Amanhã compareço a um almoço
comemorativo ao aniversário de setenta anos de um grande amigo nosso. Quando fui
redigir o cartão, que acompanhará um singelo presente, refleti que há setenta
anos o mundo vivia o estertor de uma das maiores tragédias da humanidade.
A Segunda Guerra Mundial que ceifou
mais de 73 milhões de vidas humanas entre combatentes e civis e que durou de 1
de setembro de 1939 a 2 de setembro de 1945.
O que pensavam os pais desse nosso
amigo, que nasceu em maio, portanto pouco mais de três meses antes de terminar
o horrendo conflito?
Recebi de uma ONG internacional uma
solicitação de apoio, inclusive financeiro, para solidarizar-me com algo de
proporções menores, mas tão hediondo quanto, que está acontecendo agora sob os
nossos olhos e ouvidos.
“Os povos mais perseguidos de nosso planeta estão embarcando em
verdadeiros "navios da morte" para fugir da violência e encontrar um
lugar seguro para suas famílias. Em vez de responder com humanidade, porém,
nossos governos estão fechando as fronteiras, deixando que essa gente morra de
fome e se afogue no mar.
O Mediterrâneo e o mar de Andamão estão se tornando cemitérios.
Mianmar está expulsando o povo da etnia Rohingya e, com isso, milhares de
famílias estão à deriva no mar, impotentes, forçadas a beber sua própria urina
porque haviam sido rejeitadas pela Malásia, Tailândia e Indonésia. Todas as
semanas, cidadãos sírios e africanos também correm o perigo de morrer afogados
na costa sul da Europa ao arriscar a travessia assustadora, tida como a última
esperança de escapar de tortura, fome e traficantes.
Estamos enfrentando a maior crise de refugiados desde a Segunda Guerra
Mundial, mas até agora os governos estão permitindo que pessoas morram em meio
a um clima crescente de xenofobia.
O governo britânico permitiu que apenas 143 cidadãos sírios dentre 4
milhões de refugiados entrassem no país!
Trinta mil refugiados poderão morrer afogados apenas no Mediterrâneo
neste ano. Estas famílias, que estão fugindo do terror e da miséria, têm como
única opção escolher embarcar nestes barcos perigosos.”
Este é parte do texto que recebi da
ONG.
Até hoje não consegui elaborar bem
o filme de Win Wenders, O Sal da Terra, razão pela qual lavrei AGONIA, GADGET,
ZSCHE e PERCEPTOR. Em extensão reli Deleuze, trechos de Spinoza, que só
exacerbaram meu incômodo. Tentei sair pela tangente em Zsche, pura tolice.
Hoje pajeei Noninha e Tim, para que
Pretinha fosse trabalhar. Amanhã, pela manhã quero muito estar com Antônio. Não
consigo olhar para eles e não pensar em que mundo estarão vivendo daqui alguns
anos.
Quanto à posts eu poderia escolher outros temas,
contudo.
Postar, por exemplo, a respeito da
onda que vem da Europa do crescente hábito do mundo masculino de urinar sentado
ou, com peso de importância semelhante, o corte de R$70 bilhões do orçamento
da União.
Opto pela amargura.
Até breve.
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