Ontem me surpreendi com uma ligação
de uma operadora de cartão de crédito da qual sou cliente. O rapaz, muito
educado, me consultava porque eu, nos últimos trinta dias, havia realizado tão
poucas despesas. “Está acontecendo alguma
coisa?”
Atendo muito pouco à telefones
fixos, geralmente são ligações que vão melhorar a minha vida e eu, por
convicção, sempre acho que, quanto pior, mais eu me movimento. Não sei por que fiquei
mais de segundos com o rapaz na ligação de ontem. Por momento achei que estava
com alguém daquelas instituições que ligam para pessoas desesperadas para
aplacar a dor da lida.
Pensando bem ele tem razão, afinal
está tudo correndo como sempre, porque eu não continuo realizando os meus
consumos correntes?
O BRADESCO fechou o trimestre com
R$4,2 bi de lucro, o SANTANDER com R$1,6 bi, e a CIELO com R$0,9 bi. O governo
fechou também o primeiro trimestre com superávit (receitas-despesas) de R$1,5
bi. Tudo bem, caiu 63,8% em relação ao trimestre anterior, mas com toda a
sanguessuguice da bandalha ainda sobrou dinheiro para gastar, cumequié que
comigo num fecha?
Outra evidência do quadro de
normalidades é de que afinal colocaram um freio no juiz Moro, lá de Curitiba. O
STF considerou que os nove executivos que foram liberados ontem “são casados, tem filhos, netos, vivem do
suado trabalho e não ostentam periculosidade, podendo viver em sociedade”.
A liberação vai atenuar a crise na
medida em que não ocorrerão mais delações premiadas, como ameaçam capa de VEJA
do último domingo, o que é muito bom para o processo de normalidade pelo que
clama o país.
Os mesmos continuam tramando
naquilo que dizem governança. Não há novidades que possam implicar em mudanças.
Há feiras concorridíssimas para resolver
a questão das dívidas das pessoas físicas que saem entusiasmadas com a
negociação. Juros de mais de 350% ao ano caem pela metade, aliviando por demais
as contas dos compulsivos consumidores que, uma vez sanadas as suas pendengas
voltam, quem sabe, para as lojinhas no Dia das Mães, namorados...
Boralá, bradescos...
Há cinquenta anos, nascia o novo
Brasil – ops, Desertisland! - visto pelos olhos da telinha e que há razões de
sobra para comemorar e desenhar o futuro.
“Então, porque o senhor aí reduziu as suas despesas?”
Até breve.
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