quarta-feira, 29 de abril de 2015

CRISE



Ontem me surpreendi com uma ligação de uma operadora de cartão de crédito da qual sou cliente. O rapaz, muito educado, me consultava porque eu, nos últimos trinta dias, havia realizado tão poucas despesas. “Está acontecendo alguma coisa?”

Atendo muito pouco à telefones fixos, geralmente são ligações que vão melhorar a minha vida e eu, por convicção, sempre acho que, quanto pior, mais eu me movimento. Não sei por que fiquei mais de segundos com o rapaz na ligação de ontem. Por momento achei que estava com alguém daquelas instituições que ligam para pessoas desesperadas para aplacar a dor da lida.

Pensando bem ele tem razão, afinal está tudo correndo como sempre, porque eu não continuo realizando os meus consumos correntes?

O BRADESCO fechou o trimestre com R$4,2 bi de lucro, o SANTANDER com R$1,6 bi, e a CIELO com R$0,9 bi. O governo fechou também o primeiro trimestre com superávit (receitas-despesas) de R$1,5 bi. Tudo bem, caiu 63,8% em relação ao trimestre anterior, mas com toda a sanguessuguice da bandalha ainda sobrou dinheiro para gastar, cumequié que comigo num fecha?

Outra evidência do quadro de normalidades é de que afinal colocaram um freio no juiz Moro, lá de Curitiba. O STF considerou que os nove executivos que foram liberados ontem “são casados, tem filhos, netos, vivem do suado trabalho e não ostentam periculosidade, podendo viver em sociedade”.

A liberação vai atenuar a crise na medida em que não ocorrerão mais delações premiadas, como ameaçam capa de VEJA do último domingo, o que é muito bom para o processo de normalidade pelo que clama o país.

Os mesmos continuam tramando naquilo que dizem governança. Não há novidades que possam implicar em mudanças.

Há feiras concorridíssimas para resolver a questão das dívidas das pessoas físicas que saem entusiasmadas com a negociação. Juros de mais de 350% ao ano caem pela metade, aliviando por demais as contas dos compulsivos consumidores que, uma vez sanadas as suas pendengas voltam, quem sabe, para as lojinhas no Dia das Mães, namorados...

Boralá, bradescos...

Há cinquenta anos, nascia o novo Brasil – ops, Desertisland! - visto pelos olhos da telinha e que há razões de sobra para comemorar e desenhar o futuro.

“Então, porque o senhor aí reduziu as suas despesas?”



Até breve.

sábado, 25 de abril de 2015

TUTU



Em dado momento da peça, a narradora se coloca bem em frente ao palco e consulta à plateia: “Quem aqui tem medo”? Lili, a personagem central, responde: “De escuridão eu tenho”.

Caio, um menino de cinco anos que estava sentado ao meu lado, olhou para mim e perguntou: “Moço, essa peça é de terror”?

A iluminação do palco foi reduzida e as cenas seguintes passaram a dar conta dos diferentes medos que assolam as crianças, inclusive aquelas que quase lotaram o teatro vindas, a maioria, de escolas da rede pública municipal, patrocinadora do evento.

“Num tem medo de escuro, não Lili”! Gritou Noninha, sentadinha em meu colo, para espanto meu e de todos na plateia.

No período de julho de 1980 a junho de 1994 produzimos 11.256.886.924.725,42% de inflação enquanto que no período de julho de 1994 a junho de 2014 o número foi de 361,72%.

O Fundo Monetário Internacional publicou a expectativa de crescimento da economia para o ano de 2015: Mundo=3,5%, sendo que Índia (7,5%), China (6,8%), USA (3,1%) Chile (3,0%) e Desertisland (-1,0%).

85 famílias ocupam o topo da pirâmide da distribuição da riqueza humana no planeta e perto de 1,5 bilhões de pessoas vivem abaixo da linha da miséria absoluta, 800 delas vitimas de afogamento (tentavam se libertar de sua condição) no Mediterrâneo no último final de semana.

“Quem aqui tem medo?”, perguntei à plateia de empresários, ontem, em workshop.

Antes de mim estiveram uma analista do ambiente econômico e político, um estrategista de mercado e um membro do sindicato nacional das indústrias do setor da associação que organizou o evento.

Um dos empresários presentes perguntou à economista, que acabara de pintar trágicas perspectivas quando de sua exposição sobre cenários: “Até quando vai durar essa crise”?

Iniciei o workshop provocando com a tese de que a crise dura, se é que termina, enquanto se estiver vivo, para maior desespero dos presentes. Até porque, a crise é própria dos que têm, por seus próprios recursos, empreender para sobreviver.

Consultei à plateia quem é o Primeiro quando a sociedade discute a legislação para a administração de Terceiros.

