Diante dos episódios envolvendo
cusparadas permito-me fazer uma “análise
selvagem” ou, se preferirem, “viajar
na maionese”.
“Podemos dizer que todos aqueles
que têm alguma noção das descobertas da Psicanálise, mas não receberam a
formação teórica e técnica necessária, fazem análise selvagem”. (Freud)
“Absurdo, bobeira, coisa sem
sentido. Usado quando alguém fala alguma besteira sem tamanho.” (Viajar na
Maionese para o DI - Dicionário Informal)
Recentemente foi comprovado,
através de pesquisas, que quando ratos tinham as glândulas salivares extraídas,
adoeciam mais de infecções e intoxicações, o que justifica plenamente o hábito mantido
pela maioria dos animais de "lamber as feridas".
Este outro que estamos a cuspir não
é este que está diante de nós, este por nós desconhecido com quem nos deparamos
agora e que vimos por uma única vez sequer na vida.
Estamos a cuspir em uma representação
trazida pela fala daquele que está diante de nós. Coxinha ou petralha
representa algo com o qual não estamos dispostos a lidar, ou até mesmo intencionados
a eliminar.
As expressões trazidas à linguagem
corroboram com esta percepção. Toda representação se dá na perspectiva da
deliberada vontade de excluir o outro: Fora Dilma, Fora PT, Golpe e
assemelhados.
Em paralelo uma das palavras mais
usadas tem sido DEMOCRACIA. O termo tem em sua base duas palavras gregas:
DEMOS, que significa “povo, distrito” e KRATOS “domínio, poder”, o que nos traz
o significado de “poder do povo” ou “governo do povo”.
Pois é, data vênia, permito-me:
DEMO diz respeito à demônio, este outro que nos assola e, o pior, nos constitui
como sujeitos. Estamos irremediavelmente sobre o domínio e o poder do outro.
Lembrando que eu sou o outro do outro.
“O inferno são os outros.” (Jean
Paul Sartre)
Uma das crueldades simbólicas da
língua portuguesa é que ela nos grita quando a cada um nos nomeia: indivíDUO. Tudo
em mim, portanto, acaba em DUAL. Eu só sou o que sou, porque há outro, senão
quem seria?
“Eu sou porque me divirjo.” (João
Guimarães Rosa)
Em tempos de liberdade escancarada,
escrachada, quase libertina, nunca foi tão difícil estar com o outro. Hoje
todos “podem” e se têm Poder são, outro. Encrenca pura essa tal de liberdade e
especialmente sob a égide do império do outro.
É nesse outro quem me escarro. Essa
pústula, esta ferida maldita e mau dita, que se interpõe com sua liberdade
contundente e de direito revoltante.
“Nossa alma rejuvenescida mostrará sem pudor as suas qualidades puras. A
Humanidade atual cresceu numa atmosfera de ódio febril, de falsos julgamentos
que a envenenam. Entretanto, que se fortifique nela o hábito, não de odiar e
amar, não de condenar ou inocentar, mas de compreender, e eis que uma
humanidade totalmente inocente e sábia tomará o lugar de nossa velha raça
maléfica, envenenada de ressentimentos por seus remorsos ilusórios.” (Friedrich
Wilhelm Nietzsche)
Pois é, a Utopia está logo ali...
Adiante.
Até breve.
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