Ontem amanheci dividido. Dava
importância à prisão do senador ou continuava a sequência de diálogos
antecipatórios com minha netinha que nascerá nos primeiros meses do próximo
ano?
Optei por um híbrido. Penso que tem
sido assim o meu tempo presente. Um olho no que se passa e outro no que me
passa. Um olhar para o entorno e outro para bem próximo.
Perto de atingir 900 posts este
blog vai se constituindo no meu modesto legado. Impossível alguém escrever 900
textos sem se revelar por inteiro e esta tem sido minha intenção. E para quem?
A foto que ilustra o blog quer
sinalizar uma resposta.
Ontem vivi um bom dia. Ainda destrambelhado
por força da confusão hormonal pela retirada da tireoide, mas lúcido o suficiente
para experienciar com imensa alegria o desfecho dos fatos.
Acompanhei durante toda a tarde e
início da noite a transmissão da sessão do Senado e ouvi a gravação (de mais de
uma hora de duração) feita pelo filho do ex-diretor da Petrobras.
Bastava a prisão, pela primeira vez
na história republicana, de um senador em exercício de seu mandato para que
tivéssemos um dia alvissareiro.
O desenrolar do episódio foi
extraordinariamente mais intenso e relevante do que a prisão em si. Vivemos
ontem um dia, que eu quero guardar, de júbilo. O Senado Federal deu afinal uma
demonstração de maturidade institucional que há muito o povo brasileiro aguardava.
No post MILLENIUM escrevi: “Terror
é tudo sobre o qual não se exerce controle”. O processo anárquico pelo qual o
país vinha passando era, para mim, aterrorizante. O acinte, o escárnio, a
mentira, a falácia, o engodo, e todas as atitudes mais vis e vergonhosas
possíveis patrocinadas por políticos ocupantes de postos relevantes dava ao
país um quadro de absoluta anarquia.
Até ontem, espero.
Os discursos que antecederam à
votação se o voto para a manutenção da prisão do senador seria aberto ou
secreto foram basilares e esclarecedores. Explicitaram e dividiram de forma
transparente quem são aqueles parlamentares que merecem nosso crédito e aqueles
que de há muito deveriam ser banidos da vida pública e boa parte destes presos
em regime fechado.
Nove dos dez senadores que pediram
a palavra antes que se desse a decisão da mesa se o voto deveria ser secreto ou
aberto opinaram abertamente pela importância de que a decisão, em benefício da
transparência, fosse aberto.
Ainda assim, o Presidente do Senado
optou por decidir que o voto seria secreto. Face à manifestação em contrário de
inúmeros senadores e, suponho, do clamor das ruas que chegava aos seus ouvidos Renan
Calheiros resolveu transferir para o plenário a decisão.
Por manifestação oral dos líderes
das bancadas a decisão sairia por voto aberto.
Confesso que nesse momento
experimentei um lenitivo à minha desesperança. Nem tudo estava perdido neste
país. Os parlamentares ficaram expostos ao povo brasileiro. Não há ninguém, de boa
vontade, que não queira ver esclarecidos os fatos de forma aberta e transparente, com
isenção, lisura e dentro dos preceitos constitucionais.
O senador seguirá preso. Todos os
votos contrários (treze) foram de parlamentares citados na Operação Lava Jato.
A manutenção da prisão e os
interrogatórios subsequentes dos outros detidos, além do político,
especialmente os do banqueiro, serão peças chaves para enriquecer o processo de
depuração moral pelo que passamos.
O dia de ontem também foi marcado
pela nota trágica divulgada pelo Partido dos Trabalhadores. Trágica e
emblemática.
Dia limpo.
Lelê volta no próximo post.
Até breve.
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