quarta-feira, 1 de abril de 2015

MENUS



Deus e os homens pintaram uma tela contemplando castelos, muralhas, roseirais, vinhedos e oliveiras: MONTALCINO.

Região abençoada, recebe ventos vindos do Mar Mediterrâneo distante 50 km, que contribuem no perfume das uvas, além de ter recebido (nos primórdios) do Vulcão Amiata preciosos minerais indispensáveis à cultura vinícola.

Visitamos a Enoteca do Castelo Banfi, a maior vinícola da Itália. Produz onze milhões de garrafas por ano, das quais 70% são exportadas sendo 40% para os USA. Lá degustamos os vinhos Chianti Superiore 2013, Brunello de Montalcino 2010 e Florus 2012 acompanhados por Consumé de Legumes, Filé de porco envolto em bacon acompanhado de verduras e bolo de castanhas com calda de vinho.





Em seguida fomos à BIONDI SANTI vinícola mais artesanal da Itália. Está na sétima geração e utiliza até hoje a mesma tecnologia e processo para produzir os vinhos quando de sua fundação. Produz de oitenta a cem mil garrafas/ano.

O proprietário é quem participa diretamente do plantio, colheita e fabricação. Defende com unhas, dentes e prêmios internacionais a tradição artesanal fundada em três princípios que dão o terroir dos vinhos da Biondi Santi:

·      IDADE DOS TONÉIS: só utiliza tonéis antigos, hoje o mais novo em utilização data de 1900;

·       MADEIRA DOS TONÉIS: somente utiliza carvalho cultivado na Croácia, porque não interferem no buquê do vinho como acontece com o carvalho francês utilizado pela maioria das outras vinhas e

·     CAPACIDADE DOS TONÉIS: somente utiliza tonéis com mais de 100 hectolitros (10.000 litros). Tonéis menores aceleram o processo de envelhecimento do vinho.



Prova de dois vinhos depois fomos conhecer a encantadora Pienza, um exemplo urbanístico do renascimento definida como cidade ideal, cidade da utopia, terra do Papa Pio II e escolhida por Franco Zeffirelli para filmar Romeu e Julieta.

Na entrada de Pienza há um arco e nele fixada uma placa: Destruído em 1945 – Reconstruído em 1955. A cidade em 15 de junho de 1945 foi bombardeada, quando morreram 22 pessoas. Em setembro do mesmo ano, outras cinco pessoas morreram vitimas da explosão de artefatos bélicos lançados em junho.

Para um intimista como eu, cidade modelo para reduto da solidão.





No final da tarde fomos visitar a terceira vinícola do dia: CASTIGLION DEL BOSCO. Projeto arrojado e charmoso de seu proprietário Mássimo Ferragamo, filho mais novo de Salvatore do império de moda italiano.

Em tonéis de aço com a capacidade de até 10.000 litros eles maceram a matéria prima para os vinhos durante apenas 15 dias e depois transferem para barricas de carvalho francês com capacidade de 250 litros cada.

Produzem duzentas e cinquenta mil garrafas/ano entre elas 1100 de reserva especial das quais 888 são exportadas para a China. Cada ano essas garrafas recebem o rótulo alusivo ao ano do zodíaco chinês. 2006 foi o ano do cavalo.



Existem pelo menos 240 vinícolas que produzem o principal vinho da região o Brunello de Montalcino em ferrenha disputa entre a tradição (poucas unidades com longo processo de produção – pode durar até seis anos entre a colheita e a entrega para consumo) e contemporaneidade (milhões de unidades com reduzido tempo de fabricação e comercialização).

Por favor não perguntem a minha opinião sobre cada um deles. Troglodita que sou e macerado em ignoranças gerais, não fico diferente à vinhos: quanto a estes acho que a qualidade não depende do líquido em si (que me perdoem os aficionados à Baco), mas da ocasião e com quem você os compartilha.

Ah, sim, a história de nosso companheiro de viagem. Ele foi convidado pelo governo americano para conhecer, durante estada de quarenta dias, o sistema judiciário do país. Percorreu boa parte dos mais de quarenta estados e, em um deles, foi convidado por um juiz da Suprema Corte para jantar em sua residência.

O juiz foi apanhá-lo no hotel na noite marcada, passou em uma loja de conveniência, comprou pão, sorvete e uma garrafa de vinho. Chegando à casa do juiz foi recepcionado pela esposa e a única filha do magistrado.

Surpreso, porque esperava que o jantar fosse para um número expressivo de convidados, sentou-se à mesa e dividiu com os comensais presentes (juiz, esposa e filha) o pão, a garrada de vinho e como sobremesa sorvete.

Terminada a refeição o juiz o conduziu pelo braço à uma sala, ligou o aparelho de som e sentou-se em uma poltrona logo depois de acender o cachimbo. A esposa entrou na sala e convidou nosso companheiro de viagem para dançar. Ele, constrangidíssmo, dançou seguidas músicas com a esposa do juiz da Suprema Corte Americana e não sabia o que fazer ao ter os seus cabelos e as orelhas acariciados pela mulher.

Quando se despedia tomou coragem e perguntou o por quê do convite.

- “O senhor mora em que cidade no Brasil”?

- “Belo Horizonte”...

- “Sempre quisemos ter em casa alguém que morasse em cidade do Brasil  que tem o mesmo nome da nossa rua”.



Até breve.

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