Fomos assistir segunda-feira à
noite, no cinema, ao filme PERMANÊNCIA do diretor Leonardo Lacca, vencedor do
prêmio de melhor filme no festival de Recife CINE PE. A sessão contou apenas
com dois expectadores: eu e Ela.
Cinzento drama que tem como co-personagem
a cidade de São Paulo. A sonoplastia mantém permanente o som da megalópole.
O roteiro nos deixa livres para preencher
o vazio que a obra nos aponta. Os diálogos são pueris, coloquiais, de um
cotidiano sem brilho e nem graça. No entanto, os corpos dos protagonistas são
extraordinariamente tomados por uma angústia de uma procura comovente.
A cena do casal no cinema, dando-se
as mãos, é sofreguidão pura.
A fluidez e a impermanência também
nas relações humanas é retratada por uma fotografia e enquadramentos dos atores
que testam a competência extrema da interpretação dos mesmos.
Irandhir Santos é hoje um dos nossos melhores intérpretes. Rita Carelli e Laila Pas se não são, são
no filme a citação de Caetano na canção SAMPA: “da deselegância discreta de tuas meninas”.
Lailas Pas faz nu frontal, em uma
cena deslumbrante. O filme não seria o mesmo faltasse esta cena. O corpo como
império do desejo do outro, como se ali residisse a insolitude. Santa procura.
Nada mais divino do que Eros.
O fato de estarmos somente eu e Ela
assistindo a sessão contribuiu para ampliar meu incômodo produtivo. Durante o
filme fiquei pensando: tempos danados os nossos, em que os cadeados que selaram
sonhos de permanência foram retirados da Pont des Arts em Paris.
Tudo é breve, instantâneo, fugaz,
acinzentado, superficial, menos a fina flor do desejo. Ele mora ali muito perto
de duas solidões que se aguardam: intenso, descomunal, inexplicável, aquímico.
Não estou mais capaz de compreender
o novo que rola nos corações dos de trinta ou mesmo nos de quarenta. Penso com
minha alma do milênio passado. Portanto, torto, enviesado, restrito e piegas.
Meu sangue é da cor de um tango, até nas vísceras. Meu canto é um arrastado
flamenco. Buenos Aires e, antes, Catalunha, deformaram ad eternum meu sentir.
Quando vejo um filme desses fico
ainda com a esperança de que nem tudo está perdido.
Até breve.
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