terça-feira, 31 de março de 2015

SUMMUS



Ele acabara de desembarcar em Brasília para uma reunião em instituição de classe profissional da qual era participante. A secretária, logo que ele chegou ao escritório do órgão, esbaforida, pediu que ele voltasse para o aeroporto e embarcasse para Belém do Pará.

Deveria representar o Presidente uma vez que o colega ilustre estava em casa acamado e não poderia comparecer a um evento celebre no norte do país.

Sentou-se em um dos últimos lugares e foi o penúltimo passageiro a sair do avião. Quando chegou ao patamar da escada ele viu, no pátio, centenas de pessoas vestindo camiseta branca e gritando refrãos que ele não conseguia entender muito bem.

Sorvendo o deslumbramento do poder ele passou a acenar para as pessoas, jogar beijos em profusão, a sorrir histericamente.

Já no pátio percebeu que as pessoas não olhavam para ele, procurava crianças para pegar no colo e beijá-las, mas elas o rejeitavam. Só então olhou para trás e viu a última passageira descendo as escadas do avião. Era Sula Miranda, a “Rainha dos Caminhoneiros” adorada também em Belém do Pará.

Delícias como essas marcaram o nosso dia de ontem.

Saímos bem cedo de Roma em ônibus com destino à Siena, Pátria da Cultura na região da Toscana.
Primeira parada: Pitigliano, ao sul da região. A cidade brota de uma colina rochosa (tufo, tipo de areia prensada) como se fosse prolongamento. As casas são quase todas do mesmo material da montanha, barro e rochas extraídos do próprio local.

Ao se avistar de longe a cidade e seus penhascos tem-se a impressão de que é tudo uma construção única em terracota.



Depois da rápida visita a Pitigliano fomos para Orvieto construída também no alto de uma colina. Com suas ruas típicas de uma cidade medieval ela foi, até 1860, território papal.



Em seguida, sabor intenso: Montepulciano.

Vlad e Fá, que rondaram por estas bandas no ano passado, já tinham cantado a pedra:

- “Não deixem de ir ao restaurante da Lilian e peçam Pici com Javali”.

Montepulciano, uma cidade minúscula, é rota obrigatória da Toscana porque produz um dos melhores vinhos DOCG (Denominazione di Origine Controllata e Garantita) da Itália.



Nosso programa contemplou o almoço precedido de degustação de vinhos, queijos e embutidos na vinícola GATTAVECCHI. Ao chegarmos fui logo em direção à cozinha procurando pela tal de Lilian.

- “Lilian trabalha aqui”?

- “Sou eu”...

Lilian, uma baiana de Salvador, não era só a chef do restaurante mas a proprietária da vinícola GATTAVECCHI junto com Jonathan (marido) um italiano “da porra”.

Ali, por umas duas horas, me senti um frade diante de um rosário de delícias. Uma pasta de fígado salpicada com um-sei-lá-o-quê mais pitadas de erva de não-sei-das-quanta que fazia minha boca chorar de prazer. E, claro, Pici com javali.



Depois vagamos pela cidade. Uma das fotos que tirei me fez pensar em Caravaggio, na luz de suas telas.



Chegamos a Siena já à noitinha e fomos para a Piazza del Campo tomar um vinho, comer uns petiscos.

Ele estava junto e... amanhã em conto.



Até breve.

segunda-feira, 30 de março de 2015

COMUNICAÇÕES



A rádio vivia na penúria financeira, mas todos se propunham audácia. Resolveram transmitir, pela primeira vez na história, um espetáculo dominical de um circo que acabara de se instalar na cidade fazendo maior alarde de audiência.

Desprovida de equipamentos coube a um jovem abnegado recém-chegado a emissora a procura de um aparelho raro, na época, que pudesse ser colocado no picadeiro: um microfone sem fio.

O jovem ficou sabendo que um judeu comerciante era proprietário do único aparelho existente na cidade. Foi ao encontro do sujeito, pediu por empréstimo e não foi atendido. Por aluguel também não. Propôs, então, através de permuta por comerciais inseridos na programação da rádio. O comerciante aceitou sobre a condição de que o microfone fosse devolvido na segunda-feira.

