Todo final ou início de ano saem
listas.
A que eu aguardo com alguma
ansiedade é aquela que posiciona as fortunas mais expressivas do planeta. É que
tenho feito muito pouco para fazer parte dela e fico tenso para ver quanto
exatamente me distanciei.
Diz a tal lista que 62 pessoas tem
em seu patrimônio pessoal algo como outras 3,7 bilhões. Eu me revolto, entre
outros motivos, porque nunca sei em que posição fiquei no rol daquelas 3,7 ou
mesmo até fora dele, no do das outras 3,7 bilhões de pessoas vivas restantes sobre
o planeta.
É angustiante não saber em que
posição você se encontra.
Por exemplo, se eu estivesse em
primeiro, fosse esse Bill, eu sofreria bem menos. Bill, pelo menos, tem mais
elementos para saber como se comportar diante da constatação. Eu, não.
Vou sair às ruas olhando ao meu
redor com sérias preocupações. E este cidadão com quem eu cruzo, que lugar
ocupa no ranking? E aquela senhora, toda cheia de feitio, estará acima de minha
posição na lista? E aquele naquele carrão, é fatiota ou tem cacife para bancar
a estirpe?
Entenderam?
É muito ruim não saber exatamente
em que posição dos afortunados você se encontra. Facilitaria tudo sabê-lo. De
fundamento para uma eventual disputa em mesas de bares para distribuir
equitativamente o valor a pagar pela conta entre os comensais, até entrar em
juízo contra a prefeitura para defender uma cota-parte mais justa na guia do
IPTU no que se refere à taxa de coleta de lixo.
Mesmo que eu beba mais ou coma mais
numa saidinha ao bar, ou que produza mais lixo, não é justo que eu banque na mesma
proporção de alguém que ocupa uma posição superior à minha na lista.
Somaria com qualquer um que tomasse
a iniciativa de lutar por uma legislação global que obrigasse as instituições responsáveis
a publicarem a lista do primeiro ao 7.365.435º lugar no ranking.
Eu até admitiria desvio-padrão nos
relatórios. Ninguém exigiria absoluta exatidão na apropriação dos dados
classificatórios na medida em que, todos sabemos, que riqueza, especialmente a
financeira, está muito difícil de ser tangibilizada, ou seja, tem muita grana
virtual nas transações e muito iate circulando pelos mares carregados de notas
verdes.
Se vale o critério para os 62, que
valha para os 7.365.435 restantes, não parece razoável? São estas e outras
providências que os governos deveriam tomar no sentido de permitir uma
convivência melhor entre os povos tanto no ambiente interno quanto externo às
nações.
Depois, há outro benefício
incomensurável: o psicológico. Sabendo que eu ocupo o 4.376.825º lugar na lista
referente ao ano de 2015 eu poderia decidir, quando das minhas reflexões para
compor o meu plano de metas de 2016, se eu me proponho a galgar quantas
posições ou se eu vou ligar o foda-se e deixar o ter para depois.
Fica aqui minha modesta
contribuição ao debate sobre a desigualdade, debate este que não modificará, jamais
e em nada, a essência da perversão.
Até breve.
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