segunda-feira, 30 de março de 2015

COMUNICAÇÕES



A rádio vivia na penúria financeira, mas todos se propunham audácia. Resolveram transmitir, pela primeira vez na história, um espetáculo dominical de um circo que acabara de se instalar na cidade fazendo maior alarde de audiência.

Desprovida de equipamentos coube a um jovem abnegado recém-chegado a emissora a procura de um aparelho raro, na época, que pudesse ser colocado no picadeiro: um microfone sem fio.

O jovem ficou sabendo que um judeu comerciante era proprietário do único aparelho existente na cidade. Foi ao encontro do sujeito, pediu por empréstimo e não foi atendido. Por aluguel também não. Propôs, então, através de permuta por comerciais inseridos na programação da rádio. O comerciante aceitou sobre a condição de que o microfone fosse devolvido na segunda-feira.

No domingo, dia do espetáculo, a equipe técnica da rádio instalou o microfone sem fio no piso do centro do picadeiro, local avaliado como o melhor para a captação de som.

A programação contemplava a entrada de palhaços no início do show. A equipe técnica da rádio pediu a eles que tivessem o máximo cuidado ao fazerem suas peripécias para não danificar o microfone.

Por razões desconhecidas o diretor do circo mudou o script e mandou que elefantes fizessem a abertura triunfal do espetáculo.

Pois é, não houve transmissão radiofônica naquele domingo.

Na semana seguinte o jovem foi intimado a comparecer à delegacia para devolver ao comerciante judeu o microfone sem fio. Depois de longo debate entre os envolvidos a rádio, na pessoa do jovem teve que assinar Notas Promissórias no valor de compra do aparelho.

Essa foi uma das muitas estórias que iluminaram nossos passeios pelas ruas e vielas de Roma trazidas por um dos companheiros de viagem, protagonista de uma série de passagens romanescas ao longo de seus quase oitenta anos de vida.

Deixamos Roma hoje cedo, com certo pesar. A cidade, hoje com mais de seis milhões de habitantes, vive um grave problema de mobilidade urbana e concluiu somente agora a terceira linha de metrô (Paris e Londres têm quatorze cada uma).

A questão é que sempre que se fura um buraco em Roma, depara-se com uma nova ramificação da cidade subterrânea. A linha C do Metrô prevista para ser entregue em 2007 só foi concluída agora porque no processo de escavações foram encontradas inúmeras relíquias que atrasaram sistematicamente o andamento das obras.

Roma, essa cidade construída por papas (pontes, palácios, prédios públicos, teatros, museus, estádios) vive até hoje saudosa de Wojtyla.

Ele visitou por diversas vezes todas as igrejas existentes em Roma falando diretamente aos fiéis. Era visto, com regularidade, passeando como cidadão comum pelos arredores da Basílica de São Pedro.

“Arrivederci Roma... Good bye... Au revoir”...

Hoje começamos a nos deliciar Toscana adentro.


Até breve.

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