Há uma estória – ou será História? –
que se passa nos idos da ditadura.
A junta militar responsável pela
eleição do próximo Presidente da República encaminhava o processo eletivo do
general que deveria ocupar a posição.
Em reunião fechada, com a presença
dos militares elegíveis, ocorreu a varredura de vários quesitos que deveriam
servir à avaliação daquele a ser ungido. Próximo ao final das longas sessões de
trabalho, o coordenador da banca examinadora teria dito:
- O candidato tem que ser honesto!
Depois de alguns longos segundos de
um silêncio sepulcral alguém se manifesta:
- Serve Ernesto?
Teria sido assim a escolha do nosso
lendário e saudoso General Ernesto Geisel.
Ontem abrimos, pela segunda vez
depois daquele período de trevas, um processo de impedimento de um Presidente
da República, agora ungido pelo voto direto.
A presidente foi à TV dizer que tal
solicitação é descabida e o pedido inconsistente. Afirmou que não tem conta no
exterior, nunca desviou dinheiro público e negou outros pontos com o propósito
de dizer: eu sou honesta, portanto, devo continuar no cargo.
A fala é dirigida nitidamente
àquele que, institucionalmente, tem o poder para acatar ou não o pedido emanado
da sociedade de acordo com aquilo que prescreve a Constituição Federal.
Tudo que ela procurou negar, para
dizer-se honesta, foi com o intuito de dizer que o seu algoz não o é, visando descaracterizar
o pedido.
Entre os mais de trinta pedidos,
nunca antes na história da república foram encaminhados tantos, o Presidente da
Câmara dos Deputados optou por aquele que, em tese, encontra os elementos mais
substanciosos para justificar a abertura do processo.
Os doutores Miguel Reale Junior e
Hélio Bicudo foram os redatores principais da petição que, seguramente, vai ao
encontro do anseio de milhões de brasileiros.
A essência dos argumentos que
iluminou aos iminentes e mais do que testados juristas não tem cunho moral. O
que se coloca em questão ali não é se a presidente é ou não honesta. A questão
é se ela cometeu crime ou não e, portanto, deve ser impedida de permanecer no cargo.
O parecer unânime e inédito do TCU
reprovando a prestação de contas apresentados pelo governo deveria ser
suficiente para atestar que a principal mandatária cometeu sim crime de
responsabilidade, na medida em que usou de estratagemas ilícitos (pedaladas) para
fechar as contas da União. Fez isto ao longo do primeiro mandato e continuou a
fazê-lo em 2015.
Ontem o governo obteve uma vitória
em seu pleito de que fosse acatada a Meta Fiscal para o exercício de 2015. A
maioria dos parlamentares em uma demonstração de inteligência política e visão
de consequência aprovou a medida.
Trata-se, no entanto, de uma
vitória trágica. Ela vem confirmar de maneira quase inquestionável que,
diferente do que afirmava a presidente no período pré-eleitoral e ainda no
início de seu segundo mandato, o Brasil fechará o exercício com um rombo de
mais de R$100bi em suas contas.
Não fosse o processo que culminou
na aceitação do pedido de impedimento, eu quero crer, que o Crime de
Responsabilidade Fiscal continuaria a ser praticado pelo atual governo.
Sou a favor do afastamento da
Presidente da República não porque ela seja desonesta e/ou incompetente, sou
porque há uma lei que estabelece ser crime aquilo que ela praticou independentemente
das razões que possam vir a justificar os atos como quer o ex-presidente Lula,
quando argumentou em público que ela o fez não para subtrair para si, mas para
honrar os compromissos sociais, entre eles o Bolsa Família.
Os fins justificam os meios não é e
nunca será uma boa prática de um bom governo. Especialmente meios apontados em
lei estabelecidos como crime.
O pedido de impedimento da
presidente não foi endereçado à pessoa cuja conduta está sub judice na Comissão de Ética do Parlamento. Foi endereçado a
quem de direito, ao Presidente da Câmara dos Deputados em exercício, que
aceitou o clamor de milhões de brasileiros que anseiam pelo império da Lei.
Ele, a pessoa que ocupa o cargo,
esperamos todos, também se haverá às barbas da Justiça. E que não seja tarde.
Lamentando saber que não há na cena
política uma expressão de liderança que possa nos colocar, gigantes pela
própria natureza, no lugar que merecemos ainda assim sou a favor e espero que a
presidente deixe o cargo, ocorra o mandato-tampão desse vice e se abra uma
perspectiva para que, voltando às urnas, nós possamos escolher com maior
cuidado aquele que nos governará.
Que seja honesto é ponto pacífico.
Somado ao caráter nos brinde com competência política para aglutinar as
diferentes correntes de interesses democráticos e legítimos da sociedade e
competência administrativa para desenhar e executar um plano de restauração
nacional.
E que não seja, pelo amor de meus
netos, uma nova e trágica quimera.
Até breve.
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