Concordo com a tese de que quem tem
certeza é porque está mal informado. Prefiro à dúvida ativa, isto é, aquela que
está permanentemente à busca da melhor verdade, entendida como aquela que nos
conforta e que fica mais próxima de nossa própria índole.
Tenho acompanhado em diferentes
fontes os últimos acontecimentos. Conversado com algumas pessoas de diferentes
tendências. Trocado mensagens e posts na rede social.
Ouvido gravações.
No mar de dúvidas, pinço algumas
poucas, talvez de agora quando escrevo este post. Ao concluí-lo é de todo
provável que inúmeras outras contribuam para aumentar ainda mais a minha turbulência.
É comovente ouvir alguns trechos
das gravações ou ler alguns momentos do depoimento do último dia 04 à Polícia
Federal. Lula, sim, estaria sendo vítima de uma perseguição implacável, título
do filme exibido pela Globo na noite da segunda-feira passada. Ele só não sabia
de nada do que se passava ao seu redor quando presidente, assim como depois no
Instituto Lula e em sua empresa de palestras. Nem do que acontece em casa, já
que Dona Marisa e seus filhos que cuidam de tudo que envolva dinheiro,
propriedades e “tranqueiras”. O depoimento do dia 04 comove por isto. Lula
estaria tão focado nos seus compromissos com o povo e com a sua causa que
jamais se ocupou com estas pequenas demandas do senso comum. Lula não sabe
quanto ganhou em palestras, quanto o Instituto arrecadou de contribuições e
muito menos de quem. Não sabe nada de recursos de campanha, nem quanto
empreiteiras ganharam com suas inúmeras visitas para abrir portas no mercado
internacional. Lula não sabe quando e nem quantas palestras fez pelo mundo
afora. Só sabe que fez muitas para despertar a vontade de crescer de seus
ouvintes. Não sabe exatamente quem são os sócios de seus filhos, o que fazem
suas empresas. Lula não se importa com nada do mundano. O que importa a ele é
dar uma vida melhor para os mais necessitados. Agora, diante da violência a que
está submetido ele se desperta da utopia e se vê acuado sem entender por que.
Lula é Lula por isto.
Ouvir nas gravações como Dilma,
Jacques Wagner e o seu amigo advogado o trata nos dá conta de que estão
conversando com um mito. Ele trata a todos de querido e Dilma o trata de
senhor.
Lula seria mesmo um líder acima das
ambições mundanas que, por isto teria cativado a tantos e também por isto teria
sido usado e abusado por pessoas que sordidamente o apunhalaram em diferentes e
inconfessáveis tramas?
A História e a ficção estão repletas
de dramas como este.
Em linha com a dúvida anterior
grande parte da mídia, de algumas correntes da elite, da intelectualidade e de
segmentos menos preparados da sociedade estariam por diferentes meios e modos
buscando derrubar esta liderança na medida em que a eles não interessa a
distribuição de riqueza para os menos favorecidos, para os excluídos, causa-mor
pela qual luta aquela liderança.
Existem sim inúmeras razões, fatos
e dados que possam corroborar com essa possibilidade. Tendo lido e ouvido boa
parte do material a disposição que envolve o tema, quando leio reportagens nos
principais jornais virtuais do país ou assisto à TV as matérias contemplam
cortes de edição os quais, fora do contexto em que afirmações foram feitas,
podem sim dar a versão orientada à intenção de criar uma realidade que não
condiz com a verdade dos fatos. Ontem, por exemplo, o repórter da Globo News
pergunta ao ex-presidente do STF, Carlos Veloso, como ele interpretava a
gravação de Dilma com Lula a respeito do Termo de Posse, quando o jurista
começa a responder diz que não pode falar como jurista, mas como cidadão há um
corte de áudio. O repórter pede desculpa ao telespectador e segue. Tudo bem que
às vezes acontecem problemas técnicos no padrão globo de qualidade, mas não
seria educado pedir desculpa ao iminente e ilustríssimo juiz? Fiquei com a sensação,
dúvida, se como o entrevistado estava indo numa linha que não interessava a
intenção, corte.
Outro exemplo: falando como cidadão
e não perito em escutas telefônicas, a mim me parece que há, na gravação da
conversa de Dilma com Lula a respeito do Termo de Posse, vozes de pessoas
anteriores à ligação da presidente para o ministro. Teria então o grampo sido
implantado no palácio e não no aparelho celular de lula (que na verdade é de um
“laranja”)? O grampo então é de ambiente e não de aparelho celular?
O Termo de Posse foi assinado
somente por Lula e foi assim porque a presidente assinaria quando no Ato de
Posse do Ministro. Na impossibilidade de comparecimento de Lula no Ato previsto
para hoje (Dona Marisa estaria doente demando cuidados do marido em SBC) Dilma
teria pedido para que ele assinasse o documento. É aceitável?
Por toda a liderança que tem e a
extraordinária capacidade de reunir contrários desde os tempos de portas de
fábricas, pela sua projeção internacional, pela sua ímpar astúcia como estadista
e, sobretudo, pela sua simpatia que o torna divino aos apaixonados e ferrenhos
seguidores, Lula é sim uma temeridade aos “poderosos da elite branca” e,
portanto, deve ser combatida?
Os governos do PT destruíram moral,
cívica, econômica e politicamente o país. Esfacelaram a economia, saquearam
estatais, aparelharam o Estado com uma teia cancerígena em sórdidas negociatas.
Cooptaram o empresariado, a classe política, promotores, magistrados, advogados
em uma estrutura com fins exclusivos de manter-se no poder a partir de uma
engenhosa e intricada malha criminosa.
Renúncia fiscal de bilhões de
reais, ilusão consumista pela expansão do crédito popular de acesso fácil e de
longa duração, pedaladas para fechar contas contrariando disposições legais
óbvias até aos leigos, propaganda enganosa de largo espectro, falsas promessas,
compromissos essenciais para a perspectiva econômica do país fraldados e/ou não
assumidos.
Concluo este post após assistir a
posse do presidente Lula diante de seus correligionários. Dilma expôs o
documento Termo de Posse, última peça-bomba do momento, com apenas a assinatura
de Lula. É o mesmo que foi levado pelo “Bessias” ontem, ou será outro
construído depois de todo o imbróglio?
Eu acho que não tenho dúvida: O PT
reassumiu o poder. Por quanto tempo? Eu tenho dúvidas.
Até breve.