Delicado o avanço de Donald Trump.
Delicado o episódio da prisão do
diretor do Facebook.
Delicado o vídeo, que circula na
rede, do discurso do Deputado Bolsonaro na Comissão de Direitos Humanos da
Câmara Federal.
Sinais da complexidade do
contemporâneo.
Se optar pela virtualidade ou pelos
meios diversos de me comunicar perco deliberadamente minha
privacidade. Sejam os organismos que possibilitam os acessos ou os órgãos de
segurança do Estado, uns e outros sabem e tudo ou muito mais de mim.
Como de todos.
Não incluirei os criminosos, por
motivos óbvios. E nem, naturalmente, os excluídos (violenta redundância).
Nossa vida, nossas opiniões, nossos
sonhos, nossos textos, nossa poesia, nossas relações, nossos fazeres e dizeres
não são nossos.
Estamos todos enclausurados pela
liberdade. Todos podemos nos manifestar dada a prerrogativa do direito à
expressão conjugada à acessibilidade, portabilidade e instantaneidade facultadas pela tecnologia, e o processo é uma enxurrada de verbos e sintaxes cuja resultante
é nula.
Não há saberes, posto que não há
debate, reflexão, choque de opiniões, fundamentos.
Não há mistérios, segredos, e, por
conseguinte, não há verdades.
Tudo de tudo em tudo por tudo para
tudo e de todos são versões, delações, afetamentos.
Parece que a História perdeu senso,
equilíbrio, arquitetura e forma. A sociedade despirocou-se geral, mesmo que
seja um termo chulo e desacadêmico.
Há uma patologia pairando nos ares.
Aqui como acolá as réguas usadas para entender os fenômenos não servem mais.
Sempre soube que envelhecer é perder compreensão. É, para mim, falha a tese de
que quanto mais maduro mais sábio.
Ocorre que novo é de um tanto que
nem o novo o alcança. Daí a patologia.
Nunca e para sempre entendemos e
entenderemos. Só que agora, face às vertigens e à desordem, estamos expostos.
Esta provocação não se restringe a
alguma área especial da lida. Indiscriminadamente, estamos nus. As vestes nos
colocam os outros, para que cada um possa compor o seu próprio texto.
Estamos personagens de uma obra
maldita e mau dita, escrita por um autor que não existe, à moda de Pirandello e
dirigida por um Stanislavski.
E não me perguntem por quê.
Até breve.
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