No domingo, dia do espetáculo, a equipe técnica da rádio instalou o microfone sem fio no piso do centro do picadeiro, local avaliado como o melhor para a captação de som.

A programação contemplava a entrada de palhaços no início do show. A equipe técnica da rádio pediu a eles que tivessem o máximo cuidado ao fazerem suas peripécias para não danificar o microfone.

Por razões desconhecidas o diretor do circo mudou o script e mandou que elefantes fizessem a abertura triunfal do espetáculo.

Pois é, não houve transmissão radiofônica naquele domingo.

Na semana seguinte o jovem foi intimado a comparecer à delegacia para devolver ao comerciante judeu o microfone sem fio. Depois de longo debate entre os envolvidos a rádio, na pessoa do jovem teve que assinar Notas Promissórias no valor de compra do aparelho.

Essa foi uma das muitas estórias que iluminaram nossos passeios pelas ruas e vielas de Roma trazidas por um dos companheiros de viagem, protagonista de uma série de passagens romanescas ao longo de seus quase oitenta anos de vida.

Deixamos Roma hoje cedo, com certo pesar. A cidade, hoje com mais de seis milhões de habitantes, vive um grave problema de mobilidade urbana e concluiu somente agora a terceira linha de metrô (Paris e Londres têm quatorze cada uma).

A questão é que sempre que se fura um buraco em Roma, depara-se com uma nova ramificação da cidade subterrânea. A linha C do Metrô prevista para ser entregue em 2007 só foi concluída agora porque no processo de escavações foram encontradas inúmeras relíquias que atrasaram sistematicamente o andamento das obras.

Roma, essa cidade construída por papas (pontes, palácios, prédios públicos, teatros, museus, estádios) vive até hoje saudosa de Wojtyla.

Ele visitou por diversas vezes todas as igrejas existentes em Roma falando diretamente aos fiéis. Era visto, com regularidade, passeando como cidadão comum pelos arredores da Basílica de São Pedro.

“Arrivederci Roma... Good bye... Au revoir”...

Hoje começamos a nos deliciar Toscana adentro.


Até breve.

domingo, 29 de março de 2015

CASA



Voamos TAP.

Fui seduzido, ao longo de todo o voo, pela música lusitana. Coloquei o fone em um dos ouvidos da comissária e perguntei-lhe o nome de quem estava cantando: “Ana Moura”, ela me disse. “É uma de nossas melhores”. Quando desembarcamos em Lisboa, em conexão para Roma, fui direto a uma loja no aeroporto e comprei três CDs da intérprete.

Pousamos no início da noite na Cidade Eterna. Rômulo, que matou o irmão Remo, fundou-a em 753 a. C. na Colina de Palatino, uma das sete colinas da região. As outras são: Campidogno, Viminale, Quirinale, Esquilino, Celio e Aventino.

Romulo foi o primeiro dos sete soberanos que governaram em Monarquia até o ano de 509 a. C., quando Roma transformou-se em República conquistando a partir daí todo o mundo mediterrâneo.

Em 31 a. C. conquistou o Egito e inaugurou o Império Romano que durou até o ano de 478 d.C.. Vários monumentos ainda hoje existentes espalhados pela cidade, principalmente obeliscos, foram trazidos do Egito e instalados em Roma.

Inúmeros desses monumentos podem ser considerados símbolos da história romana, no entanto, talvez o que mais a caracteriza seja o Arco Constantino, erguido à frente do Coliseu e inaugurado em 315 d. C.. Celebra o triunfo de Constantino sobre o último imperador pagão: Massenzio. Constantino teria se convertido ao cristianismo na noite anterior do último combate e mandado desenhar, nos uniformes dos guardas de seu exército, a santa cruz.

Após a vitória ele mandou construir, à frente do Coliseu, o primeiro monumento da história cristã: o Arco de Constantino.

Assim Constantino mudou a história do mundo quando cessou a perseguição do povo cristão que, até então, vivia em catacumbas ou era “servido” aos animais em espetáculos no Coliseu.