“O governo” - me respondeu um dos empresários, para o meu desencanto. Quase tive um gato.  “Como nomeamos aquele que tem a propriedade da empresa?” Depois de ouvir as mais interessantes respostas, lembrei a todos que estávamos tratando dos Acionistas que têm, como propriedade, AÇÕES, ou seja, daqueles mesmos que compunham a plateia.

“Lamento informa-los: vocês são os Primeiros.”

Quem efetivamente produz riqueza são aqueles que têm propriedade sobre suas ações apesar das circunstâncias, dos obstáculos, dos riscos e, no caso de Desertland da imensa incapacidade e leviandade da governança do estado brasileiro, em todas as suas esferas.

Adorei o workshop, tanto quanto a peça com Noninha, porque me diverti a valer com os fantasmas trazidos das plateias. Confesso que não o fiz, mas me deu uma vontade danada de encerrar minha atividade consultiva de ontem à tarde com: “Num tenha medo de escuro não, Empresário”!


Até breve.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

LILI



Enquanto isto, sentado em uma poltrona, em charmoso apartamento da Avenida Vieira Souto, no Rio, segunda-feira à noite, estava o bilionário húngaro George Soros, 29º na lista da Forbes 2015, famoso pela habilidade em multiplicar recursos, assim como pelos pesados investimentos em ações sociais.

Em torno dele, distribuída por outros sofás – e mais gente em pé, aqui e ali – uma seleta plateia ávida por informações sobre o visitante. O assunto não era sobre fortunas ou como fazê-las crescer. E sim sobre a cultura da filantropia, tão disseminada em países do Primeiro Mundo e que, aqui, apenas começa a engatinhar.

Soros deu uma aula sobre terceiro setor. Liberal conhecido, assumidamente democrático, Soros surpreendeu seus ouvintes por ser a favor da taxação de heranças. A favor por quê? Porque é uma maneira de “ajudar” donos de fortunas a contribuir para o terceiro setor. Mas não foi isso, advertiu, que o levou a dedicar-se à filantropia. “A ideia de ajudar amadureceu, em minha mente, lá por 1979, quando dei à Hungria a Universidade de Budapeste. Pensei: o que eu estou fazendo com minha vida? E me propus um novo rumo.”

De lá para cá, a coisa cresceu e, na crise entre Rússia e Ucrânia, o húngaro ofereceu US$ 1 bilhão à segunda, sob condição de que a Comunidade Europeia também contribuísse.

Aqui em Desertisland, em dezembro, a gestão Graça Foster (RETROBRAS) havia proposto um valor de R$ 4 bilhões, que foi recusado. A diretoria subiu para R$ 5 bi que foram também rejeitados. Quando assumiu, Bendine (o novo presidente) ouviu dos auditores que Graça e sua equipe estavam perdidos, dispostos a entregar qualquer número só para ter certificação.

Agora foi fechado, com aval de auditoria internacional, o número de R$ 6 bi de sangria da bandalha, além de outro susto no mercado e no governo, com o reconhecimento contábil de que os ativos valem menos do que anteriormente calculado, de R$ 44 bilhões.

Aí a Justiça Federal fixou em R$ 18,64 milhões indenização em favor da Retrobrás, reconhecida como vítima na sentença dos seis condenados por crimes de lavagem de dinheiro e organização criminosa nas obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.

O presidente da Retrobras, Aldemir Bendine, procurou passar mensagem otimista em entrevista coletiva. “A Petrobrás não vai parar. Não vai entrar em marcha à ré”, afirmou.

Nada que preocupe, claro até porque diante do acúmulo de poder do vice Michel Temer, parlamentares passaram a chamar o Palácio do Jaburu de Posto Ipiranga - numa alusão à propaganda da rede que promete resolver qualquer problema.

Amanhã minha jornada começa novamente cedo, devo levar Noninha para assistir a peça de teatro Lili canta o Mundo na Biblioteca Pública. À tarde conduzo workshop com empresários sobre: “Benefícios da crise”.

Como disse uma leitora em comentário: “A vida é curta”.



Até breve.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

DESERTLAND



Ninguém merece um post como BRASIL.

Houve época em que literar era escrever por enviesadas tramas, extraordinárias imagens, viscerais construções somente perceptíveis ao olho egocêntrico do autor ou de delirantes críticos.

Como uma tela de Salvador Dali, menos dramático que um Picasso.

“No meio do caminho” é um tributo à Drummond, embora tenha me surgido assim de um repente. Desertland, puta palavra translouca, repleta de nuances simbólicos.

Cone, por sua vez, pode ser esse formato pontiagudo para o sul dessa Terra indecifrável e lançada ao fundo por uma geografia marota. Cereja, aquela parte mais desejada do bolo, tão doce quanto mel, quem sabe?

