No momento contamos com sessenta
milhões de refugiados por força de conflitos armados, fome e miséria. Esta
semana foi noticiada a compra pela Rússia de quarenta potentes mísseis
nucleares. Recessão com inflação aqui e dois ou três probleminhas domésticos.
Azedume.
Para o filósofo francês Gilles Deleuze
(1925-1995) um homem é de esquerda quando se ocupa de questões do geral para o
particular.
Importa-se com o que se passa no
planeta, no mundo, depois em seu país, em sua cidade e, somente depois, e
ainda, com aquilo que lhe afeta “mais
diretamente”.
Estar à esquerda é, essencialmente,
ter um olhar sobre o Humano, como espécie.
Fosse eu olhar para a minha vida
mais comezinha não teria motivo algum para me azedar, antes pelo contrário. No
porvir meus netos são mais do que lenitivos puros na veia.
O que vale, pois, a
intelectualidade, manifesta por um discurso com reduzido alcance, projeção e
ressonância veiculado na web? Eu deveria mesmo era estar fazendo uma ação de
boa vontade. Demandas por isto não me
faltam, inclusive muito perto de mim.
Posso alinhavar um sem número de
razões para prosseguir na tarefa de olhar
e opinar e não mover um centavo de meus ganhos no atendimento das demandas mais
alarmantes e concretas.
Serei julgado por mim por isto.
Estou certo que é uma questão de tempo. Estive mais ocupado com a Humanidade do
que com os homens, alguns irmãos e irmãs, por exemplo.
A objetividade do contemporâneo me
assusta aos gritos, às vezes. A ausência da subjetividade, a distância da
reflexão, a superficialidade do debate, a patrulha sobre a não concordância, o
massacrante aculturamento do imediatismo, do aqui e agora, sem perspectiva e
futuro.
Às vezes me dá um ímpeto de
recolher-me à minha insignificância e ir morar em Santa Luzia. Não ler nada,
nem assistir a filmes-cabeça, nem me dedicar a pesquisas na web, nem assistir a
jornais televisivos, não conversar com ninguém senão sobre frugalidades.
Brincar com meus netos de massinha,
guaches, bolas de futebol, carrinhos de rolimãs, pula-pula.
Curar-me da realidade objetiva e
dar de costas absolutamente a tudo, reservando-me o direito de lobotomizar-me.
De sexta a domingo, contudo, estarei
como curador de um evento que reunirá trezentos dos mais influentes executivos
do país. Tema do encontro: Governança Sustentável.
Quem sabe?
Até breve.
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