Fosse hoje 31 e eu fosse consultado
para que dissesse uma palavra que pudesse sintetizar o ano eu diria: LAVAGEM.
Dois mil e quinze será lembrado
como o ano em que mais se explicitou os diferentes ingredientes que compõem a
nutrição dos porcos que chafurdeiam em inúmeras pocilgas públicas e privadas
deste país.
Para quem, como eu que pode estar
se ocupando de acompanhar com atenção e interesse o que se passa, a universalização
em diferentes estâncias da administração pública com a cumplicidade da privada ou
vice-versa, fecha o ano com um sentimento de estarrecimento.
Não passei a saber de boa parte do
cardápio que integra o menu agora. Sempre tive presente que havia algo de podre
no reino. Aliás, não tenho o menor privilégio nisso. Todos, sempre soubemos e
dizíamos: o Brasil é assim.
Meu estarrecimento decorre de quão
torpe pode ser a natureza humana. Dois porcos empresários que administravam
dois hospitais públicos no Rio de Janeiro assaltaram em milhões de reais as já
débeis verbas através de superfaturamento de medicamentos deixando pacientes,
inclusive crianças, com sérios problemas de saúde e chegando até a dezenas de
óbitos.
Esse caso, em minha opinião, é
simbólico. Dá conta de como os porcos lameiam. E ele pode se estender a todos
os outros que estão sendo divulgados cotidianamente pela mídia.
A pergunta que tenho feito a mim
mesmo, até quando, é que não quer calar.
Noutro sentido para a mesma
palavra, dois mil e quinze será lembrado como o ano em que mais se explicitou
os diferentes mecanismos institucionais que compõem a possibilidade de assepsia
das pocilgas públicas e privadas deste país.
A Polícia Federal, o Ministério
Público, a Procuradoria Geral da União, o Supremo Tribunal Federal assumiram de
forma memorável suas ferramentas e dispositivos para invadir, tomar de assalto,
vigiar e punir exemplarmente e de maneira irrestrita diferentes espécimes da vara
(lembrando: vara é o coletivos de porcos).
É verdade que tudo tem trazido
consequências importantes, a lavagem da lavagem parou a dinâmica econômica o
que, notícias de hoje, acendem luz vermelha para os próximos três ou quatro
anos, na melhor das hipóteses.
A elevação de 0,25% dos juros
americanos pode sim levar a investidores saírem ou serem desestimulados a
continuar aplicando aqui. Somada à avaliação de país mau pagador pela segunda
agência de avaliação de riscos é suficiente para nos fazer tremer.
Eu não me lembro, ao final de cada
ano, ter lamentado o recesso do judiciário e do legislativo como estou
lamentando agora. Se bem que, na velocidade com que as coisas estão
acontecendo, mais dois dias pode fazer muita diferença. Quinta e sexta-feira
prometem.
Recebi hoje, pela manhã, via WhatsApp:
- Mas kd a mamãe e o papai da Branca
de Neve?
- Eles morreram filha...
- Mas onde eles estão?!!!
- Eles já morreram...
- Mas eles foram para onde?!!!
- Ah, acho que foram lá para o
céu...
- Mas que horas que a Branca de
Neve vai pegar a escada prá vê eles?
A ingenuidade de Noninha sempre me
faz recuperar a minha.
Até breve.
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