No meio do caminho, ou seja, em alguma parte do planeta há um lugar especialmente saboroso, onde todos nós gostamos de viver, apesar.

Disseram-me que land é mais terra do que ilha, island. Como se estivesse ali sufixando só para confundir.

Aliás, terra ou ilha, no caso, sugere o que se propõe: alheamento, reclusão. Não há nenhum país como o nosso. Como de resto não há nenhum país como outro.

Não sou assíduo, mas de quando em vez bordejo: Face book. E ali, ontem mesmo, escandalizei-me com o mosaico de imagens.

A rede abarca de um tudo que denota. Estamos loucos. O universo de curtir tantas e tantos abordares é sintoma e dos bravos.

Observem, os que navegam, e analisem. Estamos loucos, sem dúvida.

Impeachment, assassinato gravado ao vivo e em cores da dançarina de funk, testes de calouros no The Voice, Nureal, salvamento de filhotes de pata que caíram em bueiro, fotos em solenidades, alertas para novas modalidades de assalto, shows, contos, crônicas, paisagens, teoremas científicos, ofensas, declarações de afeto, piadas, afrontas, chantagens, atropelamentos, acidentes, resgates, teorias quânticas e inovações... Trens a 603 km/h.

Virais e explícitos.

Houve época em que literar era escrever por enviesadas tramas, extraordinárias imagens, viscerais construções somente perceptíveis ao olho egocêntrico do autor ou de delirantes críticos.

Como um Dali, ou um

Desertisland.

Mas fascinava o leitor, pelo mistério.




Até breve.

sábado, 18 de abril de 2015

DIÁRIO



Na quinta-feira fomos assistir à Para Sempre Alice, que deu a Julianne Moore trinta prêmios entre eles o Oscar de Melhor Atriz. Confesso que gostei mais do drama vivido por Kristen Stewart no papel de Lydia uma das filhas de Alice a personagem protagonizada por Moore. Alice descobre aos cinquenta anos de idade que padece do mal do alemão (qual é mesmo o nome?).

Talvez porque, às vezes, acho que meu pai legou-me mais do que o mesmo nome, eu tenha me concentrado no drama magistralmente encenado por Stewart. Impelida pela mãe a buscar uma faculdade que dê a filha condições mais favoráveis à sobrevivência, a jovem insiste em procurar a carreira de atriz de teatro. Até nos filmes americanos???!!!

Ontem foi punk. Pretinha me pegou de carro em casa às sete e meia da manhã e me deixou com Noninha na maternidade. Hugo, irmão de Mateo (o Zeroum, lembram?), nasceu com pouco mais de três quilos. Um bezerrão.

Penso que eu deveria fazer legenda para dar conta dos personagens deste blog, embora a oito para completar oitocentos posts editados, já era hora dos meus leitores saberem mais ou menos de quem eu estou falando.

Tudo bem, recordar é viver. Hugo e Mateo são filhos de Camila, uma sobrinha-afilhada que de vez em quando comentava aqui e de Leandro, meu único seguidor. Se bem que João da Piti, diz que é ele, não o pai de Hugo, mas meu seguidor. Não sabem quem é João e nem Piti? Leiam os setecentos e noventa e um posts anteriores.

Noninha e Mateo estudam na mesma escolinha e, pior, na mesma sala. Amor e ódio a mil. Administrei ambos aos gritos e folia nos corredores da maternidade até que nos despedimos, eu e minha netinha, do Hugo e fomos a outras folias.

Na portaria perguntei a um rapaz onde poderia pegar um ônibus circular com direção à Savassi. Só que me permiti perder e fui parar em uma pracinha. Balanços, zangaburrinhos, escorregas depois fomos afinal esperar o circular em um ponto de embarque na Avenida do Contorno.

Noninha puxou conversa com Terezinha, uma senhora que como nós esperava o ônibus. Quando o ônibus chegou Noninha estava eufórica pela primeira experiência de urbanidade. Ficou atenta a todos os meus movimentos: passar pela roleta e pagar à cobradora a passagem até sentarmos em duas poltronas vagas.

Sete ou oito minutos depois, quando descemos do coletivo, Noninha voltou o olhar e me pareceu que ela desembarcava de um sonho. “Depois você me leva de novo, vovô?”

Um jornalista disse a Eduardo Galeano que ao ler os seus livros tinha a sensação que o uruguaio escrevia com um olho em um microscópico e outro em um telescópico.

Depois fomos para o meu apartamento, brincamos de massinha, dei-lhe banho, aprontei-lhe todinha já com o uniforme da escolinha e fomos almoçar em um restaurante em frente. Depois do papa ela me pediu um picolé, para minha surpresa de limão (ela adora uva) e voltamos para meu apartamento.

