“Eu me pergunto pelo tipo de
reconhecimento que dispensamos aos alienados, os errantes, os que perderam suas
almas e estão em um mundo que não lhes parece mais deles e que são ‘forçados’ a
sofrer de um lado do pacto, para ter lugar no mundo dividido entre vítimas e
objetos intrusivos. Por outro lado não houve mudança substancial na história,
para o bem ou para o mal, que não tenha se produzido em uma conjunção entre as
narrativas de sofrimento semelhante à que estamos vivendo agora.” Christian
Ingo Lenz Dunker (*)
Os dois comentários editados no
post anterior são ilustrativos à agonia.
As circunstâncias, talvez, imponham
mesmo e justifiquem o egocentrismo. Traduzindo em miúdos: a vida já é dura
demais para eu cuidar do que é meu, imagine se fosse cuidar ao meu derredor.
Nos anos sessenta diante de
impossibilidades criamos pérolas culturais que até hoje nos marcam:
“Você vem me agarra, alguém vem me
solta
Você vai na marra, ela um dia volta
E se a força é tua ela um dia é
nossa
Olha o muro, olha a ponte, olhe o
dia de ontem chegando
Que medo você tem de nós, olha aí
Você corta um verso, eu escrevo
outro
Você me prende vivo, eu escapo morto.”
Parece que ficou há cinquenta anos
a nossa esperança perdida, quando madrugadas adentro tramávamos a revolução da
qual adviria um admirável mundo novo. “Quando
entrar setembro e a boa nova andar nos campos...”
Ocorre que, parece, tudo é muito
maior do que pode nossa vã filosofia. A questão que nos assola não é nem
política, nem econômica, nem social. A crise profunda de mudança de era não se
trata de uma questão do Homem, mas da Humanidade.
Nosso declínio é mais fundo do que
a opção por um modelo de gestão das riquezas extraídas pelos homens passando
pela exploração de poucos sobre bilhões. É mais crítico do que aquele que
chamamos capitalismo.
Nosso declínio se dá pela
constatação acachapante de quão somos cruéis com nossos semelhantes e da nossa
incapacidade, para além da Ética ou da Moral, de nos refazermos enquanto
espécie.
Há algo que nos suplanta e nos
impõe.
Não nos cabe mais pensar o Homem,
mas ir à essência do que é o verdadeiro Humano. A complexidade de lidarmos com
mais de sete bilhões de seres (no sentido mais essencial do Ser) não é matéria
para disciplinas ortodoxas já conhecidas.
Evoluímos muitas vezes mais nos
meios de operar a Vida do que dar significados à ela.
Reduzimos o viver a uma questão
operacional, como se fôssemos mesmo assujeitados
à nossa própria escravidão.
Não Somos, portanto.
E isto nos torna incapazes de dar o salto. Nem nós, nem deuses
(inúmeros) que criamos à nossa imagem e semelhança podem nos dar respostas ao
Humano demasiado Humano.
Melhor esperar que venha a nossa
única certeza. Quem sabe depois dela é que haja mesmo juízo.
Como no dito dos
Homens: a esperança está depois de nossa morte.
Até breve.
(*)Entrevista à Manuel da Costa Pinto - O Condomínio Brasil - Revista Cult, Ano 18, abril de 2015
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