sábado, 30 de abril de 2016

ABRIL









Uma quarta vez, em tese, carrega em si algo das três anteriores. Pois é, nem sempre.

Noninha foi a primeira e arrebatou. Depois Tin e foi o máximo. Em seguida, Antônio, outra alegria desmedida.

Helena, que chegou hoje, não foi nada disso. Foi igual, mas muito.

Ela nasce quando o vovô sente os músculos tensos, aqueles que movimentam coração e mente. Um amigo disse e é o que sinto: uma tremenda responsabilidade.

Legado.

A gente não pode ver nascer sem ter esperança. E é tudo que eu gostaria que se fortificasse com Helena.

Uma esperança ativa.

Desejo muito que se dissipe o ódio, que a harmonia se restaure na convivência entre os contrários.

Que o respeito possa ser fundamento das relações, que a compreensão possa determinar as escutas.

Quero muito que Helena receba um lugar melhor, propício ao seu desenvolvimento e que, fruto de seu esforço e trabalho, venha a realizar os seus mais caros sonhos.

Quero muito apelar aos mais próximos e mesmo aos mais distantes: pensem duas vezes ou mil, antes de cometer algum ato que implique na impossibilidade de que Helenas sejam naturalmente felizes.



Até breve.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

CUSPAR



Diante dos episódios envolvendo cusparadas permito-me fazer uma “análise selvagem” ou, se preferirem, “viajar na maionese”.

“Podemos dizer que todos aqueles que têm alguma noção das descobertas da Psicanálise, mas não receberam a formação teórica e técnica necessária, fazem análise selvagem”. (Freud)

“Absurdo, bobeira, coisa sem sentido. Usado quando alguém fala alguma besteira sem tamanho.” (Viajar na Maionese para o DI - Dicionário Informal)

Recentemente foi comprovado, através de pesquisas, que quando ratos tinham as glândulas salivares extraídas, adoeciam mais de infecções e intoxicações, o que justifica plenamente o hábito mantido pela maioria dos animais de "lamber as feridas".

Este outro que estamos a cuspir não é este que está diante de nós, este por nós desconhecido com quem nos deparamos agora e que vimos por uma única vez sequer na vida.

Estamos a cuspir em uma representação trazida pela fala daquele que está diante de nós. Coxinha ou petralha representa algo com o qual não estamos dispostos a lidar, ou até mesmo intencionados a eliminar.

As expressões trazidas à linguagem corroboram com esta percepção. Toda representação se dá na perspectiva da deliberada vontade de excluir o outro: Fora Dilma, Fora PT, Golpe e assemelhados.

Em paralelo uma das palavras mais usadas tem sido DEMOCRACIA. O termo tem em sua base duas palavras gregas: DEMOS, que significa “povo, distrito” e KRATOS “domínio, poder”, o que nos traz o significado de “poder do povo” ou “governo do povo”.

Pois é, data vênia, permito-me: DEMO diz respeito à demônio, este outro que nos assola e, o pior, nos constitui como sujeitos. Estamos irremediavelmente sobre o domínio e o poder do outro. Lembrando que eu sou o outro do outro.

“O inferno são os outros.” (Jean Paul Sartre)

Uma das crueldades simbólicas da língua portuguesa é que ela nos grita quando a cada um nos nomeia: indivíDUO. Tudo em mim, portanto, acaba em DUAL. Eu só sou o que sou, porque há outro, senão quem seria?

“Eu sou porque me divirjo.” (João Guimarães Rosa)

Em tempos de liberdade escancarada, escrachada, quase libertina, nunca foi tão difícil estar com o outro. Hoje todos “podem” e se têm Poder são, outro. Encrenca pura essa tal de liberdade e especialmente sob a égide do império do outro.

É nesse outro quem me escarro. Essa pústula, esta ferida maldita e mau dita, que se interpõe com sua liberdade contundente e de direito revoltante.

“Nossa alma rejuvenescida mostrará sem pudor as suas qualidades puras. A Humanidade atual cresceu numa atmosfera de ódio febril, de falsos julgamentos que a envenenam. Entretanto, que se fortifique nela o hábito, não de odiar e amar, não de condenar ou inocentar, mas de compreender, e eis que uma humanidade totalmente inocente e sábia tomará o lugar de nossa velha raça maléfica, envenenada de ressentimentos por seus remorsos ilusórios.” (Friedrich Wilhelm Nietzsche)

Pois é, a Utopia está logo ali... Adiante.



