Dei alta para meu analista e tenho
deitado no sofá do meu astrólogo preferido. Vejam o que ele me sinalizou hoje:
“Essa saudade de um passado
melhor que te faz desprezar a realidade atual da civilização é fruto de
imaginação distorcida. Nenhum passado foi melhor do que o presente, onde houve
humanos, houve sempre complexidade e, além disso, nossa atualidade não é mero
fruto do passado, é também o resultado de nossos anseios por um futuro que
pressentimos. Desprezar a humanidade como se fosse o único reino predatório e
que sua presença coloca em risco a natureza, pensa melhor e analisa bem esse
discurso, se o levas até as últimas consequências perceberás que não se
sustenta, porque se fosse verdadeiramente sério e considerasses tua própria
humanidade, terias então que eliminar tua presença do planeta terra, ou aceitar
que desejas, como os radicais, eliminar uma parte da humanidade para salvar
outra”.
Meu passado foi sim melhor do que o
presente. Acreditava na Utopia, nos sonhos, nos propósitos. Eu tinha um rol de
referências pensantes que me nutria a esperança, mesmo que eu fosse por demais
delirante havia sim um projeto de revolução histórica para alcançar isso, que é
hoje o meu presente, um pouco melhor do que vivíamos.
É verdade que, como diz o Darin,
que tomo se quiser dois banhos quentes por dia, não preciso me levantar para
mudar o canal de minha TV, nem de máquinas de tirar retratos ou de filmar,
posso viajar para os quatro cantos do mundo, posso um monte de facilidades
operacionais. Posso interagir com amigos reais e virtuais, instantaneamente.
Posso optar por ser de outro
gênero, de outra religião, de outro partido. A aparente liberdade me confere
inúmeras ilusões de superfície.
Mas não dá para eu tapar os olhos,
os ouvidos e os dedos que dedilham letras. Radicalmente não se trata de salvar
ninguém e a nada, senão a mim mesmo. O meu discurso se sustenta às minhas
vísceras que se embrulham diante do real.
É evidente, notório e insustentável
que há inúmeros sinais de barbárie e a civilização corre riscos importantes.
Todos que se rebelaram e que se rebelarão ainda contra fizeram, fazem e farão
sim um serviço à Humanidade, mesmo que isso seja um projeto, ainda que utópico.
A Utopia não é o Bem, o Belo, o
Humano. A Utopia é o direito à luta para que a natureza humana não se penda de
vez ao iníquo, à besta.
A Humanidade é um risco em si mesma
e cada um que busca em si negar e negar ainda faz um sentido imperioso. Viver
não é uma decisão simplesmente moral, ética ou até mesmo religiosa.
Viver é ter com ciência. Ciência
entendida como sapiência, descoberta, evolução. Ciência como análise,
verificação, evidência. Ciência como Absoluto.
E os fatos comprovam que aponta-los,
discuti-los, revela-los e opinar é uma tarefa de todos aqueles que supostamente
têm (porque serão cobrados por isto) a tarefa de manifestar-se.
A presunção, a vaidade, a demanda
para ser ouvido e com isto adquirir importância, a dificuldade com o anonimato
e o ostracismo são sim, também, mazelas dos que se intelectualizam.
Livrai-me deste mal.
Apenas se ouçam.
Até breve.
Nenhum comentário:
Postar um comentário