quinta-feira, 14 de maio de 2015

AGONIA



No retorno para BH ontem, à noite, assisti na TV de bordo do avião uma entrevista do ator Ney Latorraca ao Lázaro Ramos no programa Espelho produção do Canal Brasil.
Ney sofreu uma intercorrência grave quando fazia uma cirurgia de retirada da vesícula que o colocou por meses em situação deplorável. “Morri.” Ele disse. “Pesava 78 quilos antes da cirurgia e cheguei a 40 na fase mais aguda.”
“Quando comecei a me reabilitar não acreditava ser possível mais andar, jamais atuar, minha vida acabara. À partir daí e até hoje, em cada momento, tenho procurado viver cada segundo como se fosse o último dando o maior valor às coisas mais simples. Como me levantar de manhã, poder escovar os dentes, tomar banho, ler um livro. A morte passou a dar sentido à minha vida.”
Fui direto do aeroporto para o cinema assistir O Sal da Terra (o filme sairia de cartaz ontem no Belas Artes), de Win Wenders a partir da obra fotográfica de Sebastião Salgado.
Hoje procurei ler críticas ao filme e encontrei apenas algumas e fazendo referência à obra do fotógrafo, que é magnifica. Mas espere, o que Win Wenders nos mostra ultrapassa e em muito uma narrativa plana sobre o autor das fotos, ainda que o roteiro contemple uma biografia.
Win Wenders nos dá um soco na boca do estômago.
Somos a raça mais cruel do planeta.
Enquanto assistia ao filme pensava, à lágrimas contidas, na letra singela de Beto Guedes da canção homônima ao filme.
Anda!
Quero te dizer nenhum segredo
Falo nesse chão, da nossa casa
Vem que tá na hora de arrumar...
Tempo!
Quero viver mais duzentos anos
Quero não ferir meu semelhante
Nem por isso quero me ferir
Vamos precisar de todo mundo
Prá banir do mundo a opressão
Para construir a vida nova
Vamos precisar de muito amor
A felicidade mora ao lado
E quem não é tolo pode ver...
A paz na Terra, amor
O pé na terra
A paz na Terra, amor
O sal da...
Terra!
És o mais bonito dos planetas
Tão te maltratando por dinheiro
Tu que és a nave nossa irmã
Canta!
Leva tua vida em harmonia
E nos alimenta com seus frutos
Tu que és do homem, a maçã...
Vamos precisar de todo mundo
Um mais um é sempre mais que dois
Prá melhor juntar as nossas forças
É só repartir melhor o pão
Recriar o paraíso agora
Para merecer quem vem depois...
Deixa nascer, o amor
Deixa fluir, o amor
Deixa crescer, o amor
Deixa viver, o amor
O sal da Terra.
É impossível não se abalar com aquilo retratado na Etiópia, em Mali, em Serra Pelada e principalmente em Ruanda e na Bósnia, um "inferno na terra” conflitos mais hediondos da história recente da humanidade.
Deixei o cinema ontem à noite com um gosto amargo na garganta.
A miséria mais do que revolta, nos humilha a todos e a cada um em particular.
Morri.


Até breve.

2 comentários:

  1. E cada um, cada vez mais, agarrado em seus gadgets, nem percebendo o mundo ao seu redor...

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  2. Lembrei dos anos 60, onde lutávamos por algo... "Caminhando contra ao vento, sem lenço, sem documento..."

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