sexta-feira, 9 de outubro de 2015

SUB



Parece que não, mas subliteratura tem dor.

Blog do cotidiano, trens que pintam cabeça adentro, insights deliveres trazidos de referências outras daqui e dali, acontecimentos ao pé do ouvido, essas coisas inspiram para desassossegar.

Ali fora de mim tem trocentos temas pululando para serem trazidos a paginas (telas). Diferentes captadores mergulham, alguns mais fundos que outros, a cata de tesouros. E, quando achados – lapidados - tornam-se clássicos e virais.

Em qualquer campo rola curtição.

O foda é o mergulho, sem equipamentos. Tem horas de perder fôlegos, mesmo que se escreva autocentrado, não pensando para quem. Pura mentira: todo mundo que padece da loucura da escrita tá visando o Outro.

Não há fala sem ouvidos.

Eu mesmo daqui fico caçando alvos de manobra, ou seja, abordagem, tema, forma e um porrilhão de outros condicionantes. Quase sempre sai no grito, só depois que eu leio.

Dos oitocentos e sessenta e cinco posts aqui editados acho que entendi uns trinta por cento e, cada vez de assalto que os releio, fico em dúvida às vezes se teria sido eu mesmo que os produzi.

Hoje para mim fica mais claro que o território não será através do meio físico livro, mesmo que seja ele que literata. Desencanei. O futuro nos leva para as nuvens e lá é que devem e estarão expressos os dizeres.

E breves, porque muitos.

Prá hoje, por exemplo, dois filmes que assisti essa semana: A pele de Vênus e Trash – A esperança vem do lixo.

Em A Pele de Vênus, o diretor Roman Polanski trata das relações de poder, sexo e castigo de forma franca e frontal, num jogo metalinguístico que expõe a própria figura do artista por conta dos problemas do cineasta polonês com a Justiça americana.

O livro de 1870 do austríaco Leopold von Sacher-Masoch  que deu origem à história, sobre um homem que por paixão e fetiche se torna escravo de uma mulher, com direito a chicote e roupas de couro, já é notoriamente autobiográfico. Reproduziu em Venus im Pelz as relações de dominação que mantinha em sua vida íntima, e sua figura se tornou indissociável do elemento central da novela, o masoquismo (termo cunhado a partir do sobrenome do escritor).

No filme,Vanda, atriz aspirante, aparece numa noite chuvosa no teatro onde o diretor Thomas passou o dia fazendo testes com atrizes para sua montagem. Na trilha sonora, que no começo do filme sugere uma premissa de terror (acompanhada dos devidos efeitos de relâmpagos na tempestade), e na câmera de Polanski, que desliza do lado de fora do teatro como um fantasma, a figura de Vanda imediatamente pode ser confundida com uma projeção: vinda dos sonhos ela invadiria o espaço de Thomas como materialização dos desejos e das fraquezas do dramaturgo.

Porém, no jogo que faz até o fim num vaivém de representações - o filme é basicamente composto de réplicas entre Vanda e Thomas, que através da leitura do texto da peça transformam o teste da atriz em uma disputa de poder entre o artista e a musa - Polanski vai intercalando o onírico (como o passado e a memória ganham vida no palco) com o mundano (as gírias e a descompostura de Vanda, o toque insistente do celular), para nos relembrar de que Vanda é, antes de mais nada, sua presença física, sua carnalidade, e jamais poderia ser somente um espectro de fantasias e frustrações.

Embora este seja um filme naturalmente aberto às interpretações mais difusas (fala da vida, de arte, de gêneros, de autoconhecimento, de alteridade...) Polanski nunca perde de vista o rigor da encenação, nem a noção mais pura do teatro, que é tornar o verbo uma expressão corporal. 

Trash – A esperança vem do lixo, baseado no livro de Andy Mulligan, se passa em um país fictício,  tanto poderia ter sido filmado na Índia quanto nas Filipinas ou mesmo no Brasil (países indicados pelo próprio escritor inglês). A proximidade do diretor Stephen Daldry com o trabalho do cineasta Fernando Meirelles quis que o Brasil ganhasse essa disputa.

O filme conta a história de três garotos pobres que, a partir de uma carteira achada em um lixão, encontram um código que leva à fortuna de um político corrupto.

Trash imprime um sentimento dúbio de orgulho. Orgulho por mostrar, a partir da visão de um realizador internacional de renome, uma profissão de fé (a esperança do título está presente para quebrar certos paradigmas), a partir de um retrato tão fiel e atual das mazelas do nosso país. Dúbio porque a fotografia em questão é suja. Sem cartão postal, Trash não é um filme só para inglês ver.

Sobre os filmes, vejam, me baseei em insights deliveres trazidos de referências outras daqui e dali.

Recomendo.



Até breve.  

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