Até breve.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

"QUERIDA"



Senhora Dilma Vana Rousseff,

Sou cidadão brasileiro, três filhos e, daqui alguns dias, avô de Helena que junto com Liz, Valentin e Antônio constituem a minha herança sanguínea.

Dirijo-me a senhora com o propósito exclusivo de contribuir com algumas ponderações sobre as quais eu apreciaria muito que fizesse profunda reflexão.

Quis a História colocá-la, depois de vivermos o mais longo período de experiência democrática, diante de um dos momentos mais expressivos para a consolidação e preservação de nossas conquistas.

E a senhora foi e é personagem que, independentemente do juízo que possamos fazer, de movimentos que nos trouxeram aos tempos que vivemos hoje de absoluta liberdade de opinião, expressão e escolhas.

Eu queria agradecê-la por isto.

No entanto, permita-me divergir na forma com que vem conduzindo o afã de preservar seu legítimo mandato, vontade soberana de mais de 54 milhões de brasileiros.

Nada mais antidemocrático do que trazer para si a propriedade da luta democrática. A exclusão de todos os demais da cena da disputa sinaliza uma perspectiva totalitária. A senhora sabe e conhece como ninguém do que estou falando: o arbítrio.

Não me parece eficaz, para que logre êxito em seu intento, a escolha de estratégia fundada na agressão aberta aos seus adversários sob alegações que não se sustentam e não a ajudarão nada em juízo. Antes pelo contrário. Mais do que com os seus adversários a senhora precisa se ocupar com o país.

Sugiro à senhora que pense e desenvolva outro encaminhamento. Apoio-me na tese de que não há substituto para a verdade. E ela, toda ela, vista sob o prisma que lhe cabe, deve ser afinal apresentada à Nação.

Quais foram as circunstâncias que determinaram as suas decisões objeto das denúncias? Por que optou por seguir aqueles procedimentos, quais eram os riscos potenciais em não fazê-lo, quais eram as resistências que poderiam obstar os seus propósitos os quais, só posso crer, estavam orientados ao melhor para o país.

Enfim, todos precisamos conhecer aquilo que acontecia sob a sua ótica, sob a ótica do maior posto de governança do país. E, em função das circunstâncias impostas, podermos avaliar a adequação das medidas que foram tomadas.

Nos dê a chance de salvá-la, compreendendo as suas motivações para o que fez. A mim importa menos o que está no texto da Lei que poderá levar ao seu impedimento. O que me angustia é não aprendermos nada com isto.

Tome-se da serenidade que usou no breve discurso feito no dia de hoje na reunião da ONU. Abandone de vez a fala flamejante utilizada, logo em seguida, nas entrevistas às agencias internacionais de notícias. Quem a salvará não são as instituições continentais, senão a mais objetiva, contundente e límpida verdade ao país.

Seja coerente com seus propósitos, não amplifique as nossas dúvidas.

Quero muito acreditar na senhora e preciso como todos nós brasileiros, passar a acreditar sob pena de perder definitivamente a Esperança, já que a Vida não me reservará, por força do tempo que já vivi, outros anos em que a História permita tamanha oportunidade a um governante.

Dê a si um presente e, por extensão, o maior que pode nos legar. Dê ao país um presente que nos determinará, mais do que um futuro imediato, um futuro que sempre acreditamos estar nos reservado.

Sua oportunidade é ímpar de entrar para a História. Traga para si a revisão de seus atos, faça-nos através da senhora, nos redimir dos nossos. Lave através da sua a nossa alma. Penitencie-se para que cada um de nós possamos nos libertar de eventuais condutas que, independentemente das razões, nos tornaram cúmplices de uma tragédia.

Vá pessoalmente ao Senado, quando da oportunidade lhe reservada de defesa. Faça silenciar o som ecoado de panelaço - que inevitavelmente ocorrerá enquanto estiver falando - ao apresentar as razões pelas quais tomou as decisões que lhe imputam agora como indevidas.

Seguramente não é uma tarefa fácil, ela está reservada aos líderes que são capazes de fazer um corte histórico: antes e depois de sua passagem.

