Uma amigairmã, via WhatsApp acha
que eu não deveria estar cuidando de coisas desimportantes como a Política. Sugere
que eu poetize. Borde. Em respeito a ela - e por carinho - eu agulho
ponto-a-ponto a vida, e busco a verve.
Onde anda a poesia?
Poesia enquanto “fazer”,
“produzir”, “transformar”.
Resulta dos nossos quarenta e seis anos juntos (eu e minha quase sexyssagenária), até agora, três poemas. Em
abril/maio, desabrocha Helena, o quarto.
Nós os embarcamos, os três, na
camionete na sexta-feira, após o almoço, em direção à Santa Luzia, para ficarem
conosco até o entardecer do sábado, quando os pais viriam para busca-los.
Liz, Antônio e Valentin.
Às sete horas da noite estávamos ainda arruaçando na piscina. A estratégia é levá-los à exaustão para, quando baterem
na cama, adormecerem como anjos. Casinha de bonecas, pula-pula, gangorra,
escorregador, tintas e pincéis.
Ali a vida passa com um gosto
distinto.
Jantaram tudinho e se fartaram de
morangos. Entre oito e meia e nove e meia todos estavam cantando carneiros, em
sonhos.
Antônio e Valentin não precisaram
mais do que um boa-noite para entrar em alfa. Liz só desligou depois de quatro
estorinhas: Branca de Neve, a Bela Adormecida, Rapunzel e Chapeuzinho Vermelho.
Todas com versões próprias do avô alucinado.
- Cê tá inventando, vovô...
Entre seis e oito da manhã os
poemas estavam despertos para iluminarem o sábado.
Dedeiras, trocas de fraldas,
chinelinhos depois e, empoleirados em um carrinho, os levei próximo a nossa
casa à um sítio vizinho para alimentarem galinhas.
No trajeto: bom dia árvores, bom
dia lagoa, bom dia sol, bom dia passarinhos, bom dia flores, bom dia galinhas,
bom dia cachorros, bom dia rua, bom dia asfalto, bom dia buraco, bom dia
bueiro, bom dia meio-fio, estes últimos saudados pelo avô. E Liz:
- Esses num vale, né vovô?
Sábado, à tardinha, fiquei olhando
o carro levando Antônio a bordo – o último a nos deixar – descer a rampa que dá
acesso ao portão de nossa casa. Então, fui assaltado pelo comentário de minha
amigairmã.
- “Pelo amor de seus netinhos!!!”
Como Ricardo Darin, o ator-diretor
de cinema argentino, sou um sujeito feliz e poderia sim viver nessa redoma e
fazer poemas azuis.
Mas, se sou mesmo poeta, não me
emendo.
Nem por amor a uma amigairmã.
Até breve.
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