sábado, 5 de dezembro de 2015

QUARENTAS




Há exatos quarenta e seis anos e oito meses nos conhecemos na Praça Duque de Caxias, centro do meu querido Santa Teresa, bairro de minhas memórias fósseis, palco dos anos dourados de minhas mais do que extraordinária infância e deliciosa apaixonante juventude.

Juro, desde que a vi, naquele final de tarde de 04 de abril de 1969, senti que ali meu coração louco aportaria e fixaria âncoras eternas.

Ela tinha doze anos de idade e eu, dezessete. Ela era uma menina e eu um debilóide em formação. Entre esforços fortuitos de aproximação, em agosto de 1969, eu tentei roubar-lhe um beijo no lado esquerdo do seu rosto e Ela, desesperada, além de não consentir, escafedeu-se para dentro de casa dizendo que aquilo não era direito.

Somente no dia 07 de novembro daquele 1969, data escolhida cinco anos depois para o nosso noivado, é que pedi para namorar com ela.

Puxa, como foi gostosa a vida ao longo destes anos. Além de sonhar em mudar o mundo eu tinha, muito perto de mim, todo um sonho sonhado.

Ninguém convive quase cinquenta anos ininterruptos, ainda que com breves intervalos entrevéricos, sem experimentar todos os afetos humanos imagináveis. Todos, alguns mais intensos do que outros, mas padecemos e gozamos de todos os afetos que duas pessoas entrelaçadas por tantos anos de com vivência podem experimentar.

As contas talvez dão expressão à essa medida: 46 anos ou 552 meses ou 16.560 dias ou 397.440 horas ou 23.846.400 minutos ou 1.430.784.000 segundos.

A expressão em segundos é, para mim, a mais marcante. Foi no primeiro segundo que o meu olhar debruçou sobre Ela que nasceu a aliança que se renova a cada novo segundo.

A Vida nos privilegiou nos presenteando com três filhos adoráveis; Liz, Valentin e Antônio (nossos netinhos), estas dádivas além de Helena que virá à luz em abril do próximo ano.

Construímos casas, reformamos casas, mudamos 23 vezes de endereço, vivemos em três cidades. Edificamos com nosso gosto essencial. Talvez adormeceremos juntos em Santa Luzia no dia em que não nos for mais possível o gozo da existência.

Estivemos em diferentes países de três continentes, Américas, Europa e Ásia e temos ainda a má intenção de por nossos pés em Oceanias e Áfricas. Esta parte toda do filme creditada à Ela pelo seu desejo permanente de se deslocar.

Não foi um investimento pequeno, mas imenso o retorno. Minhas retinas, meus pulmões, meu coração, jamais seriam o que são não fossem essas viagens todas.

Fizemos poucos e indispensáveis amigos, contribuímos com o desenvolvimento de inúmeras pessoas eu enquanto professor e consultor e Ela em seu consultório de psicanálise.

Por tudo isto, aqui no espaço que compartilho público e aberto, quero fazer um louvor de agradecimento à Vida que, em um lapso de segundo, fez com que eu voltasse o meu olhar para Ela e selasse inexoravelmente o meu destino.

Meu muitíssimo obrigado à Vida, por esta Aliança.

Hoje completamos 40 anos de casados e desde quinta-feira estamos em Mendoza, Argentina. Nada acontece por acaso. Talvez o que mais expresse a nossa história seja vinho e tango.

Ontem jantamos em um restaurante e fomos presentados com o prazer de sorver à ambos. Hoje passaremos o dia de vinhos e sabores de Maipu e amanhã nos perderemos no Valle de Uco.




Até breve.

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