sexta-feira, 10 de abril de 2015

DESVARIAÇÃO



Os literatas que se cuidem. Uns amigos das letras mandaram três contos meus para uma editora avaliar.

Fico preocupado. Vai que a editora goste e eu tenha que mandar outros para dar volume e virar um livro a ser publicado. Sempre que entro em livraria fico a pensar em que um dia possa ter um meu entre os demais.

Ando matutando um romance, de folego.

A história se passará em uma cidade perdida próxima a um lago que seca. Boa parte da comunidade já teria ido embora, deixando os que resolveram ficar com um resto de esperança qualquer.

Até que chega à cidade um forasteiro, vindo de uma cidade desconhecida.

Alheio à vizinhança, que o observava reformando uma casa que fora ocupada por alguém que a abandonara, ele cantarolava canções de letras incompreensíveis.

O que resta da comunidade começa a se reunir para impedir que ele continue a reforma e permaneça na cidade. Os líderes do movimento temiam que outros forasteiros pudessem invadir a cidade e reconstruí-la.

Assim, os adeptos encontram na resistência à empreitada do homem que chegara, motivos para com que se ocuparem.

Passam-se anos, voltam as chuvas o lago se restabelece e os antigos moradores da cidade perdida começam a retornar às suas casas. Inclusive os donos daquela que um dia o forasteiro havia ocupado, agora reformada e com um belo jardim à frente e pomar de variados frutos na parte dos fundos da moradia. Cercas de tiras de madeira entrelaçadas fazia divisa com vizinhos.

A narrativa abordará os primeiros meses da chegada do forasteiro, o encontro fortuito com uma mulher da cidade, ex-esposa de um dos líderes da comunidade, o nascimento dos filhos e a maneira com que ele conseguiu reunir os meios para a sua sobrevivência e da família que crescia a cada ano.

Enxertando a trama que, do meio prá frente, ou seja, perto ali da página 256 contemplará tantos outros personagens secundários que de uma forma ou de outra estarão vinculados à luta do forasteiro para manter-se na cidade e impedir que seus filhos sejam rechaçados pelos dos demais moradores.

Dois comissários de polícia, um do bem e outro corrupto; dois homossexuais e um pedófilo, dois ex-presidiários que haviam assassinado um dos padres que professavam a fé na paroquia da cidade; uma prostituta na ativa e outra aposentada que cuidava do bordel; um dos filhos do padre assassinado com a esposa de um dos assassinos; bêbados frequentadores de um bar vizinho à casa reformada; um homem manco que vagava pelas ruas com a mesma edição (em frangalhos) de um jornal da capital que noticiara a descoberta da cura para uma doença rara que havia cometido uma de suas filhas que teria morrido logo depois da festa de seus quinze anos; outros tantos personagens que não trarei aqui e, ainda, uma velha paraplégica que circulava pelas ruas da cidade, em dois expedientes (antes e depois do almoço) para coletar fatos e dados do quotidiano e à noite obrigar um irmão vagabundo a escrever posts em um blog relatando o produto das pesquisas da insana mulher.

Próximo do fim da narrativa a cidade volta a amargar uma cruel estiagem levando a um novo êxodo. O antigo forasteiro decide migrar, levando suas canções de letras incompreensíveis, para outra cidade perdida.

Quinhentas e tantas páginas para refletir sobre a efemeridade das conquistas e da vida. Quanto ao título, não tenho ainda. Como sempre, só coloco quando termino o texto.

Aguardem, portanto, dependerá da validação da editora para a qual os meus amigos das letras mandaram três dos meus contos para avaliação.



Até breve.

Nenhum comentário:

Postar um comentário