Eu não vim ao mundo para satisfazer
às suas vontades e você não veio ao mundo para satisfazer as minhas. Assim, e
por isto, somos diferentes. Cada um, outro. Outro do Outro.
Toda relação humana sustenta-se a
partir desta máxima. Eu sou porque me
diverjo, já dizia João Guimarães Rosa em uma de suas veredas. Talvez resida
aqui também a maior existência objetiva da ideia de deus. Seria necessário
mesmo alguém que pudesse nos explicar ou concluir porque discordamos,
essencialmente e não somos todos iguais.
Deus teria nos criado à sua imagem
e semelhança, portanto, imperfeitos. Penso que foi o contrário, nós é que
inventamos a ideia de deus (que são muitos), o que também confirma a tese de
imperfeição.
Só que é bom que tenha sido assim.
Muito bem. Com viver, então, é
lidar com a diferença. Esta vivência se dá em três níveis: tolerância,
submetimento e submissão.
Nas relações mais superficiais ou
nas mais profundas eu devo tolerar o outro já que ele não está aqui para
responder a mim segundo os meus paradigmas, cultura, idioma, gostos,
convicções, tudo. De um simples cumprimento na rua a um desconhecido que não me
responde, a uma relação matrimonial de cinquenta anos. Tolerância.
Ocorre que quanto mais a relação se
intensifica, tanto no tempo quanto na proximidade, o um quer do outro mais do
que o outro pode/quer/deve dar a este um. E o contrário também, naturalmente,
se aplica.
Surge o submetimento. Exemplo: eu
não fumo e de repente uma pessoa com quem tenho muita intimidade começa a
fumar. Belo dia esta pessoa aproxima-se de mim, senta-se ao meu lado em um sofá
e, mesmo sabendo que eu tenho intolerância
a cigarro, solta baforadas de fumaça em minha direção. Algumas, mais cruéis: “Os incomodados é que se retirem.”. Eu,
ao contrário, permaneço submetido ao outro por uma vontade dele que me
indispõe. Submetimento.
Ocorre que quanto mais a relação se
intensifica ainda mais, tanto no tempo quanto na proximidade, o um quer do
outro mais do que o outro pode/quer/deve dar a este um. E o contrário também,
naturalmente, se aplica.
Surge a submissão. Exemplo: eu não
fumo e de repente uma pessoa com quem tenho muita intimidade começa a fumar.
Belo dia esta pessoa me liga no celular e me pede para passar na padaria e
comprar um maço de cigarros para ela. Eu saio de minha rota inicialmente
planejada, passo na padaria (tarefa que detesto) e compro não um maço, mas uma
embalagem com dez maços de cigarros. Com o meu dinheiro, diga-se de passagem.
Chego em casa e digo, gentil: “Olhe meu
bem, achei melhor comprar logo um pacote com dez”. Submissão.
Ao longo da vida é provável que
tenhamos nos submetido ou estado em situações de submissão. É da natureza das
relações. Embora a tolerância seja o nível mais presente, são naturais momentos
em que, em benefício da continuidade da relação, ocorra o submetimento e a
submissão.
A Submissão, como regra, é
patologia e deve ser evitada a todo custo. O Submetimento, como regra, é um
caminho para a submissão. A Tolerância, como regra, é o limite.
Portanto, olhe o balde.
Até breve.
Nenhum comentário:
Postar um comentário