segunda-feira, 21 de setembro de 2015

DEMODÊ



Em entrevista publicada no Estadão(*), Camille Paglia, provoca:

“A essência de nossa identidade se transforma no que fazemos no trabalho. Mas é correto nos identificarmos pelo que é tido como sucesso? Discutimos muito essa questão nos anos 60. As pessoas se interessavam por realidades mais elevadas, a vida, a morte, o sentido do universo. Hoje, quem se pergunta isso? Quando você coloca todo o significado na sua carreira, está fadado à superficialidade e ao vazio.”

“Antigamente, a composição fotográfica dos filmes na tela grande era baseada em pinturas. Havia iluminação por múltiplos ângulos, os atores pareciam esculturais. Essa arte está desaparecendo. Cresci em um período de telas grandes, vi Ben-Hur, Os Dez Mandamentos no cinema. Penso grande, como reflexo dessa época. E nossos pobres jovens, com seus smartphones, infelizmente vão pensar pequeno.
“A arte está perdendo sua centralidade cultural. Era nela que as pessoas trabalhavam questões difíceis. E agora não queremos dificuldades, nem nos sentir deprimidos. É um período em que as pessoas, pelo menos nos EUA, não querem ler Dostoiévski, Kafka, porque apresentam reflexões sombrias. Precisamos reaprender a ver para sobreviver nessa era da vertigem.”

Que bem faz a angústia, senão a produção de mais angústia? Que bem faz o saber, senão saber que se sabe menos? Que bem faz a reflexão se só se aprofunda? Os anos sessenta foram, na verdade, um porre.

Nos anos setenta em sobrevoei a Fafich e vivi o período mais profícuo dos meus dias. Livros aos quilos, papos aos montes, planos revolucionários de dar inveja, filmes aos quilômetros, teatro, jornalecos de DAs, juventude na veia.

A gente tinha e vivia uma utopia e nos chamávamos uns aos outros de BICHO.

A gente acreditava existir um inimigo comum e a possibilidade de uma revolução.

A gente ousava “pensar grande” um futuro.

Mas a Vida, essa imitação de segunda categoria da ficção, teima em acontecer. E nos deu esse presente que está aí.

Gilberto Gil disse em uma entrevista: “A tecnologia suplantou a reflexão”

Para Bibi Ferreira: “O inferno existe, é a velhice!”.

Vamos sim, nós os mais antigos e reflexivos, ter que – para sobreviver - padecer na vertigem deste inferno.

Há um lenitivo, entretanto: daqui sete anos (até um pouco menos) tornarei inimputável e setentenário. Qual o privilégio disso? Serei mais profundo, mais angustiado e saberei menos.

Liz, Valentin e Antônio me explicarão a Vida.



Até breve.


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