O Coliseu, máquina perfeita para produção de espetáculos, construção elíptica de 189m por 154m por 52 metros de altura, consumiu 340 toneladas de mármore e aplicou ao longo de onze anos (entre 69 d.C. até 80 d. C.) cerca de 45 mil escravos. Ao redor de todo o Coliseu foram colocadas 160 estátuas de bronze representando divindades politeístas.

Até 313 d.C. os espetáculos eram entre homens versus homens, quando o Imperador Vespasiano determinou que as lutas poderiam ser apenas entre homens e animais. O Coliseu abrigava até 65 mil espectadores. Os espetáculos duraram até o ano de 476 d.C..

Apesar de gigantesco ele não foi o maior estádio de Roma, mas sim o Circo Mássimo inaugurado em 520 d. C. em mármore travertino, abrigava até 280 mi espectadores e, até hoje, é considerado o maior estádio da história humana.

Não sei por que insisto em fazer esses parcos e imprecisos registros, mas ao longo do dia de hoje fui bombardeado por tantas informações que tornou-se impossível não fazê-lo. Sei que o que fala em mim mais alto não são os dados concretos, mas a história humana que carrega cada um deles.

Por exemplo, saber que Nero tendo governado Roma entre 53 d. C. e 64 d. C. teria mandado incendiá-la e 11 dos 14 “bairros” foram destruídos.  Ele mandou construir seu palácio em uma área de 120 hectares, compreendendo a extensão de quatro das sete colinas. A frente ergueu sua estátua em ouro maciço com 36 metros de altura.

“Felizmente agora posso morar em uma casa digna de um homem humilde”, teria dito quando concluiu a obra.

Poucos meses depois  Lucullus, um escravo, o matou com doze punhaladas. O Senado então mandou destruir toda a residência e o novo imperador Vespasiano destruiu o lago artificial e mandou edificar ali o Coliseu.

Vespasiano mandou que fosse cortada a cabeça da estátua, reciclado o ouro e que esculpisse a sua em nova estátua. Alguém perguntou ao Andrea, nosso guia, o que teria acontecido com o resto da estátua. “As mulheres eram como as mulheres atuais”, respondeu com um sorrisinho maroto.

A Itália, como país, não existia até 1870. Era um mosaico de vários estados. Roma, por exemplo era um estado da Santa Madre Igreja. Foi unificada pelo rei Vitório Emanuel I e viveu sob a monarquia até 1945, terminada a II Grande Guerra quando foi instalada a Primeira República Italiana.

Só mesmo depois da década de 50, com a televisão pública, que se expandiu a língua italiana com base especialmente no dialeto florentino. Portanto, Itália como país, é mais jovem que o nosso.

Mesmo eu deveria era ter falado do nosso jantar ontem no Ristorante Da Meo Pataca, localizado em um bairro boêmio da cidade. Para quem esperava que eu desse alguma dica sobre Roma podem apostar nesta. Peçam Massa Mista, imperdível.

Tem mais consistência e sabor do que todo o resto do post.



Até breve.

sexta-feira, 27 de março de 2015

CORAR



Quando eu era criança, lá em Santa Teresa, ouvia dos adultos que todo mundo tinha que ter vergonha na cara. Não foi a mais crítica das minhas preocupações de época, mas lembro-me que ficava ansioso quando, em inúmeras vezes, cometia meus atos traquinas e imediatamente corria para o espelho ver se havia alguma alteração em minha cara.

Comecei a acreditar que ou eu era imune ou era mais uma das muitas que os adultos pregavam e que não passavam de invenções como da existência de mula-sem-cabeça.

Sessenta e três anos depois minhas convicções infantis não foram alteradas. Continuo acreditando que nada vai para a cara que denuncie vergonha. Ou por outra, ninguém tem vergonha na cara. E o pior, nem eu.

Dicionários pregam a ideia de que vergonha é sentimento penoso por se ter cometido alguma falta ou pelo temor da desonra.

Notícia publicada hoje no Estadão dá conta de que a Polícia Federal deflagrou nesta quinta-feira a Operação Zelotes para desarticular um esquema de corrupção que pode ter anulado R$ 19 bilhões em multas aplicadas pela Receita Federal. Empresas pagariam propina para que integrantes do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) - órgão do Ministério da Fazenda que julga recursos de contribuintes com débitos bilionários - cancelassem ou reduzissem o valor das punições. O Carf julga processos na esfera administrativa, em que contribuintes questionam a cobrança de tributos. É um colegiado formado por funcionários do Ministério da Fazenda e por representantes da sociedade.