Se não for pelos seus ideais revolucionários de se tornar esta liderança que seja pelos seus netos.

Eles, como toda a Nação Brasileira se orgulharão e a agradecerão para todo o sempre.

Quero que saiba que redigi também carta ao senhor Michel Temer. Minha expectativa é a de que, um ou outro ao final, tenham o senso de gravidade e possa reassumir a cadeira de presidente do país – que está vazia - levando-o a novas perspectivas.

Esperançosamente,


Um cidadão.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

EMERGÊNCIA



Caso a presidente discurse na ONU colocando que há um golpe em curso no país, como parece pretender, não serão necessárias as denúncias já feitas e encaminhadas. Apenas o que falar, se falar, será suficiente para dar elementos em juízo para levar ao seu impedimento.

Caso no seu discurso ela se diga indignada, mas que compreende a natureza da disputa democrática e que está com a consciência tranquila e que tem defesa bem fundamentada para demonstrar a sociedade que as denúncias são improcedentes e que acredita nas instituições que garantem a solidez da democracia brasileira, Dilma não só deixa o país com enorme credibilidade externa como alarga sobremaneira simpatia interna. Não será suficiente, se for procedente a denúncia, para evitar o seu impedimento, mas pelo menos não coroará (com o discurso na ONU) um dos maiores desastres que um governante pode legar ao seu país.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

DEMOCRACIA



Que me perdoe o Huguinho por eu não ter comparecido ao seu primeiro aniversário festejado no sábado. Inadmissível a falta, papai e mamãe ficam credores de atenção contra mim.

Que me perdoem Alice e Ana, que vieram à luz também no sábado. Papai e mamãe, da mesma forma, em dobro, ficam credores de atenção contra mim.

Que me perdoem Liz, Valentin e Antônio pela minha ausência.

É que, neste final de semana, desde quinta-feira, sexta-feira toda, passando por boa parte do sábado e praticamente todo o domingo eu me recolhi em Santa Luzia. Sozinho, focado nos acontecimentos em Brasília.

Valeu a pena acompanhar um dos maiores momentos da história do país. Dos debates e decisões na Suprema Corte até os debates e a decisão final na Câmara dos Deputados sobre o processo de admissibilidade das denúncias feitas contra a atual presidente.

Saio do retiro com uma imensa alegria. Vi nestes dias, com orgulho e satisfação, um espetáculo de democracia com exercício pleno de liberdade dos cidadãos e dos membros integrantes das instituições basilares da República.

Vi o Brasil comprometido consigo mesmo e explicitando sem reservas os seus interesses, desejos, expectativas, demandas, catarses, drenando seus espíritos, expurgando seus demônios, enfrentando seus inimigos, colidindo com seus adversários.

Pela TV em diferentes canais e nas redes sociais senti pulsando a cidadania e a alma brasileira em pleno gozo de algo que tantos outros povos ainda sonham: a liberdade de expressão e de escolha.

O “muro de contenção” construído na esplanada dos ministérios, medida tomada pelos órgãos de segurança dados os riscos de conflitos, acabou sendo palco de troca de flores, telefones sem fio, mural de manifestações, peça rota.

Em 24 capitais de estados da federação e em centenas de cidades as pessoas foram para as ruas gritarem palavras de ordem, cantarem músicas, hinos, ostentarem faixas, flâmulas, bonecos estilizados, máscaras numa festa nada carnavalesca. A alegria estava carregada de sentido e responsabilidade. Havia uma razão muito forte para estar ali.

Emocionante!

Na Suprema Corte uma extraordinária demonstração de maturidade institucional no julgamento dos recursos impetrados pela parte denunciada, competência técnica, respeito aos poderes, rigor nos trâmites, gestão do sentido de urgência.

Na Câmara dos Deputados quase cem horas de trabalho praticamente ininterruptas envolvendo, ao final do processo, todos os representantes escolhidos pelo povo, apenas dois (por motivos justificáveis) não puderam comparecer.

A Câmara dos Deputados escancarou o país, quase ao escândalo. Escândalo de liberdade e democracia. O Brasil se mostrou a nu. Tal como somos, escrachados, irônicos, caleidoscópico de todos os matizes.