Histórias e carinhos nas costas e nos pezinhos depois ela adormeceu para descansar um pouquinho e dar conta da tarde na escolinha. Ela dormia ainda quando Pretinha chegou com o Valentin para que eu ficasse com ele.

Entrementes respondi a dois e-mails a respeito de um evento que conduzirei em junho envolvendo mais de trezentos executivos, atendi a ligações de clientes um deles pedindo que eu intercedesse junto ao seu presidente para que fosse revisto o seu salário e outro que me pedia a possibilidade de revisitar uma proposta de trabalho que lhe fiz há exatos dois anos atrás. Agendei reunião de trabalho com a Superintendente de uma entidade de representação de classe e comprei passagem para São Paulo para onde embarco na quarta-feira, bem cedo.

Cada dia que passa gosto mais de Tin. E para não dizer que é só dele fomos visitar Antônio. Fomos eu, Ela e Tin à casa do Vlad e da Fá. Antônio me deixou bobo. Consegui extrair dele a primeira gargalhada (aos quase quatro meses de idade). É fatal: você pega a criança elevando-a acima de seus ombros e volta com ela bruscamente fungando em uma de suas orelhas. A primeira gargalhada de Antônio para o vovô, inesquecível.

Voltamos para casa porque Ela tinha que ir para o Consultório. Eu fiquei com o Tin. Dedeira, troca de fraldas, chutar bola na sala, soninho até que Pretinha veio buscá-lo ali pelas quase seis horas da tarde. À noite voltamos para a casa de Vlad e Fá para que eles pudessem ir a um cinema ou a um teatro. Ficamos até às dez horas da noite. Antônio deu uns chorinhos, nada que nossa experiência não administre.

Próximo da meia-noite chegamos a Santa Luzia. Passei o dia todo pensando em Desertland.





Até breve.

LEGENDA: Savassi é um bairro da cidade onde moro.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

BRASIL



No caminho para Desertland há um cone de cereja. Como assim, cone de cereja? Ora, é tão absurdo um cone de cereja! Ainda se fosse um cone de mel... Não, não é possível nem de cereja, quanto mais de mel.

No caminho para Desertland há um cone. Como assim, um cone? Ora, é tão absurdo um cone em qualquer caminho, quanto mais no caminho para... Onde?

Desertland.

É mais ou menos assim que conseguiremos entender mais ou menos a realidade de mais ou de menos assim. Todo dia um cone aparece no meio do caminho de cereja ou às vezes, de quando, em mel. Mas nunca é de todo um absurdo.

Primeiro, sim, há um caminho, já que temos a variável tempo, portanto, história. As coisas estão de fato acontecendo. A questão que nos ocorre é a necessidade que todos temos de compreender.

Vai logo querendo achar que land em Desertland poderia remeter à Ilha e, daí, Desertland poderia significar a Ilha do Deserto ou a Ilha Deserta. Seja como for sinaliza restrição, mesmo que geográfica.

Se bem que não. Ilha do Deserto pode nos levar a imaginar um oásis, uma redenção, uma quimera, um lugar a atingir depois de privação ou batalhas. Ou, quem sabe, Ilha do Deserto é uma entre tantas outras ilhas de um deserto?

E se ousássemos e traduzíssemos por Ilha no Deserto? Não se trataria mais de uma específica entre outras, mas uma ilha no deserto, portanto especial. Fiquemos assim, então, por um momento: Ilha no Deserto.

Há quem venha insistir, eu sei, que esteja mais para Ilha Deserta, na medida em que sugere confinamento, distanciamento, alheamento, reclusão.

Eu, como sempre, prefiro optar por ambos os sentidos ou por todos os que vocês quiserem conferir. No fundo, não vai mudar em muito a questão em foco. Seja Desertland uma Ilha do Deserto, uma Ilha no Deserto ou até mesmo uma Ilha Deserta.

E aqui eu me basto. Até para alguém não vir dizer que Desert seja Sobremesa.

No caminho para Desertland há um cone de cereja.

Um cone de Desertland para cereja há no caminho.

Um caminho de cereja há no cone para Desertland.

Para caminho de cereja há um Desertland no cone.

Há Desertland para um caminho no cone de cereja.

Para cereja há um cone no caminho de Desertland.

Para um caminho de cereja há cone no Desertland.

Amanhã, prometo a vocês que continuarei a tentar.



Até breve.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

terça-feira, 14 de abril de 2015

REGIME



Tenho por hábito e necessidade assistir diariamente aos jornais televisivos da noite e, com especial atenção, ao das vinte e uma horas na TV Cultura da Fundação Padre Anchieta.

“A primeira condição para modificar a realidade consiste em conhecê-la.”

