domingo, 6 de dezembro de 2015

SEMFIM




Os espanhóis fundaram Mendoza em 1650. Hoje a província conta com mais de 2 milhões de habitantes, sendo 200 mil na própria cidade. Existem muitos espaços vazios para serem ocupados e encontram-se casas de moradias mesmo na área central.

Foram índios descendentes dos incas que escolheram este lugar para viver antes dos espanhóis. A região é toda formada por solo de deserto com um índice pluviométrico de 200 a 250 ml por ano.

Os índios plantaram toda a vegetação usando água do degelo que percorre hoje a extensão de 500 quilômetros de canais margeando as calçadas. O sistema de irrigação das inúmeras praças e dos alargados parques da cidade é algo impressionante.

A distribuição destes pulmões foi pensada a permitir condições de vida à população, face ao clima extremamente seco com temperatura que excede a 35° C durante boa parte do ano e há períodos da umidade do ar chegar a 0,0%.

Não bastassem as condições climáticas mais do que adversas toda a região sofre abalos sísmicos diários que, embora imperceptíveis, fazem parte de programas de escape da população. As praças e parques além de pulmões servem como ponto de encontro da população para onde se dirigem todos os elementos de segurança da cidade.

No mês de fevereiro a província é vitimada por tormentas que precipitam pedras imensas de granizo destruindo propriedades e lavouras, inclusive de extensos hectares de plantação de uvas e azeitonas.

A coisa é tão brava que aviões fazem voos sobre as nuvens lançando bombas para explodirem as camadas de gelo e reduzir o tamanho das pedras que se precipitam para o solo. Lançadores de mísseis também estão dispostos e são utilizados para o mesmo fim.

Tormentas como as de Mendoza somente ocorrem em ilhas do Pacífico e na Groenlândia.

Há ainda os chamados ventos Sonda que são arrasadores. Para minimizar o impacto dos mesmos a cidade plantou em diferentes lugares álamos que servem como cortinas protetoras.

Resultado: a cidade é verde. De um verde que nunca vi em nenhuma parte do mundo que já visitamos. Salgueiros choram seus galhos, álamos e um sem número de outras espécies plantados em intervalos de 5 a 6 metros de distância um do outro, enchem nossos olhos e pulmões de uma beleza estética e de um ar agradabilíssimo.

A configuração do solo extremamente árido foi o que permitiu o desenvolvimento da segunda riqueza econômica da região: a cultura de uvas e azeitonas o que leva a cidade ser considerada a Capital Internacional do Vinho. A primeira riqueza é petróleo e, a terceira, turismo.

Das mil e trezentas vinícolas existentes na Argentina, 920 estão espalhadas pela província de Mendoza. Visitamos e degustamos espécimes da produção de três delas: Trapiche, SinFin e Família Zuccardi.

Nada disso era para existir.

Em 1750 os espanhóis não aceitaram o fato de uma de suas colônias estar produzindo uvas e azeitonas muito melhores do que as suas e a Coroa determinou o corte de todas as plantações. Reza lenda que uma índia teria resistido encobrindo algumas pequenas mudas debaixo de sua ampla saia rodada.

Luzia, nosso guia no tour disse: “Saiam borrachos daqui, mas não percam de vista que, quando destamparem uma garrafa de vinho está aí um trabalho, muito esforço e muita paixão e arte de milhares de pessoas que trabalham ao longo de todo um ano para produzirem sabores incomparáveis”.

Débora, filha do proprietário da vinícola SinFin, quem ciceroneou nossa visita à bodega, nos apresentou um vinho de seleção restrita, guarda de família, especialíssimo que leva a mistura de cinco tipos de uvas.

O patriarca desenvolveu a raridade porque cinco são seus filhos e que, na fala de Débora, completamente diferentes uns dos outros. Eu perguntei a ela porque o nome SinFin e ela respondeu abrindo um belíssimo sorriso:

- Papai quer que isto aqui permaneça para sempre.




Até breve.

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