Hoje, pela manhã bem cedo, no
trajeto em meu carro para o aeroporto onde embarquei para São Paulo, coloquei
um CD que comprei em Lisboa de Carminho, a exuberante fadista.
Ao som de “saudades do Brasil em
Portugal” pensava sobre a declaração do hipócrita ex-diretor da Retrobrás, hoje
premiado delator no processo de lavagem: “Precisamos
deixar a hipocrisia e reconhecermos que são os políticos os responsáveis por
toda essa sujeira”.
O Estado é que é corrupto ou
Sociedade? A Sociedade é corrupta porque o Estado é corrupto? Ou a Sociedade e
o Estado são corruptos em si?
O que veio primeiro: a galinha ou o
ovo?
O ovo senão não existiria a
galinha. A galinha senão não existiria o ovo.
Suponhamos que concluíssemos que
galinha e ovo são nefastos. Com quem acabamos? Se acabarmos com a galinha e
mantivermos o ovo poderá vir dele outra galinha. Se destruirmos o ovo a galinha
poderá vir a botar outro, outros ovos. Sim, mas como?
Com o galo, ora.
O galo entra na história.
Suponhamos que o galo seja o Capital
que derrama seu sêmen em inúmeras galinhas poleiros-a-fora.
Então matamos o galo? Não teremos
ovos. Qual o problema de não termos ovos? A Sociedade ou o Estado? A Sociedade
pode prescindir do Estado? O poleiro seria uma zorra total.
Só galinha estéril não funcionaria
e nem ovo choco.
Façamos o seguinte, então. Destruímos
o ovo, matamos a galinha, montamos no galo que sobrar e voltamos para Portugal
de onde nunca deveríamos ter saído.
Deixemos aqui os selvagens silvícolas
com suas galinhas e seus ovos gozando de suas naturezas.
Eu, com o garnisé inessiessiano,
fico. Quinem o primeiro Pedro.
Vou para Santa Luzia criar galinhas
e colher os ovos delas junto com meus netos, numa esperança insana de romper um
ciclo.
Quando cheguei no aeroporto Carminho
entoava Cais do Milton e do Ronaldo Bastos:
Eu queria ser feliz, invento o mar
Invento em mim o sonhador
Para quem quer me seguir, eu quero mais
Tenho um caminho do que sempre quis
E um saveiro pronto pra partir
Invento o cais
E sei a vez de me lançar
Até breve.
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