Aprecio por ser, além de um noticiário, um espaço onde se discute de maneira plural e coloquial os temas tratados pelas matérias jornalísticas com o apoio, ao âncora do programa, de conceituados intelectuais que se alternam em duplas ao longo de cada dia da semana.

É natural que, por ser plural, ele seja aberto a todas as tendências e opiniões a respeito dos fatos o que dá ao programa um sentido muito importante à reflexão e ao posicionamento dos espectadores, muito em linha com o propósito do viés filosófico que sustenta a grade da emissora.

Belo dia tomo contato, através do programa, que a Rede Minas, canal aberto do estado, estaria recebendo o jornal para disponibilizá-lo para nós mineiros ampliando assim o alcance de sua contribuição, já que na TV Paga os anunciantes já tinham acesso à programação da TV Cultura.

Liguei imediatamente para um amigo, então presidente da Rede Minas para parabeniza-lo e sua equipe pela extraordinária conquista fazendo votos que a inciativa pudesse sim estimular a audiência para um conteúdo oportuno, necessário e importantíssimo face ao conjunto de realidades.

Embora pesquisas deem conta de que a emissora esteja no segundo lugar das emissoras mais queridas, está longe do índice de audiência dos demais canais sejam abertos ou pagos o que, claro, não surpreende.

Na edição de ontem o âncora do jornal informou que o Governo do Estado determinou à Rede Minas a suspensão do convênio com a TV Cultura para a transmissão do Jornal. Medida semelhante, a coisa de um mês atrás, foi tomada na líder de audiência de rádio local da capital com a demissão sumária do Diretor de Redação que trabalhava na emissora há mais de trinta anos.

Nunca me esqueço de uma máxima de Adolf Hitler: “Todo povo informado é um povo perigoso”.

“A liberdade de eleição permite que você escolha o molho com o qual será devorado.”

Medidas como essa são inconcebíveis até sobre o ponto de vista da inteligência, mais do que pela injustiça ou abuso do poder discricionário conferido pelo cargo que ocupa um governante.

Surpreendo-me cotidianamente com fatos semelhantes e a repercussão dos mesmos, que se incorporam à paisagem, não implicando em nenhuma reação imediata e contundente das instituições responsáveis pela manutenção da liberdade de expressão no país.

“Vivemos em plena cultura da aparência: o contrato de casamento importa mais que o amor, o funeral mais que o morto, as roupas mais do que o corpo e a missa mais do que Deus.”

Afinal, como diz a mãe de uma querida amiga: é o que temos para hoje. Além do mais e de qualquer forma...

“A utopia está lá no horizonte. Aproximo-me dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.”

Todo dia amanheço com um sentimento.

“Tenho saudades de um país que ainda não existe no mapa.”

Faço com este post homenagem a Eduardo Galeano, dono das citações em negrito e itálico, para dizer que nossa América Latina ainda merece cuidado para trazer abertas as suas veias.

Galeano, escritor uruguaio, nos deixou ontem aos 74 anos de idade. Perdemos mais um dos imprescindíveis.



Até breve.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

DESVARIAÇÃO



Os literatas que se cuidem. Uns amigos das letras mandaram três contos meus para uma editora avaliar.

Fico preocupado. Vai que a editora goste e eu tenha que mandar outros para dar volume e virar um livro a ser publicado. Sempre que entro em livraria fico a pensar em que um dia possa ter um meu entre os demais.

Ando matutando um romance, de folego.

A história se passará em uma cidade perdida próxima a um lago que seca. Boa parte da comunidade já teria ido embora, deixando os que resolveram ficar com um resto de esperança qualquer.

Até que chega à cidade um forasteiro, vindo de uma cidade desconhecida.

Alheio à vizinhança, que o observava reformando uma casa que fora ocupada por alguém que a abandonara, ele cantarolava canções de letras incompreensíveis.

O que resta da comunidade começa a se reunir para impedir que ele continue a reforma e permaneça na cidade. Os líderes do movimento temiam que outros forasteiros pudessem invadir a cidade e reconstruí-la.

Assim, os adeptos encontram na resistência à empreitada do homem que chegara, motivos para com que se ocuparem.

Passam-se anos, voltam as chuvas o lago se restabelece e os antigos moradores da cidade perdida começam a retornar às suas casas. Inclusive os donos daquela que um dia o forasteiro havia ocupado, agora reformada e com um belo jardim à frente e pomar de variados frutos na parte dos fundos da moradia. Cercas de tiras de madeira entrelaçadas fazia divisa com vizinhos.

A narrativa abordará os primeiros meses da chegada do forasteiro, o encontro fortuito com uma mulher da cidade, ex-esposa de um dos líderes da comunidade, o nascimento dos filhos e a maneira com que ele conseguiu reunir os meios para a sua sobrevivência e da família que crescia a cada ano.