Conforme as investigações, 70 empresas dos setores industrial, automobilístico, siderúrgico e agrícola, além de grandes bancos, subornaram conselheiros. Os investigadores já conseguiram identificar corrupção envolvendo nove processos no valor de R$ 6 bilhões. Com a análise das demais 61 causas, o valor subiria para R$ 19 bilhões.

“Esta é uma das maiores operações da PF pelo tamanho. São recursos que deveriam entrar nos cofres da União e não entraram. Então, é desvio de recursos públicos”, resumiu o diretor de combate ao crime organizado da PF, Oslaim Santana.

Conforme as investigações, empresários eram procurados por ex-conselheiros do Carf e consultores que ofereciam o esquema de corrupção. A propina variava entre 1% e 10% do débito. Era paga á conselheiros do órgão para aprovar, no plenário, pareceres favoráveis às empresas, pedir vista ou mesmo fazer exames de admissibilidade dos processos. Em apenas um dos casos, uma multa de R$ 150 milhões desapareceu. Os nomes das empresas não foram divulgados, porque a Justiça decretou sigilo nas investigações.

Esses 150 me remeteram a outros 150, os mortos do suicídio de uma e assassinato de 149 pessoas a bordo da Germanwings.

Aqueles que estão na cabine não têm vergonha na cara, nós aqui fora, ensandecidos e em passeatas tentamos abrir a muralha que torna a realidade cada vez mais explícita: vamos todos morrer nessa queda fatal.

A Honra é invenção maquiavélica dos adultos o que existe de fato são mulas-sem-cabeça.

Deprimidas.




Até breve.

quinta-feira, 26 de março de 2015

FATALIDADES



O avião caiu.

Na verdade, parece, foi derrubado.

Não por terrorismo.

Provavelmente, por causa do terrorismo. Não fossem as medidas tomadas depois de 2001, entre elas colocar fechadura interna à cabine, o piloto teria conseguido adentrar e impedir, quem sabe.

Depressão?

Vamos aguardar o próximo.

Embarco amanhã para a Itália.

A vida queda a cada dia.

Ajustes de arrumação.



Até breve.

sexta-feira, 20 de março de 2015

DROGA



Participei ontem de um jantar com grupo de pessoas com as quais farei uma viagem à Itália proximamente.

Ao meu lado, sentou-se uma ex-autoridade pública do setor de educação, hoje prestando consultoria para governos de outros países. Disse-me ela que, embora tivesse recebido inúmeros convites federais, estaduais e municipais, declinou de todos.

- “Preciso desintoxicar-me”...

Não era o momento, claro, para abordá-la ansiando saber da experiência, mas foi ela mesma quem se abriu como se oportunizasse a ocasião para um desabafo comovente.

- “Estou desolada com tudo o que andam fazendo nesse país... Tivemos tanto trabalho para fazer muito aquém do que necessitamos... Estão destruindo o pouco que fizemos”...

Procurei nos posts anteriores ousar um diagnóstico e um prognóstico. O título dos posts DE AGNÓSTICO e PRO AGNÓSTICO ensejam a provocação com a ênfase em agnóstico.

Alguns dos agnósticos mais famosos são: Albert Camus, Bill Gates, Charlie Chaplin, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque, Brad Pitt, Charles Darwin e Albert Einstein.

O escritor argentino Jorge Luís Borges afirmou sobre o agnosticismo: "Eu não sei se tem alguém do outro lado da linha, mas ser um agnóstico significa que todas as coisas são possíveis, mesmo Deus. Este mundo é tão estranho, tudo pode acontecer, ou não acontecer. Ser um agnóstico me permite viver em um mundo mais amplo, em um mundo mais futurístico. Isso me faz mais tolerante”.

