Ninguém merece um post como BRASIL.
Houve época em que literar era
escrever por enviesadas tramas, extraordinárias imagens, viscerais construções
somente perceptíveis ao olho egocêntrico do autor ou de delirantes críticos.
Como uma tela de Salvador Dali,
menos dramático que um Picasso.
“No meio do caminho” é um tributo à Drummond, embora tenha me surgido
assim de um repente. Desertland, puta palavra translouca, repleta de nuances simbólicos.
Cone, por sua vez, pode ser esse
formato pontiagudo para o sul dessa Terra indecifrável e lançada ao fundo por
uma geografia marota. Cereja, aquela parte mais desejada do bolo, tão doce
quanto mel, quem sabe?
No meio do caminho, ou seja, em
alguma parte do planeta há um lugar especialmente saboroso, onde todos nós
gostamos de viver, apesar.
Disseram-me que land é mais terra do que ilha, island. Como se estivesse ali sufixando
só para confundir.
Aliás, terra ou ilha, no caso,
sugere o que se propõe: alheamento, reclusão. Não há nenhum país como o nosso.
Como de resto não há nenhum país como outro.
Não sou assíduo, mas de quando em
vez bordejo: Face book. E ali, ontem mesmo, escandalizei-me com o mosaico de
imagens.
A rede abarca de um tudo que
denota. Estamos loucos. O universo de curtir tantas e tantos abordares é
sintoma e dos bravos.
Observem, os que navegam, e
analisem. Estamos loucos, sem dúvida.
Impeachment, assassinato gravado ao
vivo e em cores da dançarina de funk, testes de calouros no The Voice, Nureal,
salvamento de filhotes de pata que caíram em bueiro, fotos em solenidades,
alertas para novas modalidades de assalto, shows, contos, crônicas, paisagens,
teoremas científicos, ofensas, declarações de afeto, piadas, afrontas,
chantagens, atropelamentos, acidentes, resgates, teorias quânticas e inovações...
Trens a 603 km/h.
Virais e explícitos.
Houve época em que literar era
escrever por enviesadas tramas, extraordinárias imagens, viscerais construções
somente perceptíveis ao olho egocêntrico do autor ou de delirantes críticos.
Como um Dali, ou um
Desertisland.
Mas fascinava o leitor, pelo
mistério.
Até breve.
No açougue do outro lado da rua, no que pensa o açougueiro enquanto corta a carne? É o que tentam adivinhar, embevecidos, os alunos de filosofia, através da janela aberta da sala de aula. À pergunta do professor, o aluno sentimental responde: pensa na mulher e nos filhos. O aluno rebelde grunhe com ironia: pensa nos cães e nos gatos que não têm nada para comer. O aluno ambicioso encolhe os ombros e, pragmático, afirma: pensa no lucro com a carne dos animais ainda não abatidos. E o aluno romântico dispara, sem enganos: pensa nas flores e no mar!... O professor enfileira as respostas e todos os alunos engordam com a certeza: agora sabem no que pensa o açougueiro enquanto corta a carne!
ResponderExcluirAutor: Radomir Andric
Abs, Lindinho.
Nos resta perguntar: e no que pensavam os animais antes de serem abatidos?
ExcluirAcho que isso só é perceptível "ao olho egocêntrico do autor ou de delirantes críticos."
ExcluirPutz, quanto esperei por contribuições como estas...
ExcluirSeguidor tem que aprender alguma coisa né...
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