Tome-se da serenidade que usou no breve
discurso feito no dia de hoje na reunião da ONU. Abandone de vez a fala
flamejante utilizada, logo em seguida, nas entrevistas às agencias
internacionais de notícias. Quem a salvará não são as instituições
continentais, senão a mais objetiva, contundente e límpida verdade ao país.
Seja coerente com seus propósitos,
não amplifique as nossas dúvidas.
Quero muito acreditar na senhora e preciso
como todos nós brasileiros, passar a acreditar sob pena de perder
definitivamente a Esperança, já que a Vida não me reservará, por força do tempo
que já vivi, outros anos em que a História permita tamanha oportunidade a um
governante.
Dê a si um presente e, por
extensão, o maior que pode nos legar. Dê ao país um presente que nos
determinará, mais do que um futuro imediato, um futuro que sempre acreditamos
estar nos reservado.
Sua oportunidade é ímpar de entrar
para a História. Traga para si a revisão de seus atos, faça-nos através da
senhora, nos redimir dos nossos. Lave através da sua a nossa alma.
Penitencie-se para que cada um de nós possamos nos libertar de eventuais
condutas que, independentemente das razões, nos tornaram cúmplices de uma
tragédia.
Vá pessoalmente ao Senado, quando
da oportunidade lhe reservada de defesa. Faça silenciar o som ecoado de
panelaço - que inevitavelmente ocorrerá enquanto estiver falando - ao
apresentar as razões pelas quais tomou as decisões que lhe imputam agora como
indevidas.
Seguramente não é uma tarefa fácil,
ela está reservada aos líderes que são capazes de fazer um corte histórico:
antes e depois de sua passagem.
Se não for pelos seus ideais revolucionários
de se tornar esta liderança que seja pelos seus netos.
Eles, como toda a Nação Brasileira
se orgulharão e a agradecerão para todo o sempre.
Quero que saiba que redigi também carta
ao senhor Michel Temer. Minha expectativa é a de que, um ou outro ao final,
tenham o senso de gravidade e possa reassumir a cadeira de presidente do país –
que está vazia - levando-o a novas perspectivas.
Esperançosamente,
Um cidadão.
É isso aí Agulhô. É muito bom ter alguém que fale por nós todas essas verdades e, especialmente, sentimentos. Estou retomando o gostinho de ser brasileiro.
ResponderExcluirBrigado, Julinho.
ExcluirVou postar sim, Agulhô. Achei sua carta, acima de tudo, humana, tocante.
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