Espetáculo para ser visto pelo mundo todo e comentado por correspondentes de várias agências internacionais de notícia. O mundo não é capaz de compreender na extensão o que se passa.

Nós somos ímpares.

Dez milhões de desempregados, quase dez por cento de perda do PIB nacional em dois anos, milhares de fábricas e pontos de comércio fechados, a maior crise econômico-financeira desde 1930, desigualdades sociais e culturais agudas, diferenças de credo, raça, opções sexuais, e nenhum ato de violência social.

Um espetáculo de cidadania.

Os discursos inflamados dos contendores no parlamento não ecoaram nas ruas traduzidos em vandalismos, agressões, danos à integridade física ou ao patrimônio. Um ou outro registro de pequenos empurra-empurra.  

A tarde deste domingo será inesquecível.

Uma sessão memorável do parlamento pela magistral condução do presidente da Casa, irretocável participação dos membros com belíssima demonstração de brasilidade.

A firmeza, inteligência, perspicácia e equilíbrio do presidente garantiram a evolução e conclusão dos trabalhos sem grandes tumultos o que poderia ocorrer face à gravidade do tema em questão.

A Câmara dos Deputados não é uma academia de notáveis, luminares, e nem de cientistas políticos, muito menos de polidos e respeitáveis intelectuais: a Câmara é a Casa do Povo e como tal se mostra por inteiro.

Nada mais explícito da nossa brasilidade que as manifestações quando dos votos: como somos diversos, plurais, imensos. A ordem escolhida e o processo de registro e apuração foi um primor.

Fiquei fascinado pela fisionomia, pelo sotaque, pelas peripécias e salamaleques no representante de cada estado e redescobri neles quão diversa e múltipla é a nossa gente.

Desnecessário lembrar que estamos falando de Homens, portanto de todos e de todos os caráteres. Nossas mazelas, nossas idiossincrasias, nossa ingenuidade, nossa pequenez intelectual, nossas paixões e ideologias, nossos quereres, nossas inconfessáveis faltas estavam ali representadas por mais de cinco centenas de pessoas.

Ouvi minhas falas em diferentes bocas, inclusive nas ofensas que gostaria de fazer a determinadas pessoas, especialmente ao presidente da Câmara: gangster, facínora, canalha, bandido, ladrão. Se eu o fizesse, jamais precederia meus palavrões com Vossa Excelência ou Presidente ou Sua Excelência.

Ocorre que a democracia sustenta-se em bases legais. E o pior: nem sempre o que imoral é ilegítimo. O Presidente da Câmara até que seja julgado, ocupa a Presidência da Casa e, por isto, ela deve ser respeitada. Ele mesmo, disse quando incitado a responder por que se manteve impassível diante dos insultos: “Quem está ali é o Presidente da Casa, não a minha pessoa”. Demonstração desta conduta é que ele se levantou e foi a outro microfone para declinar o seu voto.

Sou obrigado a reconhecer que se fosse outro, não tão bem preparado para a tarefa, provavelmente não teríamos o desfecho pacífico da sessão.

Poderia escrever mais, mas cansa quem lê. O que me parece importante é que as redes sociais já estampam as nossas opiniões e espelham novamente nossa brasilidade. A vida segue.

Saio deste final de semana com o meu coração embalado: “Sou brasileiro com muito orgulho e muito amor”.

A continuar assim vamos encontrar o nosso melhor caminho.



Até breve.

sábado, 16 de abril de 2016

DESTEMER



Senhor Michel Temer,

Sou cidadão brasileiro, três filhos e, em 10 ou quinze dias, avô de Helena que junto com Liz, Valentin e Antônio constituem a minha herança sanguínea.

Dirijo-me ao senhor considerando a hipótese provável que, por circunstâncias e designíos da História, o senhor venha a assumir o posto maior da República e, pelo que sei, com todo o respeito, sua bela esposa está grávida.

Faça nascer dela um filho Belo e, simbolicamente, rogo-lhe que, por ele, paterne a reconstrução de uma nova Nação Brasileira.

O lugar do Pai é o lugar da Lei.

Não acredito no senhor e preciso, como todos nós brasileiros, passar a acreditar sob pena de perder definitivamente a Esperança, já que a Vida não me reservará, por força do tempo que já vivi, outros anos em que a História permita tamanha oportunidade a um governante.

