“Ninguém põe um pedaço de pano novo
em um vestido velho, porque semelhante remendo rompe o vestido, e faz-lhe maior
o rasgão.”
Mateus - XI – 16
Em um dos meus livros que escrevi
na juventude, impublicáveis inclusive post
mortem, abro com: “Tratarei nesta obra dos esforços lentos e contínuos que,
pouco a pouco, dobram a cabeça dos povos sob a canga e lhes fazem perder a
vontade e até a força de sacudi-la”.
Coloquei INFECTUM como título do
livro, inspirado no Latim. Há duas subdivisões dos tempos verbais latinos: o
infectum e o perfectum. No primeiro grupo se incluem os verbos cuja ação é
vista como não-concluída. No segundo grupo se acham os tempos verbais de ação
concluída ou perfeita.
Pois é.
Resgatei a memória por força de ter
assistido ontem ao Roda Viva da TV Cultura cujos entrevistados foram o jurista
Hélio Pereira Bicudo e a advogada e professora universitária Janaina Conceição Paschoal.
Juntos ao jurista Miguel Reale
Junior impetraram no último dia 01 – exatos 23 anos da data da saída de Collor
- pedido de impeachment da Presidente Dilma. (PEDIDO)
Fiquei atento à Janaina, pela sua
forma apaixonada de lidar com a questão sem perda de sua extraordinária
competência em expor os fundamentos que sustentam o documento encaminhado ao
Presidente da Câmara Federal.
Fiquei emocionado com Bicudo, que
aos 93 anos de idade, ainda encontra reserva de energias para, mais do que se
posicionar com seu brilhantismo intelectual e técnico-jurídico, agir
deliberadamente em busca de seu sonho (que o levou ingressar no PT) acreditando
estar ali a possibilidade da reconstrução do país.
Bicudo e Janaina, no mínimo merecem
nosso respeito, nossa admiração, nossa atenção e nosso incondicional apoio em
busca do esclarecimento dos fatos à luz da mais pura e cristalina legalidade e
justiça.
Em sua argumentação Janaina
esclareceu que o crime cometido pela Presidência da República foi de
estelionato eleitoral, não porque tivesse proposto na campanha algo que não
cumpriu em seu mandato. Mas por força de atos administrativos ilegais
enquadrados na Lei de Responsabilidade Fiscal, as pedaladas. Janaina ainda fez
considerações sobre a negligência da Presidenta então como responsável pela
gestão da Petrobras.
Ocorre, porém, que em dado momento
próximo ao encerramento do programa, parte dos entrevistadores aponta tanto a
Bicudo quanto à Janaina a fragilidade de sua ação. Como o Presidente da Câmara,
envolvido com a Operação Lava a Jato, poderia acatar o pedido de impeachment? O
julgamento não deverá ser técnico, mas político.
Em outras palavras, tudo ocorrerá entre
eles.
Janaina conclama para que tudo seja
acompanhado pelo povo, mas sabe que somente se houver manifestação efetiva
popular haverá chance de êxito para que o julgamento da improbidade
administrativa da Presidente da República seja feito dentro do maior rigor
técnico e jurídico e não a luz de um Acordão.
O desejo apaixonado de ambos, estes
brasileiros invejáveis, de colocar um pano novo em um vestido rasgado pode
levar mesmo a uma forte composição da elite governante deste país para impedir
que se faça um rasgão na democracia de fachada.
Temo muito que nos reste colocar
nossa cabeça sob a canga e continuarmos sem a vontade e até a força de sacudi-la.
Ou estamos em um tempo infectum? O
de uma ação ainda não concluída.
Assista ao programa completo em: RODA VIVA
Até breve.
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