Ah, triste Pátria Educadora!!!
Agora o jovem deverá cometer crime
hediondo para ter direito a internato sócio-educativo, não mais por apenas três
anos. Mas por dez! E os milhões de outros adolescentes que não tiverem
condições de ingressarem no crime, o que farão?
Não era mais sensato investir todos
os recursos disponíveis à carceragem construída pela hipocrisia, em escolas
verdadeiramente sócio-educativas?
Quem aí acredita que as casas de
reparo são escolas? Ops, perdoem-me, só se forem academias de barbáries e
fomentadoras de criminosos, agora com a extensão de três para até dez anos de
formação transgressora.
Ninguém se educa privado de
liberdade.
Reduzir a maioridade penal ou
elevar o tempo de detenção não vai nos blindar do crime juvenil, nem vai fazer
com que percamos tantos jovens na flor da juventude, desesperançados, vítimas
de nossa falácia.
Coincidência ou não, procura de
compreensão, assisti ontem via Youtube à minissérie “Descalço sobre a Terra Vermelha”, baseada em livro homônimo do
jornalista catalão Francesc Escribano, produção da TVE (Educativa da
Espanha), da TV3 da Catalunha, da produtora Minoria Absoluta, da TV
Brasil e da produtora paulista Raiz Produções Cinematográficas.
Trata da vida de dom Pedro
Casaldáliga, desde sua chegada ao Brasil até sua visita ao Vaticano, quando se
apresentou ao Papa João Paulo II e ao conservador cardeal Joseph Ratzinger,
então à frente da Congregação para a Doutrina da Fé, herdeira da Santa
Inquisição, onde deveria explicar sua ação teológica a favor dos pobres e dos
oprimidos.
A história de Pedro Casaldáliga se
desenvolve “em torno de valores universais”, no contexto da teoria filosófica e
teológica da libertação e da situação geopolítica dos anos 1970, na ditadura
brasileira.
O filme, uma belíssima e apurada
produção, contou com a participação de mais de mil figurantes de povoados e das
cidades de Luciara e São Félix do Araguaia, locais onde foram construídas
verdadeiras cidades cenográficas, representando como eram esses lugares nos
idos dos anos 1970.
Retrata com grande força e
sensibilidade a violência e tensão existentes, ainda hoje, nos conflitos
entre latifundiários, invasores de terras indígenas, posseiros e a ação
pastoral da Prelazia de São Félix que, tendo dom Pedro à frente, desde sempre
esteve ao lado dos despossuídos. Não é difícil se fazer uma analogia com aquilo
que se passa agora, também, em nossas cidades.
Assistam em: ESCOLAS. Atentem
que o filme contempla três partes, todas elas acessíveis via este link.
E, se quiserem mesmo, aprofundem:
“Não analiso o Capitalismo, primariamente, em termos de propriedade
privada e dos meios de produção ou de mercado, pelo contrário, conceituo o
capitalismo como uma forma historicamente específica de interdependência social
com um caráter impessoal e aparentemente objetivo. Essa forma de interdependência
se realiza por intermédio de relações sociais constituídas com formas
determinadas de prática social que não obstante se tornam quase independentes
das pessoas engajadas nestas práticas. O resultado é uma forma nova e recentemente,
abstrata de dominação que sujeita as pessoas a imperativos e coerções
estruturais impessoais que não podem ser adequadamente compreendidos em termos
de dominação concreta, por exemplo, dominação pessoal ou de grupo”.
Em Tempo, trabalho e dominação
social, editora Boitempo, do sociólogo canadense Moishe Postone.
Até breve.
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