Faça uma autodelação premiada. Dê a si um presente e, por extensão, o maior que pode vir a dar ao filho que vai nascer. Dê ao país um presente que nos determinará, mais do que um futuro imediato, mas um futuro que sempre acreditamos estar nos reservado.

Sua oportunidade é ímpar de entrar para a História. Traga para si a revisão de seus atos, faça-nos através do senhor, nos redimir dos nossos. Lave através da sua a nossa alma. Penitencie-se para que cada um de nós possamos nos libertar de eventuais condutas que, independentemente das razões, nos tornaram cúmplices de uma tragédia.

Objetivamente, faça agora antes de assumir a Presidência da República, mais do que a composição politico partidária que venha a lhe garantir suposta governabilidade, mais do que a engenharia de ajustes da máquina pública reduzindo ministérios e a limpeza imperiosa que a Nação exige da corrupção cancerígena, mais do que equacionar de vez as contas econômico-financeiras.

Faça com que acreditemos no senhor e, para tanto, rogo-lhe encarecida e quase desesperadamente que, ainda que não possa determinar, solicite formal e publicamente a todas as instâncias de controle do país: Tribunal Superior Eleitoral, Ministério Público, Polícia Federal e Supremo Tribunal Federal que exponham de forma clara, contundente e definitiva a sua Ficha Limpa.

De pronto e analogamente, conclame aos seus correligionários mais próximos, especialmente ao atual Presidente da Câmara e ao atual Presidente do Senado, que tomem a mesma atitude como condição determinante para que o senhor venha a assumir a Presidência da República.

A partir dai que seja a prática para a composição de sua estrutura de governança, nos dê a crença de que ao seu redor estejam pessoas de ilibada conduta.

Posso imaginar quão grave e quase impossível ao senhor acolher o que lhe rogo, mas insisto. Se não lhe for mesmo factível nos dê a chance de fazê-lo. Tome para si como primeiro ato, imediatamente após a conclusão do, provável e ansiado por milhões de brasileiros, impedimento da atual Presidente da República, a instalação de Constituinte que terá como fim restrito e precípuo a reforma político partidária.

Esta Constituinte deverá ser eleita pelo povo e formada por pessoas de conduta rigorosamente avalizada pelos órgãos de controle (TSE,MP,PF, STF) e que, jamais, tenham ocupado qualquer posição nos poderes Legislativo e Executivo de qualquer instância.

Na sequência que sejam sufragadas eleições gerais para Presidente da República, Governadores, Senadores e Deputados Federais.

Seguramente não é uma tarefa fácil, ela está reservada aos líderes que são capazes de fazer um corte histórico: antes e depois de sua passagem.

Se não for pela sua vaidade ou altivez de se tornar esta liderança que seja pelo seu filho que nascerá nos próximos meses.


Ele, como toda a Nação Brasileira se orgulhará e o agradecerá para todo o sempre.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

ENTRELINHAS



Acompanhei ontem as mais de sete horas da sessão extraordinária da Suprema Corte que analisou os processos impetrados relacionados à constitucionalidade do impedimento da presidente.

Serei pretensioso aqui. Ressalvas às minhas profundas restrições técnicas, confesso que estou extremamente satisfeito com tudo que vejo até aqui. A democracia é a convivência com o conflito. Pensar democraticamente é abrir-se ao contraditório. É largo o campo de manobra das instituições que protagonizam a cena política brasileira.

A sessão de ontem foi uma demonstração objetiva do grau de maturidade e competência com que as partes em litigio se posicionaram. Brilhantes o advogado da União assim como os mais altos juízes da República.

O clima de confronto democrático do mais alto nível, além de ter sido uma aula para leigos como eu, foi um bálsamo para alimentar a esperança nos próximos passos.

A democracia é, essencialmente, trabalhosa e, às vezes, desgastante. O tempo gasto no debate sobre a escolha do método para a votação no próximo dia 17 mereceria graves restrições, se não considerarmos a complexidade que reside no detalhe.

Extraordinária lentidão dos juízes para escolherem o seu voto. Brilhantes os apartes, as questões de ordem, os fundamentos. Como analista, minha escuta perpassa as entrelinhas e elas, a mim, tranquilizaram.

