Em entrevista publicada no Estadão(*),
Camille Paglia, provoca:
“A essência de nossa identidade se transforma no que fazemos no trabalho.
Mas é correto nos identificarmos pelo que é tido como sucesso? Discutimos muito
essa questão nos anos 60. As pessoas se interessavam por realidades mais
elevadas, a vida, a morte, o sentido do universo. Hoje, quem se pergunta isso?
Quando você coloca todo o significado na sua carreira, está fadado à
superficialidade e ao vazio.”
“Antigamente, a composição fotográfica dos filmes na tela grande era
baseada em pinturas. Havia iluminação por múltiplos ângulos, os atores pareciam
esculturais. Essa arte está desaparecendo. Cresci em um período de telas
grandes, vi Ben-Hur, Os Dez Mandamentos no cinema. Penso grande, como reflexo
dessa época. E nossos pobres jovens, com seus smartphones, infelizmente vão pensar
pequeno.
”
“A arte está perdendo sua centralidade cultural. Era nela que as pessoas
trabalhavam questões difíceis. E agora não queremos dificuldades, nem nos
sentir deprimidos. É um período em que as pessoas, pelo menos nos EUA, não
querem ler Dostoiévski, Kafka, porque apresentam reflexões sombrias. Precisamos
reaprender a ver para sobreviver nessa era da vertigem.”
Que bem faz a angústia, senão a
produção de mais angústia? Que bem faz o saber, senão saber que se sabe menos?
Que bem faz a reflexão se só se aprofunda? Os anos sessenta foram, na verdade,
um porre.
Nos anos setenta em sobrevoei a
Fafich e vivi o período mais profícuo dos meus dias. Livros aos quilos, papos
aos montes, planos revolucionários de dar inveja, filmes aos quilômetros,
teatro, jornalecos de DAs, juventude na veia.
A gente tinha e vivia uma utopia e
nos chamávamos uns aos outros de BICHO.
A gente acreditava existir um
inimigo comum e a possibilidade de uma revolução.
A gente ousava “pensar grande” um futuro.
Mas a Vida, essa imitação de
segunda categoria da ficção, teima em acontecer. E nos deu esse presente que
está aí.
Gilberto Gil disse em uma
entrevista: “A tecnologia suplantou a reflexão”
Para Bibi Ferreira: “O inferno existe, é a velhice!”.
Vamos sim, nós os mais antigos e
reflexivos, ter que – para sobreviver - padecer na vertigem deste inferno.
Há um lenitivo, entretanto: daqui
sete anos (até um pouco menos) tornarei inimputável e setentenário. Qual o
privilégio disso? Serei mais profundo, mais angustiado e saberei menos.
Liz, Valentin e Antônio me explicarão
a Vida.
Até breve.
(*) ERA DA VERTIGEM
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