sexta-feira, 22 de abril de 2016

"QUERIDA"



Senhora Dilma Vana Rousseff,

Sou cidadão brasileiro, três filhos e, daqui alguns dias, avô de Helena que junto com Liz, Valentin e Antônio constituem a minha herança sanguínea.

Dirijo-me a senhora com o propósito exclusivo de contribuir com algumas ponderações sobre as quais eu apreciaria muito que fizesse profunda reflexão.

Quis a História colocá-la, depois de vivermos o mais longo período de experiência democrática, diante de um dos momentos mais expressivos para a consolidação e preservação de nossas conquistas.

E a senhora foi e é personagem que, independentemente do juízo que possamos fazer, de movimentos que nos trouxeram aos tempos que vivemos hoje de absoluta liberdade de opinião, expressão e escolhas.

Eu queria agradecê-la por isto.

No entanto, permita-me divergir na forma com que vem conduzindo o afã de preservar seu legítimo mandato, vontade soberana de mais de 54 milhões de brasileiros.

Nada mais antidemocrático do que trazer para si a propriedade da luta democrática. A exclusão de todos os demais da cena da disputa sinaliza uma perspectiva totalitária. A senhora sabe e conhece como ninguém do que estou falando: o arbítrio.

Não me parece eficaz, para que logre êxito em seu intento, a escolha de estratégia fundada na agressão aberta aos seus adversários sob alegações que não se sustentam e não a ajudarão nada em juízo. Antes pelo contrário. Mais do que com os seus adversários a senhora precisa se ocupar com o país.

Sugiro à senhora que pense e desenvolva outro encaminhamento. Apoio-me na tese de que não há substituto para a verdade. E ela, toda ela, vista sob o prisma que lhe cabe, deve ser afinal apresentada à Nação.

Quais foram as circunstâncias que determinaram as suas decisões objeto das denúncias? Por que optou por seguir aqueles procedimentos, quais eram os riscos potenciais em não fazê-lo, quais eram as resistências que poderiam obstar os seus propósitos os quais, só posso crer, estavam orientados ao melhor para o país.

Enfim, todos precisamos conhecer aquilo que acontecia sob a sua ótica, sob a ótica do maior posto de governança do país. E, em função das circunstâncias impostas, podermos avaliar a adequação das medidas que foram tomadas.

Nos dê a chance de salvá-la, compreendendo as suas motivações para o que fez. A mim importa menos o que está no texto da Lei que poderá levar ao seu impedimento. O que me angustia é não aprendermos nada com isto.

Tome-se da serenidade que usou no breve discurso feito no dia de hoje na reunião da ONU. Abandone de vez a fala flamejante utilizada, logo em seguida, nas entrevistas às agencias internacionais de notícias. Quem a salvará não são as instituições continentais, senão a mais objetiva, contundente e límpida verdade ao país.

Seja coerente com seus propósitos, não amplifique as nossas dúvidas.

Quero muito acreditar na senhora e preciso como todos nós brasileiros, passar a acreditar sob pena de perder definitivamente a Esperança, já que a Vida não me reservará, por força do tempo que já vivi, outros anos em que a História permita tamanha oportunidade a um governante.

Dê a si um presente e, por extensão, o maior que pode nos legar. Dê ao país um presente que nos determinará, mais do que um futuro imediato, um futuro que sempre acreditamos estar nos reservado.

Sua oportunidade é ímpar de entrar para a História. Traga para si a revisão de seus atos, faça-nos através da senhora, nos redimir dos nossos. Lave através da sua a nossa alma. Penitencie-se para que cada um de nós possamos nos libertar de eventuais condutas que, independentemente das razões, nos tornaram cúmplices de uma tragédia.

Vá pessoalmente ao Senado, quando da oportunidade lhe reservada de defesa. Faça silenciar o som ecoado de panelaço - que inevitavelmente ocorrerá enquanto estiver falando - ao apresentar as razões pelas quais tomou as decisões que lhe imputam agora como indevidas.

Seguramente não é uma tarefa fácil, ela está reservada aos líderes que são capazes de fazer um corte histórico: antes e depois de sua passagem.

Se não for pelos seus ideais revolucionários de se tornar esta liderança que seja pelos seus netos.

Eles, como toda a Nação Brasileira se orgulharão e a agradecerão para todo o sempre.

Quero que saiba que redigi também carta ao senhor Michel Temer. Minha expectativa é a de que, um ou outro ao final, tenham o senso de gravidade e possa reassumir a cadeira de presidente do país – que está vazia - levando-o a novas perspectivas.

Esperançosamente,


Um cidadão.

3 comentários:

  1. É isso aí Agulhô. É muito bom ter alguém que fale por nós todas essas verdades e, especialmente, sentimentos. Estou retomando o gostinho de ser brasileiro.

    ResponderExcluir
  2. Vou postar sim, Agulhô. Achei sua carta, acima de tudo, humana, tocante.

    ResponderExcluir