Quanto ao “muro” construído na capital da República é, em minha opinião, também uma demonstração de que a liberdade demanda ordem. A paixão da disputa deve ser contida em benefício da segurança dos contendores e da imagem interna e externa da Nação.

Na América, ícone democrática e de onde bebemos lições, as sessões da Suprema Corte são fechadas ao público. Santa decisão brasileira a de nos expormos à tarefa de participarmos ativamente daquilo que nos diz respeito diretamente.

Estou convencido de que estamos em condições de avançar e vamos dar demonstração para nós próprios e ao mundo que o Brasil tem chances de se encontrar e sair desta crise fortalecido e com uma jovem democracia pujante e altiva.


A Utopia está ali, alguns passos adiante!

Até breve.

quarta-feira, 13 de abril de 2016

PRISMA



Estou vivendo um impasse.

Então, sobre o que debruçar minhas linhas? Vinha alternando minhas intervenções aqui e no feicebuque. Na rede entrava na taimelaine de vários fazendo comentários, de preferência naqueles mais acirrados tanto pró quanto contra.

Aí me cansei. A ideia era de estar trocando ideias, mas falhou. A turma geral está muito exacerbada e, como eu estou poço de dúvida, achei melhor ficar só com as minhas certezas.

Só que eu não contava em ficar como se sem assunto para postar tanto aqui quanto lá. Deu branco e branca não tem sido a cor da moda atual.

Então fui assistir a um filme que não tem nada a ver com puslítica e dei em de onde eu te vejo.

De Onde Eu Te Vejo conta a história de amor de um casal através de sua separação. Em meio a uma São Paulo em constante mudança e efervescência cultural, Ana Lúcia e Fábio se separam após 20 anos de casamento e ele passa a viver no apartamento do outro lado da rua. Eles terão que aprender a viver a nova realidade - a separação, a crise no trabalho e a mudança de cidade da filha - e perceberão que no meio da confusão da vida moderna é possível reinventar uma nova forma de amar.

Pois é. No caso mais próximo e real, se for contar direito, fez 47 anos agora no dia 04.

Soube do filme no domingo pelo diretor Luiz Villaça e sua esposa há vinte anos (na vida real), Denise Fraga, que protagoniza a fita. Eles foram entrevistados no Metropolis da TV Cultura e pediram encarecidamente que os interessados a ver o filme o fizessem na primeira semana de exibição. A estreia foi na última quinta-feira.

Luiz e Denise disseram que se a bilheteria na primeira semana não for satisfatória o filme não emplaca a segunda. No cinema em que assisti havia mais cinco pessoas.

A mim a trama remeteu ao efêmero. Juca de Oliveira faz uma ponta em que seu personagem, dono do Cine Marabá na Avenida São João, que foi fechado diz: “De que instante significativo em sua vida você se lembra? Provavelmente de quando você deixava o cinema e saia direto na rua e não em uma praça de alimentação de um shopping. E então percebia que a trilha do filme não continuava. É normal que as coisas acabem.”.

A cidade desaparece com o tempo assim como a história das pessoas na belíssima fita.

Forçando um paralelo é incrível como nada mais significa. Lendo os comentários agora sobre o filme no Adoro Cinema lembrei-me daqueles postados no feice sobre puslítica.

Na semana que vem não passa.

Nem uma coisa e nem outra.



Até breve.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

AÇÃONISTAS



Somos acionistas de uma empresa chamada Brasil S/A cujo resultado esperado se traduz em saúde, educação, segurança, mobilidade, cultura, esporte, ecologia e otimização dos recursos naturais renováveis e fósseis, entre outros.

Nossas operações correntes demandam aporte de capital sistemático, na origem da demanda, no processamento e/ou na entrega do serviço. À preço de hoje o colégio total de acionistas do Brasil S/A investe 41,66% de seus recursos integralmente em uma estrutura e governança para a geração daqueles resultados.

Há décadas, para não dizer desde sempre, fomos - enquanto acionistas - omissos, relapsos ou, pior, incapazes de fazer valer nossos propósitos e/ou fomos corresponsáveis por gestões temerárias e/ou fraudulentas.

As últimas gestões passaram dos limites. Além da incompetência da gestão, nossos investimentos foram para o ralo via desvios de finalidade e enriquecimento ilícito de alguns dos nossos administradores e/ou delegados nas Assembleias de Acionistas.

