Em dado momento da peça, a
narradora se coloca bem em frente ao palco e consulta à plateia: “Quem aqui tem medo”? Lili, a personagem
central, responde: “De escuridão eu
tenho”.
Caio, um menino de cinco anos que
estava sentado ao meu lado, olhou para mim e perguntou: “Moço, essa peça é de terror”?
A iluminação do palco foi reduzida
e as cenas seguintes passaram a dar conta dos diferentes medos que assolam as
crianças, inclusive aquelas que quase lotaram o teatro vindas, a maioria, de
escolas da rede pública municipal, patrocinadora do evento.
“Num tem medo de escuro, não Lili”! Gritou Noninha, sentadinha
em meu colo, para espanto meu e de todos na plateia.
No período de julho de 1980 a junho
de 1994 produzimos 11.256.886.924.725,42% de inflação enquanto que no período
de julho de 1994 a junho de 2014 o número foi de 361,72%.
O Fundo Monetário Internacional
publicou a expectativa de crescimento da economia para o ano de 2015: Mundo=3,5%,
sendo que Índia (7,5%), China (6,8%), USA (3,1%) Chile (3,0%) e Desertisland (-1,0%).
85 famílias ocupam o topo da
pirâmide da distribuição da riqueza humana no planeta e perto de 1,5 bilhões de
pessoas vivem abaixo da linha da miséria absoluta, 800 delas vitimas de
afogamento (tentavam se libertar de sua condição) no Mediterrâneo no último
final de semana.
“Quem aqui tem medo?”, perguntei à plateia de empresários, ontem, em
workshop.
Antes de mim estiveram uma analista
do ambiente econômico e político, um estrategista de mercado e um membro do
sindicato nacional das indústrias do setor da associação que organizou o
evento.
Um dos empresários presentes
perguntou à economista, que acabara de pintar trágicas perspectivas quando de
sua exposição sobre cenários: “Até quando
vai durar essa crise”?
Iniciei o workshop provocando com a
tese de que a crise dura, se é que termina, enquanto se estiver vivo, para
maior desespero dos presentes. Até porque, a crise é própria dos que têm, por
seus próprios recursos, empreender para sobreviver.
Consultei à plateia quem é o
Primeiro quando a sociedade discute a legislação para a administração de Terceiros.
“O governo” - me respondeu um dos empresários, para o meu
desencanto. Quase tive um gato. “Como nomeamos aquele que tem a propriedade
da empresa?” Depois de ouvir as mais interessantes respostas, lembrei a
todos que estávamos tratando dos Acionistas que têm, como propriedade, AÇÕES,
ou seja, daqueles mesmos que compunham a plateia.
“Lamento informa-los: vocês são os Primeiros.”
Quem efetivamente produz riqueza
são aqueles que têm propriedade sobre suas ações apesar das circunstâncias, dos
obstáculos, dos riscos e, no caso de Desertland da imensa incapacidade e
leviandade da governança do estado brasileiro, em todas as suas esferas.
Adorei o workshop, tanto quanto a
peça com Noninha, porque me diverti a valer com os fantasmas trazidos das plateias.
Confesso que não o fiz, mas me deu uma vontade danada de encerrar minha
atividade consultiva de ontem à tarde com: “Num
tenha medo de escuro não, Empresário”!
Até breve.
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