Os espanhóis fundaram Mendoza em
1650. Hoje a província conta com mais de 2 milhões de habitantes, sendo 200 mil
na própria cidade. Existem muitos espaços vazios para serem ocupados e
encontram-se casas de moradias mesmo na área central.
Foram índios descendentes dos incas
que escolheram este lugar para viver antes dos espanhóis. A região é toda
formada por solo de deserto com um índice pluviométrico de 200 a 250 ml por
ano.
Os índios plantaram toda a
vegetação usando água do degelo que percorre hoje a extensão de 500 quilômetros
de canais margeando as calçadas. O sistema de irrigação das inúmeras praças e
dos alargados parques da cidade é algo impressionante.
A distribuição destes pulmões foi
pensada a permitir condições de vida à população, face ao clima extremamente
seco com temperatura que excede a 35° C durante boa parte do ano e há períodos da
umidade do ar chegar a 0,0%.
Não bastassem as condições
climáticas mais do que adversas toda a região sofre abalos sísmicos diários
que, embora imperceptíveis, fazem parte de programas de escape da população. As
praças e parques além de pulmões servem como ponto de encontro da população
para onde se dirigem todos os elementos de segurança da cidade.
No mês de fevereiro a província é
vitimada por tormentas que precipitam pedras imensas de granizo destruindo
propriedades e lavouras, inclusive de extensos hectares de plantação de uvas e
azeitonas.
A coisa é tão brava que aviões
fazem voos sobre as nuvens lançando bombas para explodirem as camadas de gelo e
reduzir o tamanho das pedras que se precipitam para o solo. Lançadores de
mísseis também estão dispostos e são utilizados para o mesmo fim.
Tormentas como as de Mendoza
somente ocorrem em ilhas do Pacífico e na Groenlândia.
Há ainda os chamados ventos Sonda que
são arrasadores. Para minimizar o impacto dos mesmos a cidade plantou em
diferentes lugares álamos que servem como cortinas protetoras.
Resultado: a cidade é verde. De um
verde que nunca vi em nenhuma parte do mundo que já visitamos. Salgueiros
choram seus galhos, álamos e um sem número de outras espécies plantados em
intervalos de 5 a 6 metros de distância um do outro, enchem nossos olhos e
pulmões de uma beleza estética e de um ar agradabilíssimo.
A configuração do solo extremamente
árido foi o que permitiu o desenvolvimento da segunda riqueza econômica da
região: a cultura de uvas e azeitonas o que leva a cidade ser considerada a
Capital Internacional do Vinho. A primeira riqueza é petróleo e, a terceira,
turismo.
Das mil e trezentas vinícolas
existentes na Argentina, 920 estão espalhadas pela província de Mendoza.
Visitamos e degustamos espécimes da produção de três delas: Trapiche, SinFin e
Família Zuccardi.
Nada disso era para existir.
Em 1750 os espanhóis não aceitaram
o fato de uma de suas colônias estar produzindo uvas e azeitonas muito melhores
do que as suas e a Coroa determinou o corte de todas as plantações. Reza lenda
que uma índia teria resistido encobrindo algumas pequenas mudas debaixo de sua
ampla saia rodada.
Luzia, nosso guia no tour disse: “Saiam borrachos daqui, mas não percam de
vista que, quando destamparem uma garrafa de vinho está aí um trabalho, muito
esforço e muita paixão e arte de milhares de pessoas que trabalham ao longo de
todo um ano para produzirem sabores incomparáveis”.
Débora, filha do proprietário da
vinícola SinFin, quem ciceroneou nossa visita à bodega, nos apresentou um vinho
de seleção restrita, guarda de família, especialíssimo que leva a mistura de
cinco tipos de uvas.
O patriarca desenvolveu a raridade
porque cinco são seus filhos e que, na fala de Débora, completamente diferentes uns
dos outros. Eu perguntei a ela porque o nome SinFin e ela respondeu abrindo um
belíssimo sorriso:
- Papai quer que isto aqui permaneça para sempre.
Até breve.
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