Fôssemos contratar uma consultoria provavelmente, pós-diagnóstico breve, ela nos indicaria uma revisão drástica na modelagem de nossa estrutura e no conjunto de normas e procedimentos que determinariam como os diferentes órgãos dessa estrutura deveriam funcionar para a melhor performance e obtenção dos resultados desejados.

Seguramente, posso afirmar, a consultoria recomendaria uma revisão profunda nos quesitos e no processo de avaliação tanto dos administradores quando dos formuladores das diretrizes e políticas de administração da Brasil S/A.

Os acionistas já estão cansados de saber do diagnóstico, já há indicações da terapêutica a ser seguida, resta saber o que farão os acionistas para mudarem este estado de coisas.

Há vinte e seis anos, como consultor, padeço da angústia de recomendar a clientes em situação semelhante à do Brasil S/A e os vejo negligenciarem, procrastinarem ou mesmo questionarem as medidas mais do que óbvias que são recomendadas.

Desta experiência fico com uma máxima: “Os organizações não conseguem ser melhores que seus líderes.”.

Traduzindo: CONSTITUINTE JÁ e, em seguida, ELEIÇÕES GERAIS para todos os postos do Legislativo e do Executivo nas instâncias Federal, Estadual e Municipal. A Constituinte seria formada por pessoas de reputação e conduta ilibada e teria como objeto restrito a reforma político partidária e prazo estipulado para conclusão dos trabalhos. Na sequência ELEIÇÕES GERAIS para todos os postos do Legislativo e Executivo.

Sei que, como com alguns clientes, esta recomendação não será seguida. Para alguns tenho parodiado a propaganda: “O Ministério da Saúde adverte, fumar dá câncer.” E para outros, mais graves, tenho dito o que ouvi de um amigo médico brilhante: “Quando o desejo é de morte, nada pode salvar o paciente.”.



Até breve.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

ALTAAJUDA



Eu não vim ao mundo para satisfazer às suas vontades e você não veio ao mundo para satisfazer as minhas. Assim, e por isto, somos diferentes. Cada um, outro. Outro do Outro.

Toda relação humana sustenta-se a partir desta máxima. Eu sou porque me diverjo, já dizia João Guimarães Rosa em uma de suas veredas. Talvez resida aqui também a maior existência objetiva da ideia de deus. Seria necessário mesmo alguém que pudesse nos explicar ou concluir porque discordamos, essencialmente e não somos todos iguais.

Deus teria nos criado à sua imagem e semelhança, portanto, imperfeitos. Penso que foi o contrário, nós é que inventamos a ideia de deus (que são muitos), o que também confirma a tese de imperfeição.

Só que é bom que tenha sido assim.

Muito bem. Com viver, então, é lidar com a diferença. Esta vivência se dá em três níveis: tolerância, submetimento e submissão.

Nas relações mais superficiais ou nas mais profundas eu devo tolerar o outro já que ele não está aqui para responder a mim segundo os meus paradigmas, cultura, idioma, gostos, convicções, tudo. De um simples cumprimento na rua a um desconhecido que não me responde, a uma relação matrimonial de cinquenta anos. Tolerância.

Ocorre que quanto mais a relação se intensifica, tanto no tempo quanto na proximidade, o um quer do outro mais do que o outro pode/quer/deve dar a este um. E o contrário também, naturalmente, se aplica.

Surge o submetimento. Exemplo: eu não fumo e de repente uma pessoa com quem tenho muita intimidade começa a fumar. Belo dia esta pessoa aproxima-se de mim, senta-se ao meu lado em um sofá e, mesmo sabendo que eu tenho intolerância a cigarro, solta baforadas de fumaça em minha direção. Algumas, mais cruéis: “Os incomodados é que se retirem.”. Eu, ao contrário, permaneço submetido ao outro por uma vontade dele que me indispõe. Submetimento.

Ocorre que quanto mais a relação se intensifica ainda mais, tanto no tempo quanto na proximidade, o um quer do outro mais do que o outro pode/quer/deve dar a este um. E o contrário também, naturalmente, se aplica.

