Parece que não, mas subliteratura
tem dor.
Blog do cotidiano, trens que pintam
cabeça adentro, insights deliveres trazidos de referências outras daqui e dali,
acontecimentos ao pé do ouvido, essas coisas inspiram para desassossegar.
Ali fora de mim tem trocentos temas pululando para serem trazidos a paginas (telas). Diferentes captadores mergulham, alguns mais fundos que outros, a cata de tesouros. E, quando achados
– lapidados - tornam-se clássicos e virais.
O foda é o mergulho, sem equipamentos.
Tem horas de perder fôlegos, mesmo que se escreva autocentrado, não pensando
para quem. Pura mentira: todo mundo que padece da loucura da escrita tá visando
o Outro.
Eu mesmo daqui fico caçando alvos
de manobra, ou seja, abordagem, tema, forma e um porrilhão de outros condicionantes. Quase sempre sai no grito, só depois que eu leio.
Dos oitocentos e sessenta e cinco
posts aqui editados acho que entendi uns trinta por cento e, cada vez de
assalto que os releio, fico em dúvida às vezes se teria sido eu mesmo que os
produzi.
Hoje para mim fica mais claro que o
território não será através do meio físico livro, mesmo que seja ele que
literata. Desencanei. O futuro nos leva para as nuvens e lá é que devem e estarão
expressos os dizeres.
E breves, porque muitos.
Prá hoje, por exemplo, dois filmes
que assisti essa semana: A pele de Vênus e Trash
– A esperança vem do lixo.
Em A Pele de Vênus, o diretor Roman
Polanski trata das relações de poder, sexo e castigo de forma franca e
frontal, num jogo metalinguístico que expõe a própria figura do artista por
conta dos problemas do cineasta polonês com a Justiça americana.
O livro de 1870 do austríaco Leopold
von Sacher-Masoch que deu origem à história, sobre um homem que por
paixão e fetiche se torna escravo de uma mulher, com direito a chicote e roupas
de couro, já é notoriamente autobiográfico. Reproduziu em Venus im Pelz as
relações de dominação que mantinha em sua vida íntima, e sua figura se tornou
indissociável do elemento central da novela, o masoquismo (termo cunhado a
partir do sobrenome do escritor).
No filme,Vanda, atriz aspirante, aparece
numa noite chuvosa no teatro onde o diretor Thomas passou o dia fazendo testes
com atrizes para sua montagem. Na trilha sonora, que no começo do filme sugere
uma premissa de terror (acompanhada dos devidos efeitos de relâmpagos na
tempestade), e na câmera de Polanski, que desliza do lado de fora do teatro
como um fantasma, a figura de Vanda imediatamente pode ser confundida com uma
projeção: vinda dos sonhos ela invadiria o espaço de Thomas como materialização
dos desejos e das fraquezas do dramaturgo.
Porém, no jogo que faz até o fim
num vaivém de representações - o filme é basicamente composto de réplicas entre
Vanda e Thomas, que através da leitura do texto da peça transformam o teste da
atriz em uma disputa de poder entre o artista e a musa - Polanski vai
intercalando o onírico (como o passado e a memória ganham vida no palco) com o
mundano (as gírias e a descompostura de Vanda, o toque insistente do celular),
para nos relembrar de que Vanda é, antes de mais nada, sua presença física, sua
carnalidade, e jamais poderia ser somente um espectro de fantasias e
frustrações.
Embora este seja um filme
naturalmente aberto às interpretações mais difusas (fala da vida, de arte, de
gêneros, de autoconhecimento, de alteridade...) Polanski nunca perde de vista o
rigor da encenação, nem a noção mais pura do teatro, que é tornar o verbo uma
expressão corporal.
Trash – A esperança vem do lixo, baseado no
livro de Andy Mulligan, se passa em um país fictício, tanto
poderia ter sido filmado na Índia quanto nas Filipinas ou mesmo no Brasil
(países indicados pelo próprio escritor inglês). A proximidade do diretor Stephen
Daldry com o trabalho do cineasta Fernando Meirelles quis que o
Brasil ganhasse essa disputa.
O filme conta a história de três
garotos pobres que, a partir de uma carteira achada em um lixão, encontram um
código que leva à fortuna de um político corrupto.
Trash imprime um
sentimento dúbio de orgulho. Orgulho por mostrar, a partir da visão
de um realizador internacional de renome, uma profissão de fé (a esperança do
título está presente para quebrar certos paradigmas), a partir de um retrato
tão fiel e atual das mazelas do nosso país. Dúbio porque a
fotografia em questão é suja. Sem cartão postal, Trash não é
um filme só para inglês ver.
Sobre os filmes, vejam, me baseei
em insights deliveres trazidos de referências outras daqui e dali.
Recomendo.
Até breve.
Nenhum comentário:
Postar um comentário