Prá quem sabe de mim, sabe que eu
leio horóscopo todo dia pela manhã, bem cedo. Teve uma vez que eu não li e na
hora do almoço escapei, por sorte, de um acidente automobilístico. Pois não é
que naquele dia o horóscopo contemplava a recomendação para que eu tivesse
cuidado, especialmente no início da tarde.
Dai em diante passei a ler mais de
um, esperando com isso cobrir o maior espectro do que preveem os astros.
O que mais curto é o do Oscar Quiroga,
do Estadão. Quase sempre ele dá umas cutucadas legais aos moldes de autoajuda
panfletária. Como só levo a sério a necessidade de alargar horrores, mais um
menos um não vai mudar muito.
O Quiroga hoje parece que leu mesmo
os astros que me governam. A maioria das pessoas que, acho, nutrem por mim algum
afeto veem me dizendo para largar mão da crítica e tocar a vida, inclusive com
poesia. Se alguém pegar a ler os últimos posts vão ver isto nitidamente.
Tem até comentário de leitor
anônimo sugerindo que eu escreva um post, entendi eu, baseado no Mito da Caverna, de Platão.
Vejam então que lógica Quiroga viu
nos astros para o hoje:
“Tua luta precisa deixar de ser contra algo, alguém ou contra as
adversidades, pois, enquanto continuares a lutar contra, continuarás também a
depender de teus eventuais e sempre mutáveis adversários para existir e,
inadvertidamente, os alimentarás com tuas atitudes, já que terás te tornado
dependente desses. Decide mudar o foco, em primeiro lugar há de vir essa
atitude, a decisão de mudar o foco e, em vez de lutar contra, passar a lutar a
favor de tuas visões de bem-estar e vida cheia de qualidades. Assim, minuto a
minuto e a cada dia tua existência deixará de ser uma tragédia cujo fim está
escrito desde o começo e se tornará uma poesia, não por ser uma ode ao prazer,
mas porque tu levitarás sobre todas as circunstâncias, tanto sobre as adversas
quanto as favoráveis também.”
Meu delírio não é pouco. Esse cara
escreveu no Estadão, hoje, para mim. Sete bilhões e tantos infelizes sobre o
planeta e eu fico achando que isto foi escrito para mim.
Só que ontem, o mago deixou que eu
convivesse com:
“Ao apegar-te às construções mentais que validam teu sofrimento,
inadvertidamente tu valorizas tanto esse estado sofredor, e ao mesmo tempo isso
é tão bizarro, que para tua alma não parecer ridícula precisas, por isso, te
encerrar dentro, te ensimesmando. Assim perdes paulatinamente as conexões que
representam a própria experiência de viver, morres um pouco a cada conexão que
desfazes pelo próprio poder que tens de fazê-lo. Com esse mesmo poder tens
capacidade de desfazer essas desconexões. Começa então agora mesmo a te
reconectar, aproveita os períodos de Lua Vazia para te autorizar a experimentar
a despreocupação, a despeito de haver por aí milhões de acontecimentos que
normalmente te serviriam para nutrir o ensimesmamento. Não mereces sucumbir ao
medo, tu és maior do que ele.”
Muito bem, não bastasse o meu
doentio apego ao que me dizem os astros, tem o fato de eu dividir teto, cama,
TV, cinema, netos, e outros tais com uma psicanalista convicta.
E eu não posso vir a post e botar a
culpa nos satrápias? Ficar só falando de poemas concretos tipo Liz, Valentin e
Antônio? Então eu não posso sofrer, carambolas? E levar comigo um monte de
outros incautos?
Quem sabe os astros me reservem
mesmo esse carma? Até porque:
...
E onde pisas o chão, minha alma
salta
E ganha liberdade na amplidão
...
Encontrar a mais justa adequação
Tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e de viés. (*)
Viram? Tive que acabar com poesia.
E dos outros. Para dizer que não estou sozinho.
Até breve.
(*) Fragmento
da letra da canção QUERERES de Caetano Veloso.
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