Surge a submissão. Exemplo: eu não fumo e de repente uma pessoa com quem tenho muita intimidade começa a fumar. Belo dia esta pessoa me liga no celular e me pede para passar na padaria e comprar um maço de cigarros para ela. Eu saio de minha rota inicialmente planejada, passo na padaria (tarefa que detesto) e compro não um maço, mas uma embalagem com dez maços de cigarros. Com o meu dinheiro, diga-se de passagem. Chego em casa e digo, gentil: “Olhe meu bem, achei melhor comprar logo um pacote com dez”. Submissão.

Ao longo da vida é provável que tenhamos nos submetido ou estado em situações de submissão. É da natureza das relações. Embora a tolerância seja o nível mais presente, são naturais momentos em que, em benefício da continuidade da relação, ocorra o submetimento e a submissão.

A Submissão, como regra, é patologia e deve ser evitada a todo custo. O Submetimento, como regra, é um caminho para a submissão. A Tolerância, como regra, é o limite.

Portanto, olhe o balde.



Até breve.

sexta-feira, 1 de abril de 2016

BARALHO



Estive ontem na sessão de autógrafos do livro recém-editado Memórias Embaralhadas de um amigo do tempo que perambulei pelos corredores e salas de aula da FAFICH. Escritor consagrado com prêmio recente em Bolonha seu texto faz parte de uma coletânea junto a outros treze escribas igualmente consagrados.

Boa parte do tempo que permaneci no evento, antes de obter do amigo a singela dedicatória em um dos exemplares – “Para o meu amigo, Agulhô, que sabe muito mais do que eu que a relva só existe porque existem as estrelas.”, conversei com algumas pessoas.

Sobre? Política, claro.

A esposa de meu amigo, intelectual de primeira estirpe, quis saber minha opinião sobre tudo. Outras pessoas na roda já haviam manifestado a sua opinião, todas muito abalizadas e consistentes e que me deixaram alguns pontos para reflexão.

O que você pensa do Lula? Se ela tivesse perguntado sobre eu mesmo não saberia responder. Como foi a respeito de um outro fica muito mais fácil arriscar um palpite.

Entrei por uma via da dúvida e argumentei que tendo me interessado sempre pela figura, e que, recentemente, minhas certezas tem se embaralhado. Neste momento estou com o enquadre classificatório bipolar de extremos: Lula é um revolucionário histórico ou Lula é um crápula/psicopata.

Portanto, um perigo.

Ressalvas às minhas mais rasas limitações, mas depois de ter assistido inúmeras falas, lido inúmeras entrevistas, escutado gravações e lido depoimento recente à PF comecei a supor estarmos diante de uma pessoa dessas que a História classifica como Mito. Lula quer mesmo fazer uma revolução como nunca antes na história deste país e acredita ser o único capaz de incendiá-lo se necessário for para atingir seu intento.

Seus propósitos estão muito para além daqueles que os simplórios membros da elite o acusam: enriquecimento ilícito, tríplex, sítios, obras de arte, tranqueiras e outras coisas do gênero. Lula se enriquece pelo gosto messiânico de levar ao seu povo um voto de esperança, de dignidade, restaurando e “consertando” sua miséria infantil.

Quando Lula fala sua voz ecoa as vísceras e ao coração do homem do povo. Ninguém neste país tem essa extraordinária capacidade de mobilizar as massas e, também por isto, às pessoas mais sensíveis e intelectualmente capazes que, como ele, desejam fazer diferença neste mundo.

Lula não quer a materialidade mundana que o capitalismo outorga. Lula quer a glória da redenção, da dignidade, da erradicação da fome e da miséria. Lula quer ser um Padim Padre Cícero. Um Antônio Conselheiro. Um Guevara. Um cristo.

“Ninguém tem alma mais pura do que eu”.

Ou:

Lula é uma inteligência prodigiosa a serviço de Maquiavel. Por tudo que o pudesse caracterizar como um enviado ele, ao contrário, é um crápula, inescrupuloso que para se safar deixa amigos de longa data se lascar além de membros de sua própria família.

Lula é sórdido, calculista, capaz de compor com todo tipo de caráter para atingir seus fins. Lula quer o Poder para fazer uso de suas mais inconfessáveis intenções.

E aí, Agulhô?

Gente, preciso ir embora, vou ali pegar o autógrafo com o Barretão. Beijo.



Até breve.