Em BANAL e COMUNIDADE, contos que
escrevi há alguns anos, tento apontar a constância do processo de renovação
sistemática de uma das nossas mais graves mazelas: o tráfico de drogas.
Descrevo a saga de jovens
vulneráveis à nossa perversa realidade em sua construção de entrada e tentativa
de saída do mundo do crime.
Há zilhões de textos, inclusive científicos,
peças de teatro, livros a dar-com-o-pau, filmes que abordam o tema.
Perdemos anualmente milhares de
vidas de jovens com até 25 anos de idade, há décadas, e não nos perguntamos o
que faz com que estes jovens optem por esta vida e enfrentamos ações efetivas
para a resposta que sabemos de cor.
Com frequência vias públicas em que
transitam milhares de pessoas são fechadas pelo terror da luta entre gangs ou
destas com policiais.
Não quero aproveitar Paris, para
lembrar o Rio de Janeiro. Não quero relativizar Terrorismo Religioso e Saúde Pública.
Quero mais do que isto, dizer que a
causa destes males não se encontra nos territórios do Oriente Médio, nem em
Rocinhas, Alemão, Paraisópolis, Capão Redondo. Estes bolsões explosivos e
urdidores de operários da violência são, em essência, efeitos de uma causa
maior.
Nosso problema não é nem o
terrorismo e nem o tráfico. Enquanto não tivermos coragem de encarar esta
realidade, continuaremos vertendo lágrimas de hipocrisia.
Atacar exércitos de maltrapilhos
ensandecidos em áreas remotas e desertos, matando-os misturados a civis
inocentes, ou contabilizar inúmeros ataques aos nossos morros, becos, vielas,
aglomerados não debelará o câncer. Antes pelo contrário.
Agora, no plano global, Obama,
Hollande e Putin tramam a extirpação da célula-mater do terror. Um quer o
ostensivo ataque por terra e outro defende a ação via artilharia aérea. Bilhões
de dólares serão gastos nos efeitos, quando poderiam estar alocados na minimização
ou mitigação das causas.
No plano local vamos continuar
implantando unidades pacificadoras permanentes para passar blush sobre a ferida
cancerígena.
A quase certeza de que não faremos
o que precisa ser feito, por força de intricadas circunstâncias, motivações e
anomalias de toda natureza é o que, a mim, mais aterroriza.
Vamos nos acostumar também com o
agravamento das consequências. Tomar consciência do que se passa está ficando
cada vez mais desinteressante, senão estressante.
Melhor faria se me emputecesse com
um vídeo que Cláudio, meu genro, me mandou ontem à noite. Nele, com Tin do seu
lado, Noninha cantarola o Hino do Galo.
Posts como este não precisariam ser
editados. A não ser para dizer que tanto numa questão, quanto na outra, sou
absolutamente impotente para fazer qualquer coisa.
Até breve.
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