segunda-feira, 4 de abril de 2016

ALTAAJUDA



Eu não vim ao mundo para satisfazer às suas vontades e você não veio ao mundo para satisfazer as minhas. Assim, e por isto, somos diferentes. Cada um, outro. Outro do Outro.

Toda relação humana sustenta-se a partir desta máxima. Eu sou porque me diverjo, já dizia João Guimarães Rosa em uma de suas veredas. Talvez resida aqui também a maior existência objetiva da ideia de deus. Seria necessário mesmo alguém que pudesse nos explicar ou concluir porque discordamos, essencialmente e não somos todos iguais.

Deus teria nos criado à sua imagem e semelhança, portanto, imperfeitos. Penso que foi o contrário, nós é que inventamos a ideia de deus (que são muitos), o que também confirma a tese de imperfeição.

Só que é bom que tenha sido assim.

Muito bem. Com viver, então, é lidar com a diferença. Esta vivência se dá em três níveis: tolerância, submetimento e submissão.

Nas relações mais superficiais ou nas mais profundas eu devo tolerar o outro já que ele não está aqui para responder a mim segundo os meus paradigmas, cultura, idioma, gostos, convicções, tudo. De um simples cumprimento na rua a um desconhecido que não me responde, a uma relação matrimonial de cinquenta anos. Tolerância.

Ocorre que quanto mais a relação se intensifica, tanto no tempo quanto na proximidade, o um quer do outro mais do que o outro pode/quer/deve dar a este um. E o contrário também, naturalmente, se aplica.

Surge o submetimento. Exemplo: eu não fumo e de repente uma pessoa com quem tenho muita intimidade começa a fumar. Belo dia esta pessoa aproxima-se de mim, senta-se ao meu lado em um sofá e, mesmo sabendo que eu tenho intolerância a cigarro, solta baforadas de fumaça em minha direção. Algumas, mais cruéis: “Os incomodados é que se retirem.”. Eu, ao contrário, permaneço submetido ao outro por uma vontade dele que me indispõe. Submetimento.

Ocorre que quanto mais a relação se intensifica ainda mais, tanto no tempo quanto na proximidade, o um quer do outro mais do que o outro pode/quer/deve dar a este um. E o contrário também, naturalmente, se aplica.

Surge a submissão. Exemplo: eu não fumo e de repente uma pessoa com quem tenho muita intimidade começa a fumar. Belo dia esta pessoa me liga no celular e me pede para passar na padaria e comprar um maço de cigarros para ela. Eu saio de minha rota inicialmente planejada, passo na padaria (tarefa que detesto) e compro não um maço, mas uma embalagem com dez maços de cigarros. Com o meu dinheiro, diga-se de passagem. Chego em casa e digo, gentil: “Olhe meu bem, achei melhor comprar logo um pacote com dez”. Submissão.

Ao longo da vida é provável que tenhamos nos submetido ou estado em situações de submissão. É da natureza das relações. Embora a tolerância seja o nível mais presente, são naturais momentos em que, em benefício da continuidade da relação, ocorra o submetimento e a submissão.

A Submissão, como regra, é patologia e deve ser evitada a todo custo. O Submetimento, como regra, é um caminho para a submissão. A Tolerância, como regra, é o limite.

Portanto, olhe o balde.



Até breve.

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