quarta-feira, 15 de julho de 2015

TERAPÊUTICA




Ah, triste Pátria Educadora!!!

Agora o jovem deverá cometer crime hediondo para ter direito a internato sócio-educativo, não mais por apenas três anos. Mas por dez! E os milhões de outros adolescentes que não tiverem condições de ingressarem no crime, o que farão?

Não era mais sensato investir todos os recursos disponíveis à carceragem construída pela hipocrisia, em escolas verdadeiramente sócio-educativas?

Quem aí acredita que as casas de reparo são escolas? Ops, perdoem-me, só se forem academias de barbáries e fomentadoras de criminosos, agora com a extensão de três para até dez anos de formação transgressora.

Ninguém se educa privado de liberdade.

Reduzir a maioridade penal ou elevar o tempo de detenção não vai nos blindar do crime juvenil, nem vai fazer com que percamos tantos jovens na flor da juventude, desesperançados, vítimas de nossa falácia.

Coincidência ou não, procura de compreensão, assisti ontem via Youtube à minissérie “Descalço sobre a Terra Vermelha”, baseada em livro homônimo do jornalista catalão Francesc Escribano, produção da TVE (Educativa da Espanha),  da TV3 da Catalunha, da produtora Minoria Absoluta, da TV Brasil e da produtora paulista Raiz Produções Cinematográficas.

Trata da vida de dom Pedro Casaldáliga, desde sua chegada ao Brasil até sua visita ao Vaticano, quando se apresentou ao Papa João Paulo II e ao conservador cardeal Joseph Ratzinger, então à frente da Congregação para a Doutrina da Fé, herdeira da Santa Inquisição, onde deveria explicar sua ação teológica a favor dos pobres e dos oprimidos.

A história de Pedro Casaldáliga se desenvolve “em torno de valores universais”, no contexto da teoria filosófica e teológica da libertação e da situação geopolítica dos anos 1970, na ditadura brasileira.

O filme, uma belíssima e apurada produção, contou com a participação de mais de mil figurantes de povoados e das cidades de Luciara e São Félix do Araguaia, locais onde foram construídas verdadeiras cidades cenográficas, representando como eram esses lugares nos idos dos anos 1970.

Retrata com grande força e sensibilidade a violência e tensão existentes, ainda  hoje, nos conflitos entre latifundiários, invasores de terras indígenas, posseiros e a ação pastoral da Prelazia de São Félix que, tendo dom Pedro à frente, desde sempre esteve ao lado dos despossuídos. Não é difícil se fazer uma analogia com aquilo que se passa agora, também, em nossas cidades.

Assistam em: ESCOLAS. Atentem que o filme contempla três partes, todas elas acessíveis via este link.

Se quiserem, ainda, não custa reler BANAL.

E, se quiserem mesmo, aprofundem:

“Não analiso o Capitalismo, primariamente, em termos de propriedade privada e dos meios de produção ou de mercado, pelo contrário, conceituo o capitalismo como uma forma historicamente específica de interdependência social com um caráter impessoal e aparentemente objetivo. Essa forma de interdependência se realiza por intermédio de relações sociais constituídas com formas determinadas de prática social que não obstante se tornam quase independentes das pessoas engajadas nestas práticas. O resultado é uma forma nova e recentemente, abstrata de dominação que sujeita as pessoas a imperativos e coerções estruturais impessoais que não podem ser adequadamente compreendidos em termos de dominação concreta, por exemplo, dominação pessoal ou de grupo”.

Em Tempo, trabalho e dominação social, editora Boitempo, do sociólogo canadense Moishe Postone.



Até breve.

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