Pergunto-me porque escrevi,
contando com este, novecentos posts. O que leva a alguém escrever em um tempo
ou sobre um tempo em que nada acontece?
Um tempo sem sucedâneo. Em que nada
implica, acomete, modifica. Um tempo de repetição, sem sequência ou com sequência,
assim sem morfologia, amorfo.
Nada, nenhuma tragédia, nenhum
assassinato, nenhuma guerra, nenhuma fome, nem mesmo a agressão a paraísos
naturais, a monumentos milenares, nada, nada, nada faz com que algo de fato
sobre venha.
Como escrever em um tempo ou sobre
um tempo que não marca, um câncer que não mata? Como assistir a um desenrolar
de eventos como à uma novela cujos atores já se confundem com os personagens em
um Vale Tudo na mesma Selva de Pedra?
Nenhuma canção acomete e arrebata,
nenhum movimento de rua, nenhuma placa, nenhuma lágrima, nenhuma peça de arte,
nem filme, nem livro, um poema, nenhum dizer.
Por que escrever, então?
Um tempo em que o terror é contra a
Humanidade, como quer a lider alemã, depois de ver vitimados mais outros
cidadãos pátrios em solo estrangeiro, mortos por suicida. Nem mesmo algo contra
toda a Humanidade faz, implica, demove, modifica.
O tempo repete. Não há corte, a
História teria chegado mesmo ao seu fim e o que padecemos é o moto-contínuo do
tempo? Não viraremos a página? Nada mais acontecerá para que afinal o Humano
possa se dar?
Armadilhados por todo o
conhecimento disponível às nuvens, adoecidos pelas relações masturbatórias de
tela, sem pernas para ir aos comércios e aos afazeres, em casa, vivendo uma
solidão demoníaca.
Escrever sobre o quê?
A Ética? A Política? A Arte? A
Filosofia? A Tecnologia? A Cultura? O Amor? A Música?
Como? Se todas elas não mobilizam,
comovem, educam, convidam. Tudo se tornou, já disse Bauman(*), liquefeito, parvo,
frágil, sem consistência, mero, tênue, frágil.
A musculatura que sustenta o ser
escarnece. Nenhum choque é capaz de acordá-lo, nenhuma droga, nenhum evento do
cotidiano que signifique. Não há no tecido o intelectual, capaz de ordenar e
compor uma escrita que sustente um caminho.
Tudo é denúncia, inclusive meus
novecentos. E só denúncia.
Em que pese todos os elementos mais
do que favoráveis para o dizer, não há uma proposta que oriente, como se
estivéssemos mesmo adentrando um tempo sem propostas, sem utopias, um tempo sem
tempo.
Onde tudo ocorre e nada acontece.
Exceto, quando visualizo bem fundo
nos olhos de meus netos, um clamor agudo por um novo tempo.
(*) BAUMAN
- É pecado sonhar?
ResponderExcluir- Nao Capitu. Nunca foi.
- Entao pq essa divindade nos dá golpes tão fortes de realidade e parte nossos sonhos?
- Divindade nao destrói nossos sonhos,Capitu.Somos nós que ficamos esperando...ao invés de fazer acontecer.
Pois é... Quem sabe Machado e/ou Vandré nos faça fazer um corte?
ResponderExcluirObrigado pelo comentário.