Enxertando a trama que, do meio prá frente, ou seja, perto ali da página 256 contemplará tantos outros personagens secundários que de uma forma ou de outra estarão vinculados à luta do forasteiro para manter-se na cidade e impedir que seus filhos sejam rechaçados pelos dos demais moradores.

Dois comissários de polícia, um do bem e outro corrupto; dois homossexuais e um pedófilo, dois ex-presidiários que haviam assassinado um dos padres que professavam a fé na paroquia da cidade; uma prostituta na ativa e outra aposentada que cuidava do bordel; um dos filhos do padre assassinado com a esposa de um dos assassinos; bêbados frequentadores de um bar vizinho à casa reformada; um homem manco que vagava pelas ruas com a mesma edição (em frangalhos) de um jornal da capital que noticiara a descoberta da cura para uma doença rara que havia cometido uma de suas filhas que teria morrido logo depois da festa de seus quinze anos; outros tantos personagens que não trarei aqui e, ainda, uma velha paraplégica que circulava pelas ruas da cidade, em dois expedientes (antes e depois do almoço) para coletar fatos e dados do quotidiano e à noite obrigar um irmão vagabundo a escrever posts em um blog relatando o produto das pesquisas da insana mulher.

Próximo do fim da narrativa a cidade volta a amargar uma cruel estiagem levando a um novo êxodo. O antigo forasteiro decide migrar, levando suas canções de letras incompreensíveis, para outra cidade perdida.

Quinhentas e tantas páginas para refletir sobre a efemeridade das conquistas e da vida. Quanto ao título, não tenho ainda. Como sempre, só coloco quando termino o texto.

Aguardem, portanto, dependerá da validação da editora para a qual os meus amigos das letras mandaram três dos meus contos para avaliação.



Até breve.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

NORMALIDADES



Ao voltar ao Brasil deparei-me com uma notícia alvissareira: a verdade foi revelada.

Vamos agora ter governo.

Sim, porque desde as eleições, ou um pouco antes delas, estávamos em clima de disputa “para eleitor ver”.

Passada a galhofa de que o país se viu até dividido entre vermelhos e azuis, voltamos à temperatura que mantém o país nos eixos da governabilidade histórica desde a saída dos grilhões da ditadura militar.

Dom Sarney e asseclas, extraordinariamente astutos “derrubaram” as ilusões da comandante-em-chefe e mostraram quem há mais de três décadas dá as cartas.

Tornaram-se desnecessárias as passeatas clamando pelo impeachment até porque, na trama, será bem urdido pela gentalha peemedebista, meios e modos de passar ao país a inconveniência de tal processo.

Continuo, portanto, com minha impressão de que o Brasil tem um modelo de governança digno de ser pesquisado pelos mais luminares cientistas da política contemporânea.

O que virá agora depois do “golpe branco”? Acertos de engenharia refinada entre os poderes constituídos, alguns agrados no caixa da mídia formadora de opinião, um ou outro espetáculo de prisão de elementos sem expressão política, acordos de leniência, enfim, ajustes finos para que o país volte ao clima de tranquilidade aparente.

Para as próximas eleições que ninguém duvide: o PMDB não terá candidato à Presidência, mas continuará governando ou impedindo que se governe para poder voltar a governar.

Eu já estava começando a gostar dos acalorados debates nas famílias, entre amigos nas mesas de bar, programas de audiência para a cena política. Gente que condena o PT e defende, com reservas, o PSDB.

Dava um ar de consciência e evolução política da sociedade, o que cai muito bem para a teoria democrática. O povo, afinal, precisa acreditar que tem alguma força, mas quem tem mesmo o poder está lá e há muito tempo.

Levam de roldão a todos, segundo a conveniência de época: Itamar, Collor, agora Dilma e, podem acreditar, até mesmo o Lula peemedebou-se.

Bom, pelo menos o Brasilzinho volta a ser nossa republicazinha em paz social. Viram que começaram a aprovar as medidas enviadas ao Congresso.

Eu devia mesmo é atender ao leitor que, em comentário, disse que adora quando esse blog trata de viagens. A viagem que faço sobre política consegue acrescentar menos ainda do que as próprias.




Até breve.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

LACUNAS



Veneza nunca foi invadida. Esteve sempre protegida, flutuando sua história sobre as lagunas do Mar Adriático.

Formada por 118 ilhas, que são alagadas de outubro a fevereiro, e por seus edifícios construídos sobre estacas de madeira naturalmente petrificadas pelo tempo.

Ímpar cidade foi fundada no século VII d. C. e hoje tem vida normal (?) para seus 60 mil habitantes (em 1500 eram 150 mil e em 1960 120 mil) embora receba turistas, por ano, cinco vezes mais do que todas as cidades do Brasil juntas.

