sábado, 25 de abril de 2015

TUTU



Em dado momento da peça, a narradora se coloca bem em frente ao palco e consulta à plateia: “Quem aqui tem medo”? Lili, a personagem central, responde: “De escuridão eu tenho”.

Caio, um menino de cinco anos que estava sentado ao meu lado, olhou para mim e perguntou: “Moço, essa peça é de terror”?

A iluminação do palco foi reduzida e as cenas seguintes passaram a dar conta dos diferentes medos que assolam as crianças, inclusive aquelas que quase lotaram o teatro vindas, a maioria, de escolas da rede pública municipal, patrocinadora do evento.

“Num tem medo de escuro, não Lili”! Gritou Noninha, sentadinha em meu colo, para espanto meu e de todos na plateia.

No período de julho de 1980 a junho de 1994 produzimos 11.256.886.924.725,42% de inflação enquanto que no período de julho de 1994 a junho de 2014 o número foi de 361,72%.

O Fundo Monetário Internacional publicou a expectativa de crescimento da economia para o ano de 2015: Mundo=3,5%, sendo que Índia (7,5%), China (6,8%), USA (3,1%) Chile (3,0%) e Desertisland (-1,0%).

85 famílias ocupam o topo da pirâmide da distribuição da riqueza humana no planeta e perto de 1,5 bilhões de pessoas vivem abaixo da linha da miséria absoluta, 800 delas vitimas de afogamento (tentavam se libertar de sua condição) no Mediterrâneo no último final de semana.

“Quem aqui tem medo?”, perguntei à plateia de empresários, ontem, em workshop.

Antes de mim estiveram uma analista do ambiente econômico e político, um estrategista de mercado e um membro do sindicato nacional das indústrias do setor da associação que organizou o evento.

Um dos empresários presentes perguntou à economista, que acabara de pintar trágicas perspectivas quando de sua exposição sobre cenários: “Até quando vai durar essa crise”?

Iniciei o workshop provocando com a tese de que a crise dura, se é que termina, enquanto se estiver vivo, para maior desespero dos presentes. Até porque, a crise é própria dos que têm, por seus próprios recursos, empreender para sobreviver.

Consultei à plateia quem é o Primeiro quando a sociedade discute a legislação para a administração de Terceiros.

“O governo” - me respondeu um dos empresários, para o meu desencanto. Quase tive um gato.  “Como nomeamos aquele que tem a propriedade da empresa?” Depois de ouvir as mais interessantes respostas, lembrei a todos que estávamos tratando dos Acionistas que têm, como propriedade, AÇÕES, ou seja, daqueles mesmos que compunham a plateia.

“Lamento informa-los: vocês são os Primeiros.”

Quem efetivamente produz riqueza são aqueles que têm propriedade sobre suas ações apesar das circunstâncias, dos obstáculos, dos riscos e, no caso de Desertland da imensa incapacidade e leviandade da governança do estado brasileiro, em todas as suas esferas.

Adorei o workshop, tanto quanto a peça com Noninha, porque me diverti a valer com os fantasmas trazidos das plateias. Confesso que não o fiz, mas me deu uma vontade danada de encerrar minha atividade consultiva de ontem à tarde com: “Num tenha medo de escuro não, Empresário”!


Até breve.

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