Manhã e tarde
As gralhas-do-campo
ocupam os pés de goiaba
e as mangueiras.
Rotina mantida quando fruto não há
Território é conquista diária. (*)
O universo está morrendo pouco a
pouco, segundo uma equipe internacional de cientistas. O estudo publicado no
periódico “Monthly Notices of the Royal Astronomical Society” investigou a
quantidade de emissão de energia numa vasta região do espaço, analisando
individualmente cerca de duzentas mil galáxias e concluiu que a energia
produzida por elas, atualmente, é duas vezes menor que há dois bilhões de anos.
"A partir de agora, o universo está condenado ao declínio. O universo se estirou no sofá, se cobriu com
uma manta e se prepara para um sono eterno", explicou Simon Driver, cientista
australiano um dos membros do projeto que contou com a colaboração de
centenas de cientistas de mais de trinta universidades australianas, europeias
e norte-americanas.
Com efeito, se a compreensão destes
estudiosos do funcionamento do cosmos estiver certa, e sua expansão prosseguir
em ritmo acelerado, esse é o desfecho esperado: um lento e gradual, mas
irreversível, apagamento.
Apesar disso, os cientistas dizem
que não devemos nos preocupar demais. Embora as luzes estejam se apagando, a
fase ativa do Universo ainda deve durar muitos bilhões de anos, e depois disso
as estrelas mais longevas viverão por até um trilhão de anos — um tempo
incomensurável do nosso ponto de vista — até que só restem os resquícios das
glórias de outrora.
Eu, de minha parte, aqui colado com
meu euzinho, claro que não teria com o que me preocupar. Eu já estou estirado
no sofá e devo permanecer ali, sendo otimista, por um par de décadas, se tanto.
Se bem que - me perdoem de novo o meu
olhar cinzento - há evidências muito objetivas para o apagamento precoce do Universo Humano. Minha lim itada e
assistemática observação, empírica ainda que interessada, não me deixa dúvidas
de que se não é ocaso da Civilização, deve ser o limiar de uma reviravolta em
qual o sentido dar a existência.
“Ele não conseguiu nos fazer humildes. Ou não quis. Ou não pode. Então
eles nos fez humilhados.” Está na introdução do trailer do filme Adeus à
linguagem, recém-lançado, de Godard. “Quem?”
- “Deus.”
Minha desilusão me leva a crer que
não deve haver atalhos que conduzam a um mundo feito sobre medida para a
dignidade humana, e ao mesmo tempo é improvável que o mundo realmente
existente, construído dia a dia por pessoas já espoliadas de sua dignidade e
desacostumadas a respeitar a das outras, possa algum dia ser refeito segundo
essa medida.
O esmagamento de trinta e sete
toneladas de alimentos ideais para consumo realizado ontem por máquinas pesadas
na Rússia, não importa quão justificáveis sejam as razões, dão a clara
evidência de nossa iniquidade.
A alegria na chegada de centenas de refugiados desesperados à Grécia, país hoje dilacerado pelo neocapitalismo.
Se quiserem outra: foi ontem
exumado o cadáver da mulher, anteriormente considerada suicida pela polícia que
investigou o caso, e agora, com nova perícia, teria sido sim assassinada pelo
marido que também veio assassinar o próprio filho.
Outras? Leiam os jornais de hoje,
de amanhã...
O Humano escureceu.
Até breve.
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