CIUMINHO BÁSICO
escuta
calado
a proposta rude
deste meu
ciúme:
vou cercar tua boca
com arame farpado
pôr cerca elétrica
ao redor dos braços
na envergadura
pra bloquear o abraço
vou serrar teus sorrisos
deixar apenas os sisos
esculhambar com teus olhos
furá-los com farpas
queimar os cabelos
no pau acendo uma tocha
que se apague apenas
ao sinal da minha xota
finco no cu uma placa
"não há vagas, vagabundas"
na bunda ponho uma cerca
proíbo os arrepios
exceto os de medo
e marco no lombo, a brasa,
a impressão única do meu dedo.
Este poema da poetisa mineira Ana Elisa Ribeiro custou o emprego de duas professoras do Município de Santa Luzia. Elas “trabalharam" o texto com alunos de escola da rede pública.
Imoralidade.
Liz chegou da escola e me perguntou se eu sabia o que era cu e xota e porque a professora falou que pintinho é pau.
Eu disse que é muito comum dar nomes diferentes a mesma coisa, objeto, pessoa, enfim tudo pode receber outros nomes. Mas quis saber dela porque me perguntava.
- Hoje a professora leu uma poesia que falava...
No mínimo foi corajosa a escolha do poema para levar à interpretação de crianças e/ou adolescentes. Composição explícita e sanguínea do lugar do ciúme, fincando como tatuagem sobre o outro.
Mas não é mais ou menos assim que se dá? Embora não queira, necessariamente, a poesia "falar” do que versa.
A moral e os bons costumes já queimou muita gente viva, já enlouqueceu muitos e muitas, já feriu e deserdou muitos, já escondeu muitas paixões, destruiu inúmeros amores, matou poetas e escritores.
A moral e os bons costumes de hoje, pedófila em sacristias e conventos, na rede e em tantos lares perdidos.
A moral e os bons costumes, conto da carochinha para ser usado por satrápias para que justifiquem os seus atos puros.
Logo quem.
Até breve.
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