segunda-feira, 25 de abril de 2016

CUSPAR



Diante dos episódios envolvendo cusparadas permito-me fazer uma “análise selvagem” ou, se preferirem, “viajar na maionese”.

“Podemos dizer que todos aqueles que têm alguma noção das descobertas da Psicanálise, mas não receberam a formação teórica e técnica necessária, fazem análise selvagem”. (Freud)

“Absurdo, bobeira, coisa sem sentido. Usado quando alguém fala alguma besteira sem tamanho.” (Viajar na Maionese para o DI - Dicionário Informal)

Recentemente foi comprovado, através de pesquisas, que quando ratos tinham as glândulas salivares extraídas, adoeciam mais de infecções e intoxicações, o que justifica plenamente o hábito mantido pela maioria dos animais de "lamber as feridas".

Este outro que estamos a cuspir não é este que está diante de nós, este por nós desconhecido com quem nos deparamos agora e que vimos por uma única vez sequer na vida.

Estamos a cuspir em uma representação trazida pela fala daquele que está diante de nós. Coxinha ou petralha representa algo com o qual não estamos dispostos a lidar, ou até mesmo intencionados a eliminar.

As expressões trazidas à linguagem corroboram com esta percepção. Toda representação se dá na perspectiva da deliberada vontade de excluir o outro: Fora Dilma, Fora PT, Golpe e assemelhados.

Em paralelo uma das palavras mais usadas tem sido DEMOCRACIA. O termo tem em sua base duas palavras gregas: DEMOS, que significa “povo, distrito” e KRATOS “domínio, poder”, o que nos traz o significado de “poder do povo” ou “governo do povo”.

Pois é, data vênia, permito-me: DEMO diz respeito à demônio, este outro que nos assola e, o pior, nos constitui como sujeitos. Estamos irremediavelmente sobre o domínio e o poder do outro. Lembrando que eu sou o outro do outro.

“O inferno são os outros.” (Jean Paul Sartre)

Uma das crueldades simbólicas da língua portuguesa é que ela nos grita quando a cada um nos nomeia: indivíDUO. Tudo em mim, portanto, acaba em DUAL. Eu só sou o que sou, porque há outro, senão quem seria?

“Eu sou porque me divirjo.” (João Guimarães Rosa)

Em tempos de liberdade escancarada, escrachada, quase libertina, nunca foi tão difícil estar com o outro. Hoje todos “podem” e se têm Poder são, outro. Encrenca pura essa tal de liberdade e especialmente sob a égide do império do outro.

É nesse outro quem me escarro. Essa pústula, esta ferida maldita e mau dita, que se interpõe com sua liberdade contundente e de direito revoltante.

“Nossa alma rejuvenescida mostrará sem pudor as suas qualidades puras. A Humanidade atual cresceu numa atmosfera de ódio febril, de falsos julgamentos que a envenenam. Entretanto, que se fortifique nela o hábito, não de odiar e amar, não de condenar ou inocentar, mas de compreender, e eis que uma humanidade totalmente inocente e sábia tomará o lugar de nossa velha raça maléfica, envenenada de ressentimentos por seus remorsos ilusórios.” (Friedrich Wilhelm Nietzsche)

Pois é, a Utopia está logo ali... Adiante.



Até breve.

Nenhum comentário:

Postar um comentário