Veneza recebe todos os anos cerca de 25 milhões de pessoas vindas do mundo inteiro.

Nas ruas e vielas desfrutam das paisagens inigualáveis caminhando em dois sentidos, alertados pelos gritos de ATENZIONE vindos dos carregadores de produtos para as lojas, bares e restaurantes.

Aqui surgiram os primeiros bancos e companhias de seguros, sendo que o primeiro cheque foi emitido para honrar a compra no mercado instalado ao lado de uma das principais das 400 pontes existentes na cidade, a Ponte Rialto.

A Igreja de São Marcos, construída em 1094, apresenta 8.000m² em mosaicos, cuidadosamente aplicados sobre as paredes e o piso. Para fazer a decoração destes mosaicos gastou-se mais tempo do que construir toda a igreja.

Ela é considerada a mais bizantina de todas as igrejas já que foi inspirada em mesquitas de Istambul.

Sei que estes registros de viagem são muito superficiais e servem mais a mim do que a qualquer leitor, por mais interessado que ele possa estar.

Fiquei a pensar sobre, já que este é o último post dedicado a esta temporada que se encerra hoje, quando voltamos ao Brasil com escala em Lisboa.

Há ainda um registro, no entanto, que levo daqui como um retrato do tempo presente. Em várias das ruas movimentadas de Veneza, assim como em Florença e mesmo em Roma, observei refugiados em frente a lojas de marca vendendo cópias de produtos produzidos, a maioria na China, provavelmente por escravos.



O privilégio de estar aqui não encobre o mal estar por esta brutal e evidente realidade. O mundo não nos permite o frugal. Ninguém tem mais o direito de gozar a vida impunemente.

O real é trágico e contundente.




Até breve. 

domingo, 5 de abril de 2015

LAMACCHINA



Saímos de Siena pela manhã de ônibus, com destino à Veneza.

No caminho o programa contemplou uma passagem por Maranello. Isso mesmo, a terra “della macchina”. Dirigi, por dez minutos, uma Califórnia T, vermelha. O ronco do motor na arrancada inebria levando o condutor a uma sensação ímpar.

Visitamos o museu que fica ao lado da fábrica. A Ferrari conseguiu mesmo, ao longo de tantos anos, ser o grande sonho da potência masculina.

Nem que seja por dez minutos.

De Maranello fomos a Arbizzano di Negrar, próxima à Verona, conhecer a Villa Mosconi Bertani.

Ali visitamos o palácio do século XVIII. Nos jardins do palácio há um parque onde foram plantadas árvores cujas copas servem estética e funcionalmente como um anfiteatro. O piso do jardim de uns 1000m² foi construído com inclinação a fim de permitir a colocação de poltronas facilitando a assistência aos concertos de música clássica que habitualmente ocorrem na Villa.



Degustamos o vinho AMARONE, Safra 2008 (uma raridade não disponível para a venda na própria Villa), acompanhado por queijos, pão e embutidos.

À noite chegamos à Veneza. Chovia leve sob o olhar enevoado da lua cheia.





Até breve.

sábado, 4 de abril de 2015

DESARTEAMENTO



O post de hoje é breve como um “palio”.

Siena foi nossa base para visitar, nos seus arredores, as vinícolas na Toscana. Fundada pelos filhos de Remo, para fugir do tio, em 90 a. C. cultua desde 1600 d. C. sua atração principal: corridas de cavalos na Piazza del Campo.

Siena está dividida em 17 contradas (bairros) que disputam em 2 de julho e 16 de agosto de todo ano a corrida que mobiliza a cidade em festa emocionante.

Dez cavalos (cada um representando um bairro) são pré-sorteados entre os dezessete concorrentes, passam pela igreja do bairro, onde são benzidos) e vão correr em pista de 21 cm de altura de tufo (areia) em círculo na praça buscando ganhar US$ 1,8 milhão a cada palio.



Siena também abrigou a inauguração do primeiro banco do mundo, Monte del Paschi de Siena, por volta do ano de 1100, quando foram instituídas as primeiras Notas Promissórias da história econômica.

Fomos à Florença para uma rápida olhadela. Não gostei do que vi. A cidade me encantou quando estive aqui quinze anos atrás. Hoje, as bombas letais do consumo destruíram o que a cidade tem de belo e raro, além das pichações comuns às urbes da modernidade.

Florença foi vandalizada pelos novos bárbaros: turistas ávidos por quinquilharias marcantes comercializadas em inúmeras barracas (mercado persa) em uma ponta, e, noutra, imigrantes expelidos de suas origens por força da miséria, fome ou até mesmo de guerras.



Ai de ti, Michelangelo!