Longe de eu querer entender e falar sobre, só que está mesmo complexa a tarefa de construir um pensamento sobre as atualidades. E olha que eu sou tolerante. Em meio a tantos bombardeios de notícias, fatos, factoides, versões, pareceres, sobra pouca chance para uma razão conclusiva.

Tudo e nada pode acontecer, simplifica por demais. Prefiro trabalhar na tese de que há algo que precisa acontecer e, mesmo que modesta, dar uma contribuição para que efetivamente uma utopia seja possível.

Foi o que procurei dizer à minha desolada companhia no jantar.

- “Não desista, por favor,”...

Ao final do jantar, quando já nos despedíamos, a ex-autoridade pública em Educação apertou a minha mão e disse:

- “Vou precisar de seis meses, mas sei que a missão é tóxica”!


Até breve.


quinta-feira, 19 de março de 2015

PRO AGNÓSTICO



Tá bom, fui pessimista, radicalizei. O ente querido não está tão grave assim. Há sinais evidentes de recuperação. O Jornal O Globo elegeu como Personalidade do Ano de 2014 o juiz paranaense Sérgio Moro, responsável pelas investigações da Operação Lava a Jato.

A propósito, Boechat âncora do Jornal da BAND sugeriu que o Posto de Gasolina em Brasília onde forem presos os primeiros investigados, e que deu nome à operação da Polícia Federal, deveria ser tombado pelo Patrimônio Histórico.

O Ministro da Educação da Pátria Educadora foi demitido ontem por ter ido à Câmara se desculpar por ser mal educado e acabou deitando falação sobre quatrocentos ou trezentos deputados que, na opinião de Sua Excelência, “achacam” o governo na política do toma-lá-dá-cá.

Por outro lado Sérgio lembra-me Aldo, ambos Moro. Aldo Moro, jurista italiano, foi um dos responsáveis pela Operação Mãos Limpas investigação judicial de grande envergadura na Itália que visava esclarecer casos de corrupção durante a década de 1990, que implicava a Máfia, o Banco do Vaticano e a loja Maçônica P2.

Durante a Operação Mãos Limpas, 2.993 mandados de prisão foram expedidos; 6.059 pessoas foram investigadas, incluindo 872 empresários, 1.978 administradores e 438 parlamentares, dos quais quatro haviam sido primeiros-ministros.

A publicidade gerada pela Operação Mãos Limpas acabou por deixar na opinião pública a impressão de que a vida política e administrativa da Itália, estava mergulhada na corrupção, com o pagamento de propina para concessão de todos os contratos do governo.

A Operação Mãos Limpas levou ao fim da chamada Primeira República Italiana e ao desaparecimento de muitos partidos políticos. Alguns políticos e industriais cometeram suicídio quando os seus crimes foram descobertos.

Além do assassinato do juiz Aldo Moro em 1998, tragédia maior para a Itália viria em seguida: Berlusconi.

Tomara que a História seja mais benevolente para conosco tupiniquins e que não se faça repetir. Quando saímos da ditadura os tempos nos deixaram diante de Sarney e Collor.

Agora, depois que lavarmos nossos cancros, que não nos venham... ora, tenho até medo de citar nomes.



Até breve.

terça-feira, 17 de março de 2015

DE AGNÓSTICO



De fato eu poderia era falar aqui de Elis, uma das maiores intérpretes da nossa música que, se estivesse viva, estaria completando hoje setenta anos. Ou de qualquer outra coisa que adoçasse o gosto. Deve ter um monte de delícias a serem provadas e repetidas. A vida nos apresenta um cardápio.

É mesmo uma questão de escolha.

Não gosto de abordar o tema, ele já é por demais tratado em todas as primeiras páginas dos jornais da mídia impressa, eletrônica e web. Não há nada mais por dizer a respeito.

A cena política e a Operação Lava-Jato.

Fosse médico eu poderia abordá-lo melhor, mas uma breve pesquisa na web me dá, na superfície, um viés de abordagem.

“Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de cem doenças que têm em comum o crescimento desordenado (maligno) de células que invadem os tecidos e órgãos, podendo espalhar-se (metástase) para outras regiões do corpo.

Dividindo-se rapidamente, estas células tendem a ser muito agressivas e incontroláveis, determinando a formação de tumores (acúmulo de células cancerosas) ou neoplasias malignas”.

