Deus e os homens pintaram uma tela
contemplando castelos, muralhas, roseirais, vinhedos e oliveiras: MONTALCINO.
Região abençoada, recebe ventos
vindos do Mar Mediterrâneo distante 50 km, que contribuem no perfume das uvas,
além de ter recebido (nos primórdios) do Vulcão Amiata preciosos minerais
indispensáveis à cultura vinícola.
Visitamos a Enoteca do Castelo
Banfi, a maior vinícola da Itália. Produz onze milhões de garrafas por ano, das
quais 70% são exportadas sendo 40% para os USA. Lá degustamos os vinhos Chianti
Superiore 2013, Brunello de Montalcino 2010 e Florus 2012 acompanhados por
Consumé de Legumes, Filé de porco envolto em bacon acompanhado de verduras e
bolo de castanhas com calda de vinho.
Em seguida fomos à BIONDI SANTI
vinícola mais artesanal da Itália. Está na sétima geração e utiliza até hoje a
mesma tecnologia e processo para produzir os vinhos quando de sua fundação.
Produz de oitenta a cem mil garrafas/ano.
O proprietário é quem participa
diretamente do plantio, colheita e fabricação. Defende com unhas, dentes e
prêmios internacionais a tradição artesanal fundada em três princípios que dão
o terroir dos vinhos da Biondi Santi:
· IDADE DOS TONÉIS: só utiliza tonéis antigos, hoje o
mais novo em utilização data de 1900;
· MADEIRA DOS TONÉIS: somente utiliza carvalho cultivado
na Croácia, porque não interferem no buquê do vinho como acontece com o
carvalho francês utilizado pela maioria das outras vinhas e
· CAPACIDADE DOS TONÉIS: somente utiliza tonéis com mais
de 100 hectolitros (10.000 litros). Tonéis menores aceleram o processo de
envelhecimento do vinho.
Prova de dois vinhos depois fomos
conhecer a encantadora Pienza, um exemplo urbanístico do renascimento definida
como cidade ideal, cidade da utopia, terra do Papa Pio II e escolhida por
Franco Zeffirelli para filmar Romeu e Julieta.
Na entrada de Pienza há um
arco e nele fixada uma placa: Destruído em 1945 – Reconstruído em 1955. A
cidade em 15 de junho de 1945 foi bombardeada, quando morreram 22 pessoas. Em
setembro do mesmo ano, outras cinco pessoas morreram vitimas da explosão de
artefatos bélicos lançados em junho.
Para um intimista como eu, cidade
modelo para reduto da solidão.
No final da tarde fomos visitar a
terceira vinícola do dia: CASTIGLION DEL BOSCO. Projeto arrojado e charmoso de
seu proprietário Mássimo Ferragamo, filho mais novo de Salvatore do império de
moda italiano.
Em tonéis de aço com a capacidade
de até 10.000 litros eles maceram a matéria prima para os vinhos durante
apenas 15 dias e depois transferem para barricas de carvalho francês com
capacidade de 250 litros cada.
Produzem duzentas e cinquenta mil
garrafas/ano entre elas 1100 de reserva especial das quais 888 são exportadas
para a China. Cada ano essas garrafas recebem o rótulo alusivo ao ano do zodíaco
chinês. 2006 foi o ano do cavalo.
Existem pelo menos 240
vinícolas que produzem o principal vinho da região o Brunello de Montalcino em
ferrenha disputa entre a tradição (poucas unidades com longo processo de
produção – pode durar até seis anos entre a colheita e a entrega para consumo)
e contemporaneidade (milhões de unidades com reduzido tempo de fabricação e
comercialização).
Por favor não perguntem a minha
opinião sobre cada um deles. Troglodita que sou e macerado em ignoranças
gerais, não fico diferente à vinhos: quanto a estes acho que a qualidade não
depende do líquido em si (que me perdoem os aficionados à Baco), mas da ocasião
e com quem você os compartilha.
Ah, sim, a história de nosso
companheiro de viagem. Ele foi convidado pelo governo americano para conhecer,
durante estada de quarenta dias, o sistema judiciário do país. Percorreu boa
parte dos mais de quarenta estados e, em um deles, foi convidado por um juiz da
Suprema Corte para jantar em sua residência.
O juiz foi apanhá-lo no hotel na
noite marcada, passou em uma loja de conveniência, comprou pão, sorvete e uma
garrafa de vinho. Chegando à casa do juiz foi recepcionado pela esposa e a
única filha do magistrado.
Surpreso, porque esperava que o
jantar fosse para um número expressivo de convidados, sentou-se à mesa e dividiu
com os comensais presentes (juiz, esposa e filha) o pão, a garrada de vinho e
como sobremesa sorvete.
Terminada a refeição o juiz o conduziu pelo braço à uma sala, ligou o aparelho de som e sentou-se em uma poltrona logo depois
de acender o cachimbo. A esposa entrou na sala e convidou nosso companheiro de viagem para dançar. Ele, constrangidíssmo, dançou seguidas músicas com a esposa do juiz da Suprema
Corte Americana e não sabia o que fazer ao ter os seus cabelos e as orelhas
acariciados pela mulher.
Quando se despedia tomou coragem e
perguntou o por quê do convite.
- “O senhor mora em que cidade no Brasil”?
- “Belo Horizonte”...
- “Sempre quisemos ter em casa alguém que morasse em cidade do Brasil que
tem o mesmo nome da nossa rua”.
Até breve.
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