O quadro apresenta-se estável com
sérias dificuldades para dormir à noite. Por força da intubação, quando da
cirurgia, a garganta insiste em apresentar uma forte dor ao eu engolir a
saliva. Persiste ainda aquela tosse idiota que não limpa a traqueia e, por
ansiedade, fico com um ronron intermitente tentando me livrar da secreção.
Convalescendo, aproveito para
feicebocar.
Que universo surrealista esse a que
estamos expostos! O virtualismo, a sensação de liberdade de manifestação, a
intenção de contribuir, de escrachar, de denunciar, de se fazer ouvir, de
drenar espírito, de se relacionar, de encontrar eco, faz de nossa época algo
ímpar.
Impossível uma análise conclusiva e
global de tudo o que circula. Cada rede de “amigos” constrói uma lógica de
interesses curtidos, comentados, compartilhados. O virtual é infinitamente
maior e mais intenso do que a vida social.
Aliás, penso que estamos mesmo
entrando em uma vida social de ausentes físicos. Na juventude eu investi horas
a fio tramando com amigos, poucos, por bancos de praça, corredores acadêmicos,
saraus, oficinas literárias, e era tão intenso. Eu amava a possibilidade de me
encontrar com os amigos para destilar procuras.
Tenho me imiscuído em inúmeras conversas
com pessoas que não vejo o brilho dos olhos e, a partir do que postamos, vamos
construindo uma teia de articulações mais reais do que a própria vidinha levada
no cotidiano. A vida virtual é uma droga alucinante.
Há nela, contudo, algo que incomoda:
o efêmero. Os acontecimentos são objeto de inúmeras manifestações, aos
milhares, mas não permanecem e, por isso, se esvaem numa furiosa velocidade.
Velozes e furiosos esses
feicebocantes, drogaditos. Cada post implica um barato, que por sua vez demanda
outro e ainda outro. Miscelânea de estímulos que levam à dependência contumaz.
Vamos ter salas para desintoxicação?
Acho que não. Interagir não é uma droga ilícita e seus desdobrares ainda não
são de largo conhecidos. É muito recente a ingestão da química.
Liberdade que nos aprisiona,
possibilidade que nos restringe, tempo que nos esgota. Nossos “amigos” jamais
saberão verdadeiramente de nós, quem somos, que cheiro temos, nossa estatura,
nosso jeito de andar, nossa voz, nós mesmos.
Vou postar este texto. Um mísero
grão de pó alucinante encarreirado em tela.
Funguem.
Até breve.
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