Nunca mais o vi. Nem tive notícia a
respeito. A verdade é que também não procurei saber, porque fosse revê-lo seria
para mandá-lo daqui para melhor.
Claro que eu não sou assassino
contumaz. Os que matei, acho que foram alguns trinta, todos foram por
merecimento. Fizeram para.
Ora, no caso desse que eu digo que
nunca mais o vi é diferente. Ele é especial, porque além de ter merecimento
inquestionável, eu queria muito, mas muito mesmo mata-lo.
Larguei para lá porque estou certo
que, uma hora dessas, ele vai cruzar à minha frente. E eu não vou acabar como
de pronto. Vou fazer como novela televisiva. A gente sabe como vai acabar, mas
vou cozinha-lo aos poucos até o capítulo final, sem sangue.
Afinal o que esse cara aprontou?
Eu sempre fui um sujeito passivo,
quase tolo. Num mecho com a vida de ninguém, nem com mulher de outro, roubo sem
ser visto, meus crimes se é que podem ser considerados crimes, são triviais.
Tô longe de ter a crueldade desse
último aí que apareceu na TV, o do sujeito que brutalizava o filho tetraplégico
da amante para que o jovem morresse aos poucos e todos achassem que ele morreu
da doença. A mulher, desconfiada, deixou um celular ligado e filmou as sessões
de tortura. Refinado assim, eu não sou.
Dos trinta que eu acho que fechei,
doze foram dentro da cadeia nas minhas quatro passagens por lá. Por motivos que
todo mundo é capaz de entender mesmo que não aceite. Um deles, que eu me
lembre, andava comendo duas filhas da namorada. Uma de nove e outra de onze
anos. Isso eu, nem os de lá, tolera. Sangrei.
Sempre quando eu começo a contar eu
fico com a impressão de que na verdade foram mais de trinta, aí eu me perco.
Também que importância que tem, mais dez menos dez, tinha que morrer mesmo?
Duas mulheres modificaram a minha
vida. Uma era stripper, a outra era um gay. Todas as duas fizeram com que eu me
perdesse de centro, me tiraram tudo. Das centenas de mulheres que já tive as
duas tomaram conta a ponto de que, para voltar a ser dono de mim mesmo, também
entraram na lista.
A stripper foi com super dose
branca de má qualidade. Quando ela chegou ao hospital já tinha virado anjo. Não
deu nem BO, foi um fato dentro de tantos outros. O gay foi na porrada mesmo,
usei até soco-inglês, coitada machucou muito. Um dos olhos azuis derramou sobre
a cabeleira loira falsa.
Eu me formei em faculdade, ninguém
poderia esperar de mim esse destino. A coisa começou foi com esse que disse que
nunca mais o vi e que nem tive mais notícias a respeito.
Foi por causa dele que eu
destramelei e fiz uma carreira, por isto ele é especial. Foi ele que me
iluminou os motivos, e os casos foram se sucedendo naturalmente. E vai
acontecer de novo, como todos os outros sei lá quantos.
Até chegar a vez dele e eu cumprir.
(Ficção à luz do depoimento feito hoje por Pedro Barusco na CPI da PETROBRAS.)
(Ficção à luz do depoimento feito hoje por Pedro Barusco na CPI da PETROBRAS.)
Situação DEPRIMENTE!
ResponderExcluirA ficção ou o Real?
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