É que assisti aos jornais televisivos de agora à noite e me coloquei como alguém que vai a um hospital visitar um ente querido em estado agudo.

A verdade é que meu país não está nada bem. No domingo aplicaram-lhe uma dose considerável de “passeatas de protestos” e "panelaços", ou seja, duas doses de Melhoral em gotas.

Temo que logo, caso não sejam adotados procedimentos cirúrgicos para extirpação, esse meu ente querido salve-se para uma vida vegetativa com sequelas inomináveis.

Para não dizer que evolua para um quadro de óbito.




Até breve.

segunda-feira, 16 de março de 2015

PASSEATAS



Recebi hoje um vídeo editado no YouTube.

Me fez pensar sobre como, nós brasileiros, somos habilidosos em resolver nossos problemas mais críticos.

Assistam em: ENGENHARIA


Até breve.

domingo, 15 de março de 2015

SANTÊ



Ouvi a notícia no rádio do carro, quando voltava hoje de Santa Luzia. Meu coração estoou aos gritos. Meu berço acaba de ser tombado.

O Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de Belo Horizonte tombou o bairro de Santa Tereza. Trezentas casas, igrejas, restaurantes e bares, além de praças, compõem a lista dos imóveis que compõem a lista de tombamento.

A ideia é preservar as edificações e, com isso, preservar o bairro nos seus aspectos intangíveis como cultura, história tradição e influência musical. "Santa Tereza não tem só o patrimônio arquitetônico e ambiental. Existe um patrimônio de cultura que transcende isso tudo", disse o presidente do conselho, Leônidas Oliveira.

Segundo Oliveira, a iniciativa possibilita a preservação não somente dos imóveis tombados, mas de toda a ambiência e do conjunto arquitetônico, paisagístico, urbanístico e cultural do bairro.

Bairro de classe média na zona leste de Belo Horizonte, Santa Tereza guarda características arquitetônicas da década de 1960 e abriga um dos mais tradicionais redutos boêmios da capital mineira com casas de serestas e bares, onde pessoas ligadas às artes se encontram para confraternizar, compor músicas e poesia, dançar e cantar, e beber, nas noites de Belo Horizonte.

Depois de ouvir a notícia resolvi passar pelas ruas por onde meus pés descalços vagaram em busca de aventuras e traquinagens na minha adorável infância. Eu conhecia cada beco, cada lote vago, precisávamos apenas de quatro pedras para demarcar os gols e jogar nossas peladas intermináveis.

A Praça Duque de Caxias, o Coreto, cada pedaço de chão tem um pouco de minhas retinas impressas. Eu estou ali, impregnado em lágrimas saudosas. Sim, eu fui muito feliz em Santa Teresa.

Só saí de lá aos vinte e três anos. Foi na matriz de Santa Teresa e Santa Teresinha que fui batizado, casei, batizei meus filhos, lavei-pés, vendi velas na semana santa. Cri.

Tenho esse lugar no meu sangue e nas lembranças. As peladas também em frente ao cinema, do qual o porteiro Pedrinho foi ameaçado de levar uma surra certa vez por um de meus irmãos se ele não permitisse que eu entrasse para assistir um filme com censura para 18 anos de idade. Eu tinha quinze.

Minhas andanças com o tabuleiro de bolinhos de feijão. Minhas aventuras em tábuas de sebo por ruas então calçadas com pedras pé-de-moleque, Bauxita, Formosa, Galba Veloso. Finca nos passeios de terra. Pipas empinadas até quando a lua branqueava o céu sem arranha-céus.

Minhas inúmeras noites na Praça Duque de Caxias, com amigos, tramando mudar o mundo e a vida.

Meu encontro com Ela, quando saía da missa.

Tornei-me eterno com o tombamento. Em algum lugar do mundo residirá minha presença. Basta a eu saber que não violentarão meu berço. Definitiva esperança e alegria.

Hoje em fiquei mais feliz.




