No deserto estão secas as
pedras que no mar
se molhavam. A semelhança
confunde
o eremita que, solitário
demais, passou
o tempo entregando-se à
isolada memória.
Aqui a pedra seca, para o
eremita,
não perdeu a qualidade úmida
de poder ter estado ao pé do
mar.
Poética do Eremita de Fiama
Hasse P. Brandão
Duas ou três palavras para o A
Garota Dinamarquesa: oportuno, contundente, indispensável.
Do que trata o filme?
“Cinebiografia de Lili Elbe (Eddie Redmayne), que nasceu Einar Mogens
Wegener e foi a primeira pessoa a se submeter a uma cirurgia de mudança de
gênero. Em foco o relacionamento amoroso do pintor dinamarquês com Gerda
(Alicia Vikander) e sua descoberta como mulher.” Sinopse do
CINEMARK
“Em A Garota Dinamarquesa, Eddie Redmayne interpreta alguém
que não se vê no corpo de um homem. Ele é Einar Wegener, um pintor dinamarquês,
casado, de relativo sucesso, mas quer assumir sua identidade feminina.” Crítica de
Renato Hermesdorff no Adoro Cinema.
“Cinebiografia de Lili Elbe (Eddie Redmayne), que nasceu Einar
Mogens Wegener e foi uma das primeiras pessoas a se submeter a uma cirurgia de
redesignação sexual. Em foco o seu relacionamento amoroso com a pintora
dinamarquesa Gerda (Alicia Vikander) e sua descoberta como mulher quando sua
esposa pede para que ele pose para retratos femininos quando uma modelo falta
na década de 20.” Sinopse em Wikipédia.
O que seríamos sem a Arte,
especialmente sem a sétima, o cinema?
Fui arrebatado ao longo dos cento e
vinte minutos de projeção. E desde as primeiras cenas me coloquei a divagar
quão tem sido difícil ser. Quão difícil ser escolha, propósito, desejo, ideal.
Especialmente Humano.
O drama, e quer assim as sinopses
acima e a crítica de Renato, trata de algo específico que dá, sem dúvida, a dimensão
da complexidade do contemporâneo: a questão do gênero.
Eu quis ver mais do que isto. Eu
quis ver a questão do Humano em nós. Retornando do cinema fui ao encontro,
inadvertidamente, de Bauman em O Mal estar da pós-modernidade:
“A civilização se constrói sobre uma renúncia ao instinto. A civilização
impõe grandes sacrifícios à sexualidade e agressividade do homem. O anseio de
liberdade, portanto, é dirigido contra formas e exigências particulares da
civilização ou contra a civilização como um todo. E não pode ser de outra
maneira. Os prazeres da vida civilizada vêm num pacote fechado com os
sofrimentos, a satisfação com o mal estar, a submissão com a rebelião. A
civilização – a ordem imposta a uma humanidade naturalmente desordenada – é um
compromisso, uma troca continuamente reclamada e para sempre instigada a se
renegociar. O princípio de prazer está aí reduzido à medida do princípio de
realidade e as normas compreendem essa realidade que é a medida do realista. O
homem civilizado trocou um quinhão das suas possibilidades de felicidade por um
quinhão de segurança. Por mais justificadas e realistas que possam ser as
nossas tentativas de superar defeitos específicos das soluções de hoje, talvez
possamos também familiarizar-nos com a ideia de que há dificuldades inerentes à
natureza da civilização que não se submeterão a qualquer tentativa de reforma.”
Perdoem-me por ter contado o final
do filme e, também, por ter produzido um texto nada “fácil e delicioso” como diz uma “amiga feicebucana” serem os meus posts.
Até breve.
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