quarta-feira, 22 de julho de 2015

QUESOLIDÃOQUENADA



Falando de cunha e lama, apreciei muito o final da coluna A cabeça dos oligarcas de Elio Gaspari, publicada hoje na Folha.

“Afora os amigos que fazem advocacia auricular junto a magistrados, resta a ideia da fabricação da crise institucional. Ela seria tão grande que a Lava Jato passaria a um segundo plano. É velha e ruim. Veja-se por exemplo o que aconteceu ao vigarista americano Bernard Maddoff: na manhã de 11 de setembro de 2001, ele sabia que seu esquema de investimentos fraudulentos estava podre. (Era um negócio de US$ 65 bilhões.) Quando dois aviões explodiram nas torres gêmeas de Nova York e elas desabaram, matando três mil pessoas, ele pensou: ‘Ali poderia estar a saída. Eu queria que o mundo acabasse’.

Madoff contou isso na penitenciária onde, aos 77 anos, cumpre uma pena de 150 anos.”

Exatamente por isto quero crer na cunha colocada na lama (ABSURDAR).

Mais do que a recuperação aos nossos cofres dos petrobrasdoláresbandalhados o que podemos tirar da grita é a depuração da gentalha que ocupa as instituições políticas há décadas. Somente eles próprios seriam capazes de se destruírem.

Se os magistrados tiverem mais do que coragem, extremíssima competência contra as inúmeras cascas-de-bananas-processuais que o intricado arcabouço jurídico os coloca, a nossa chance de ver o circo pegar fogo, conosco – os palhaços – de fora da lona, é imensa.

Fico aqui comigo mesmo vendo o que sobraria. Provavelmente uma verdade que todos nós sabemos e de há muito, mas Homo Otários historicamente fizemos de conta que não fomos nós próprios que urdimos.
Não está na hora de se revelar não somente a recusa de uma sociabilidade envenenada, porém fazer o chamamento para um tipo de solidariedade nova, o apelo por uma comunidade por vir?

Mesmo que ao preço da familiaridade com o mundo se desprender de estruturas da vida aprisionantes e fazê-las voar pelos ares, mesmo que de maneira silenciosa? Com sua carga antissocial esse ímpeto pode até ter um elo demoníaco ou terrorista aos olhos de todos nós, mas o que está em jogo nisso de “pulsão anarquista” é uma resistência ao domínio aglutinante da pústula que nos (des)governa.

Quando a vida é reduzida a uma tal vida besta, nesse esgotado hipnótico mundo consumista dos homo otários, quando a dissolução das formas institucionais ou identitárias que antes asseguravam alguma consistência ao laço social, quando a dissolução dessas formas apenas reitera a gregariedade atomizada cabe indagar o que poderia ainda nos sacudir de tal estado de letargia.

Minha solidão me arrebata. Preciso ser solidário ainda que solitário.

Vivemos em um capitalismo em rede que enaltece ao máximo as conexões e esconjura a solidão, porém esse mesmo capitalismo produz toneladas de uma nova e outra solidão e uma nova angústia, a angústia do desligamento. O capitalismo contemporâneo produz não só essa nova angústia de ser desconectado da rede digital, mas também de ser desconectado das redes de vida cujo acesso é mediado crescentemente por pedágios comerciais impagáveis pela grande maioria.

Estou ciente disso. A grande maioria está excluída da consciência e dos fatos, portanto sem a menor condição de se rebelar contra eles. O Povo não há. Mas o que fazer senão pregar aos poucos que nos restam, privilegiados pela escuta e a visão verdadeira do que se passa?

Nós somos muitos, os solitários.

Que modalidades de êxodo, de escape, de exílio voluntário ou involuntário, que modalidades de curto-circuito silencioso ou ruidoso podem vir a denunciar tal contexto de sobrevivencialismo maciço, por mais místicos, psicóticos ou suicidas que pareçam essas formas de êxodo?

Quais e quantos gestos solitários, mas também experiências instituídas que lhes fazem eco podem reivindicar uma distribuição outra entre o que está vivo e o que está morto, entre viver e sobreviver, entre aquilo que é desejável e aquilo que é intolerável?

Quantos gestos solitários e também experiências instituídas podem reinventar a relação entre solidão e vida coletiva?

De modo tal que o desafio dos solitários contrariamente a qualquer reclusão autista, ainda que eles se chamem aliens e mesmo que termine em um hospício o desafio deles é sempre o de encontrar ou reencontrar o máximo de conexões, estender o mais longe possível o fio de suas simpatias vivas.

Puta drama, esse, daqueles que serão condenados especialmente por si próprios, por terem visto tanto e transformado tão pouco.

Filosofia demais apenas para dizer: Abaixo a Vigarice! Que a lama seja movediça e drague os infames.



Até breve.

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