Desculpem-me, mas de novo sou
guiado pela astrologia:
“As coisas tendem a ficar
dramáticas demais por algum tempo, isso é algo que você precisa considerar com
sabedoria e de forma antecipada, preparando-se para não perder a cabeça de
forma precipitada em momento algum.”
Como se não bastasse, li hoje também a
coluna do Veríssimo no Estadão que ele encerra com:
“...conseguimos evitar a guerra
nuclear, uma cura para o câncer é iminente e todo dia aparece um sabor novo de
picolé –, mas, às vezes, parece que estamos escorregando para mais mil anos de
obscurantismo e estupidez. Né não?”
Minha fala aqui no dasletra, como de resto qualquer outra,
é parcial e parcialmente na medida em que ela está dentro de um espaço e um
tempo sobre o qual não se tem nenhum controle.
Apoiados em vários filósofos poderíamos
dizer que o tempo é o presente da sensação, o passado de uma experiência que é
a memória e o futuro uma expectativa que, em geral, é a esperança.
Houve um tempo em que as Humanidades
tinham a função formadora e civilizadora. Iniciado no século dezoito com o
Iluminismo e a Revolução Francesa que cortou a cabeça da aristocracia, pregou
que Deus não existia e que era apenas uma articulação da igreja para dominação
dos homens. Ali se acreditou que o substitutivo da teologia seria um novo
conjunto de discursos, que teriam a função de libertação da Humanidade dos
laços da servidão.
Nascem as universidades com o
escopo da análise do passado das letras, das artes e da filosofia para ensinar
as novas gerações a se dirigir em direção à um futuro em que, para a ideologia
burguesa ocorreria a acumulação do bem estar social e o progresso da razão.
Kant enunciava que as luzes eram
para todos e que, nos futuro, elas eliminariam toda ignorância, toda a superstição,
todos os homens seriam iguais, não existiriam diferenças de nenhuma ordem, nem
de sexo, raça, cor e se viveria a pura democracia.
A gente sabe que não aconteceu bem
assim.
Nos anos 80 houve uma gigantesca
reformulação mundial dos meios de produção pelo capital e o advento da maciça informatização
levou a uma redefinição de Cultura: o moderno havia acabado. Durou desde os
iluministas até 1980 e, a partir daí, a sociedade passou a viver o pós-moderno.
A cultura passou a ser, como tudo,
um bem de troca, um presunto.
Vivemos hoje o que filósofos e
historiadores franceses chamam de presentismo. Nenhum de nós se lembra
do que comeu ontem à tarde, a cor da roupa que vestiu ontem, nós não temos
memória de ontem muito menos memória histórica do que aconteceu em nosso país há
vinte anos.
Mas e se se pergunta: e a Revolução?
E o futuro?
O mais grave para as Humanidades é
que elas, também, passaram a se subordinar às leis do mercado. Valem hoje
quanto pesam, ou seja, nada. Um livro quando é lançado é simultaneamente
apagado por um trilhão de outros lançamentos e outros blablabás de outros
textos que produzem uma poeira de discursos, uma simultaneidade.
Cinco minutos depois ficam
esquecidos.
Somos uma sociedade sem memória e,
portanto, sem futuro também.
Rockefeller dizia: quando me falam de cultura, eu saco o meu
talão de cheques. Isso nos anos 20 quando ele estava comprando obras de
arte, Picasso, Matisse, para doar para os museus americanos. Era um capitalista
ilustrado. Um nazista diz: quando me falam de cultura, eu saco a pistola. A solução
nazista é esta em relação às Humanidades, queima livros ou mata os autores.
Hoje fundimos o Rockefeller com o
Nazismo, uma espécie de indiferença radical em relação às Humanidades.
Ocorre que esta destruição é
mundial. Na Alemanha, por exemplo, em Munique as universidades estão fechando
cursos de filosofia onde se estuda Estética.
Para quê ter esperança?
Acho que, neste momento, perdi a
cabeça e de forma precipitada.
Até breve.
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