Houve um momento recente de nossa
História em que tivemos que optar entre o medo e a esperança. Estávamos
entrando no mais longo período de “liberdade democrática” da nação – já se
foram 28 anos – e desenhávamos simbolicamente os destinos que queríamos para o
país.
Os que representavam o medo eram
essencialmente integrantes de uma elite apaniguada pelos mandatários,
retrógrados que ameaçavam deixar o país caso aquele que representava a
esperança viesse a ocupar o palácio do plano alto. Temiam que viesse um Estado
centralizado com orientações socialistas de confisco de propriedades,
redistribuição da riqueza financeira e de bens primários (como a terra).
Enfim, temia-se que houvesse uma
inversão na pirâmide.
Aqueles que tomaram apaixonadamente
a esperança abraçaram avenidas do contorno, praças públicas, monumentos
concretizando a ideia de unirem-se em prol de um país mais justo, íntegro e,
sobretudo próspero, para torná-lo de todos.
Intelectuais vitimados pela
barbárie da redentora de 64, artistas de todos os instrumentos, pessoas de bem
apostaram todas as suas fichas em sonhos perseguidos e esperados por décadas.
Muito de nós integrantes da elite,
fomos clandestinos às urnas, e colocamos nosso voto na esperança, temerosos de,
se descobertos, perderíamos o emprego, o cliente, o contrato. A gente queria
muito que algo acontecesse e fosse para melhor.
A esperança venceu o medo.
Dissipado o medo para onde a
esperança nos trouxe? Hoje todos temos medo e, boa parte de nós, estamos
desesperançados. Fomos traídos e vitimados por um leque explosivo de atos,
palavras e obras que corroeram patrimônios, projetos, imagem e nos colocaram
diante de um espelho que nos envergonha, inclusive externamente.
Medo e desesperança.
Atos desesperados de um projeto
político ensandecido para se perpetuar no poder, convidaram ontem parte da
elite para mais uma falácia. Noventa e duas pessoas tornadas “bobas” de uma
corte em frangalhos foram colocadas para parecer a quem interessar possa que
foi descoberta a saída.
Pelo amor de meus netinhos, chega!
Injetar R$83 bi na economia
extraídos da poupança pública é mais do que incompetência é a repetição de um
crime à luz da obviedade. Um dos maiores crimes cometidos pela administração
pública desde sempre foi a capacidade nefasta de produzir dívida pública,
jamais auditada, jamais verificada e permanentemente mantida, governos após
governos de todas as cores.
Pelo amor de meus netinhos, chega!
Crime contra o futuro, quando
querem nos fazer crer que o grande problema é a previdência social, que durante
décadas tem seus recursos desviados por burocratas expertos e políticos
corruptos. Boa parte do dinheiro poupado está na contabilidade de obras não
concluídas, em copas do mundo, em hospitais que nunca funcionarão, em escolas
depauperadas, em projetos que nunca se realizarão.
Crime contra a ingenuidade de um
povo pautado pelo desejo de alegria desmedida. Facultar a esse povo o saque
daquilo que, em tese, é o seu fundo de garantia, é cumpliciar com ele em um
suicídio consumista que jamais azeitará as engrenagens da economia.
Crime contra a verdade, porque é
translúcido o fato de que nenhuma contribuição provisória sobre debeladas movimentações
financeiras encontrará projetos que efetivamente garantam perspectivas. O país
está desgovernado.
Pelo amor de meus netinhos, chega!
Sei lá se até breve.