quarta-feira, 12 de agosto de 2015

EVIDÊNCIAS



Manhã e tarde
As gralhas-do-campo
ocupam os pés de goiaba
e as mangueiras.
Rotina mantida quando fruto não há
Território é conquista diária. (*)


O universo está morrendo pouco a pouco, segundo uma equipe internacional de cientistas. O estudo publicado no periódico “Monthly Notices of the Royal Astronomical Society” investigou a quantidade de emissão de energia numa vasta região do espaço, analisando individualmente cerca de duzentas mil galáxias e concluiu que a energia produzida por elas, atualmente, é duas vezes menor que há dois bilhões de anos.

"A partir de agora, o universo está condenado ao declínio. O universo se estirou no sofá, se cobriu com uma manta e se prepara para um sono eterno", explicou Simon Driver, cientista australiano um dos membros do projeto que contou com a colaboração de centenas de cientistas de mais de trinta universidades australianas, europeias e norte-americanas.

Com efeito, se a compreensão destes estudiosos do funcionamento do cosmos estiver certa, e sua expansão prosseguir em ritmo acelerado, esse é o desfecho esperado: um lento e gradual, mas irreversível, apagamento.

Apesar disso, os cientistas dizem que não devemos nos preocupar demais. Embora as luzes estejam se apagando, a fase ativa do Universo ainda deve durar muitos bilhões de anos, e depois disso as estrelas mais longevas viverão por até um trilhão de anos — um tempo incomensurável do nosso ponto de vista — até que só restem os resquícios das glórias de outrora.

Eu, de minha parte, aqui colado com meu euzinho, claro que não teria com o que me preocupar. Eu já estou estirado no sofá e devo permanecer ali, sendo otimista, por um par de décadas, se tanto.

Se bem que - me perdoem de novo o meu olhar cinzento - há evidências muito objetivas para o apagamento precoce do Universo Humano. Minha lim itada e assistemática observação, empírica ainda que interessada, não me deixa dúvidas de que se não é ocaso da Civilização, deve ser o limiar de uma reviravolta em qual o sentido dar a existência.

“Ele não conseguiu nos fazer humildes. Ou não quis. Ou não pode. Então eles nos fez humilhados.” Está na introdução do trailer do filme Adeus à linguagem, recém-lançado, de Godard. “Quem?”

- “Deus.”

Minha desilusão me leva a crer que não deve haver atalhos que conduzam a um mundo feito sobre medida para a dignidade humana, e ao mesmo tempo é improvável que o mundo realmente existente, construído dia a dia por pessoas já espoliadas de sua dignidade e desacostumadas a respeitar a das outras, possa algum dia ser refeito segundo essa medida.

O esmagamento de trinta e sete toneladas de alimentos ideais para consumo realizado ontem por máquinas pesadas na Rússia, não importa quão justificáveis sejam as razões, dão a clara evidência de nossa iniquidade.

A alegria na  chegada de centenas de refugiados desesperados à Grécia, país hoje dilacerado pelo neocapitalismo.

Se quiserem outra: foi ontem exumado o cadáver da mulher, anteriormente considerada suicida pela polícia que investigou o caso, e agora, com nova perícia, teria sido sim assassinada pelo marido que também veio assassinar o próprio filho.

Outras? Leiam os jornais de hoje, de amanhã...

O Humano escureceu.


Até breve.

(*) Poema HAVER NO SENTIDO DO EXISTIR, de Simone de Andrade Neves, publicado na edição de nº 1358 do Suplemento Literário da Secretária de Cultura de MG.

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