quarta-feira, 5 de agosto de 2015

COVARDIA



Fui calado depois de, na semana passada, tomar contato com três episódios. O brutal assassinato do leão, a crueldade com o jovem atropelado na linha do trem e o saque ao caminhão acidentado.

Todos os dias caçadores profissionais e amadores matam animais, sempre soubemos. Algumas espécies estão sendo dizimadas, sabemos. Ocorre que as circunstâncias do assassinato desse leão específico denota simbolicamente a condição atual da tragédia humana.

Assistir a entrevista da mãe do jovem atropelado por um trem - e, depois ter o corpo esmagado por outro ainda - dizendo que ela ficou indignada com a notícia sem saber que se tratava do seu filho, me levou a um desespero sem medida.

O saque a um caminhão acidentado com as pessoas freneticamente avançando sobre a carga e sem se importarem com o motorista preso às ferragens foi para mim desolador.

E não será necessário aqui entrar em detalhes descritivos sobre os episódios citados, o leitor, que não saiba exatamente sobre aquilo que estou me referindo pode escolher tantos outros fatos semelhantes que nos assolam o cotidiano. Comigo, apenas, chegou a um ponto insustentável.

Bastou-me.

Na última sexta-feira, após assistir aos jornais televisivos, subi para o meu quarto e ali fui tomado por desmensurada tristeza.

Não há nada que se possa fazer para conter a barbárie.

Minhas reflexões atuais convidam-me para algumas atitudes em um plano estritamente pessoal. A vontade que tenho é de exilar-me, recolher-me de vez à minha insignificância, à minha impotência e calar-me de vez.

Não que eu acredite que minha modesta contribuição ao debate do que se passa via este blog seja relevante, mas porque eu sei exatamente o que isto significará para mim. Jamais imaginei suicidar, intelectualmente.

No domingo, pela manhã, sentei-me com Pretinha para listar com ela o nome dos amiguinhos de Noninha que compareceram ao aniversário de três anos, no sábado, de minha netinha.

Minha intenção era postar algo alusivo à data.

Achei, no entanto, que a minha alegria não era justa. Talvez até vergonhosa. Eu tinha que fazer algo com minha tristeza derivada de tudo o que constato e não relevar aquilo que me emociona e me alegra quando estou com os meus entes queridos.

Vou ficar com minha alegria reservada, especialmente trazida pelo convívio com os netos, por ela posso fazer algumas traquinagens, imaginar através deles outro porvir. Viver de outra modalidade de esperança. Vou egoizar-me.

E não mais direi nada sobre tudo.

Para assemelhar-me.


O dasletra finda aqui e, de forma definitiva, não me despeço com um Até Breve.

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