Inadvertidamente, ou como obra do acaso, funesto fui ao meu horóscopo, e:


“A zombaria, o escárnio, o desprezo irônico com que às vezes tratas teus semelhantes, tudo isso depõe contra ti, pois declara que te sentes superior e que tens autoridade para julgar, condenar e que do alto de tua posição tens direitos que os outros carecem. Francamente, isso depõe contra ti, te diminui e te torna hipócrita, porque na verdade desprezas o que temes. Se tratas com desprezo a suposta ignorância alheia é porque a percebes e só poderias perceber o que conheces, o que está dentro de ti e se, por isso, desprezas tua própria ignorância é porque não fazes nada útil para superá-la, está estacionada em ti e quanto mais zombas dela, mais e mais essa ignorância se arraiga em ti como uma sombra que projetas ao mundo e que te diverte, como um ataque de riso nervoso numa cena assustadora de terror”.



Até breve.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

SANTIDADE



Quando o ônibus entrou na ampla garagem do suntuoso edifício achei que estávamos chegando para visitar um museu de arte moderna. Só que o prédio é a base de operações do grupo ANTINORI CHIANTI em Bargino.



A obra, em arquitetura soberba, consumiu investimentos de US$130 milhões, 80% deles capital da família e 20% recursos vindos da Comunidade Econômica Europeia. 44.000 m² de bom gosto, refinamento estético e engenharia de métodos construtivos ultramodernos.




Tudo é belo na sede até as escadarias que dão acesso aos pisos superiores com esculturas de vanguarda, bioesferas transparentes, dentro das quais vivem plantas sem água e sem terra.




Degustamos os vinhos Villa Antinori Chianti Clássico Riserva, Marchese Antinori Chianti Clássico DOCG Riserva e Badia a Passignano.

Data de 1180 o documento de registro de compra da primeira gleba de terras pela família Antinori, mas somente em 1335 é que Rinuto Antinori inscreveu a vinícola na corporação dos produtores de vinhos. Hoje, na 26ª geração, possuem dois mil hectares de vinhedos, 25 vinícolas, entre elas duas na Califórnia, uma no Chile, uma na Hungria e uma na Romênia. 

Nos “salões de exposição de arte” na unidade de Bargino, eles mantém 50 tonéis em aço com capacidade de 18.000 litros (cada) nos quais ocorre, ao longo de nove meses, o processo de fermentação. Depois passam para tonéis de madeira, adormecendo por doze meses. Retornam aos tonéis maiores onde ocorre a blindagem para produção dos vinhos tinto e branco.

A vinícola produz hoje 9 milhões de garrafa/ano na Toscana e outros 9 milhões/ano no resto da Itália e nas demais instalações fora do país. Para tanto, só na unidade de Bargino são colhidas nove mil toneladas de uva das quais 350 toneladas são processadas por dia.

A curiosidade da galeria de arte é o Vinho Santo de cor âmbar e reflexo dourado, três a quatro anos de envelhecimento em barricas (caratelo) de 18 a 60 litros de capacidade cada. São necessários três quilos de uvas frescas, que se transformam em um quilo de uvas passas (secas) para resultarem em vinho a ser colocado em garrafas de 750ml.

O vinho santo é produção imposta pela tradição da família Antimori, restrita a seis mil garrafas/ano que são comercializadas exclusivamente na Itália. Ao mastiga-lo sente-se a glicerina tomar todas as paredes da boca. “Ai, que frescura, Gesu”!

Depois de Antimori Chianti seguimos para o CASTELLO DI AMA. Outra vinícola que foi buscar inspiração na arte contemporânea para compor o seu conceito. Fora e dentro das instalações da vinícola harmonizadas com barris estão expostas as obras de ousados e provocadores artistas.

Três delas me chamaram atenção especial: a primeira, instalada a 20 metros de profundidade, onde dezenas de barricas adormecem o sagrado líquido, há uma palavra escrita em letras garrafais em luminoso neon fixado na parede: NOITULOVER. Tudo advém de um mal estar revolucionário e movido pela paixão. (O luminoso deve ser lido da direita para a esquerda).

Nos jardins do Castello di Ama um artista cubano expõe em miniatura seis muros: China, Alemanha, USA/México, Austrália, Malta e as muralhas de contenção do mar em Havana. Título: Os Muros da Vergonha. Impactante!

A terceira obra está espalhada por todas as paredes da cantina. São inscrições de frases, poemas e outras sacadas em nanquim.

Degustamos quatro vinhos diferentes acompanhados de queijos, enchidos e azeite.

À tardinha fomos ainda a San Gimignamo, uma verdadeira joia medieval com suas torres de pedra.

Fecho o post com uma das inscrições pintada em uma das paredes do Castello di Ama.




Até breve.