A Poesia não serve para nada.
É absolutamente inútil.
Especialmente aquela produzida na
via do hermetismo pascoal. E somem-se todos de ferro que lastreiam pedras no
meio do caminho. Tem sempre pedras no meio do caminho.
No meio que caminho, pedras.
“Açaí guardiã, som de besouro imã, branca é a tez da manhã...”
Desesperado o poeta, entrevistado
pelo Gavin dos Titãs, tenta se defender da crítica, que o considera um “nonsense".
Ora, faz sentido sim, ele
argumenta. Todo mundo que vive no norte/nordeste sabe quanto a fruta é
importante, guardiã da saúde. Qualquer som nos convida a procura-lo, nos
imanta. Quem, ao acordar em manhãs, que não se maravilhou com densa névoa?
Amanheci cinza. Deveria ter gravado
os sons de cigarras alucinadas e roucas clamando pelas torrentes. Pássaros que
vem junto com o astro rei insistindo na alegria. Amanhã, se se repetir, juro
que faço.
A natureza não serve para nada.
Sapos, grilos, pássaros, torrentes, verdes e matizes outros são inúteis. A
solidão, então, nem me fale. Especialmente aquela que versa. No contrário dos
entendimentos claros, sobretudo.
O que edifica são as pedras, umas sobre
as outras.
O mundo vai ficando assim,
explícito demais, desmisterioso, desnuante.
Ninguém quer sofrer de procuras,
pede de imediato, nada que leve enfrentamentos com vazios de ocos.
Inclusive aqui, quê que esse cara
tá aprontando?
Vá ao post anterior...
Aposto que não foi. É assim, temos
tanto para fazer, tanto para ler, tanto para - que não sobra tempo para.
Pára.
Eu parei no poema de Liria Porto,
que tem livro finalista no Jabuti de 2015.
GARIMPO
esta procura tem um nome insanidade
passei da idade de tentar fazer
sonetos
eu só consigo descrever cinzas e
pretos
acho que o verso não alcança
claridade
pelas gavetas prateleiras
escondidos
ainda agarro pelo rabo alguns
cometas
quero as estrelas não encontro suas
tetas
sinto as fissuras dos pequenos
desvalidos
a minha escrita sempre foi penosa
esgrima
desde menina que não tenho
paradeiro
eu caço sapo com bodoque o dia
inteiro
nesta esperança de catar melhores
rimas
vasculho as glebas
os grotões e quem diria
bateio o sol chego a pensar
que a noite é dia
Até breve.
Nenhum comentário:
Postar um comentário