Até breve.

sábado, 14 de março de 2015

HÁFAZERES



Participo do Instituto Horizontes - IH que é uma organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP), sem fins lucrativos, formada por voluntários, entre profissionais liberais, empresários, intelectuais e pessoas de diversos segmentos da sociedade. Seu principal objetivo é ser articulador de estudos e ações que busquem a melhoria da qualidade de vida do cidadão, sem limitação do seu espaço geográfico.

Quinta-feira, à noite, participei junto a outros colegas do IH de um encontro no auditório da Prefeitura de Betim. O propósito da reunião foi o de apresentar aos convidados para o encontro o Plano de Ações Estratégicas – PAE para o Vetor Oeste da região metropolitana de Belo Horizonte.

O PAE Vetor Oeste, que cobre as cidades de Mateus Leme, Juatuba, Betim, Contagem, Belo Horizonte, Igarapé, Sarzedo, Joaquim de Bicas, Mario Campos e Ibirité, visa estimular grupos de atores da região a definirem e executarem ações estratégicas promotoras de desenvolvimento integrado e sustentável.

As principais atividades do PAE foram:

  • Engajar representantes do setor público, privado e da sociedade civil organizada para identificar Forças, Fraquezas, Ameaças e Oportunidades para o Vetor;
  • Coletar a opinião de consultores sobre a situação do Vetor;
  • Definir ações estratégicas promotoras de desenvolvimento integrado e sustentável.

A conclusão de nossos estudos apontou a inadiável necessidade do Vetor Oeste atacar três grandes prioridades:

1. ARTICULAÇÃO INTERINSTITUCIONAL objetivando compatibilizar os investimentos e ações na organização dos arranjos produtivos no Vetor; na conciliação dos Planos Diretores Municipais entre si e com o Macrozoneamento do PDDI-Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana nas áreas de educação e qualificação profissional e nas áreas de saúde e segurança.

2.     MOBILIDADE objetivando compatibilizar os investimentos e ações para disciplinar o uso e ocupação do solo e melhorar o desempenho dos sistemas viário e de transportes no âmbito dos municípios do Vetor.

3.   ÁGUA SANEAMENTO E QUALIDADE DE VIDA objetivando compatibilizar os investimentos e ações para universalizar a oferta de saneamento básico no Vetor; a proteção das nascentes, cursos d’água e reservatórios; e a compensação aos municípios do Vetor pela manutenção de recursos naturais existentes.

Presentes à reunião de quinta-feira o Secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, os prefeitos de todas as cidades do Vetor Oeste (inclusive Belo Horizonte), vereadores, Diretores da COPASA, diretores e proprietários das maiores empresas que operam no Vetor, diretores da FIEMG e do CIEMG representantes diversos da sociedade, sindicatos em um público perto de duzentos e cinquenta pessoas.

Abri a minha fala dizendo que todos nós temos ao longo da vida oportunidades para tornar alguns momentos memoráveis e aquele encontro significava, para mim, um desses momentos.

E o foi.

Coloquei-me como cidadão, descerebre e anônimo que sou, e conclamei publicamente os prefeitos das cidades de Belo Horizonte, Contagem e Betim que assumissem como líderes cada uma das três prioridades a serem atacadas.

Assumiram: MOBILIDADE o Prefeito de Belo horizonte, ARTICULAÇÃO INSTITUCIONAL o Prefeito de Betim e ÁGUA, SANEAMENTO E QUALIDADE DE VIDA o Prefeito de Contagem.

Na sequência foram constituídos nove grupos de impulsão, que desenvolverão as ações estratégicas definidas no PAE, integrados pelos demais participantes da reunião através de inscrição espontânea.

Adiante, espero, há um imenso e profícuo trabalho a realizar e, para tanto, já contratamos com as autoridades presentes um cronograma de reuniões.

Amanhã não participarei das manifestações de rua programadas. Vou à Santa Luzia. Devo comprar ração para os cachorros e passarinhos e pagar a quinzena do Joselone, nosso caseiro.



Até breve.

quinta-feira, 12 de março de 2015

LÚMINA



Estive ontem em São Paulo para reuniões de trabalho e, entre elas, em uma instituição exemplar: Casa do Saber.

Em seu catálogo de programação de cursos para o primeiro semestre de 2015 nos faz saber o propósito da instituição.

A Casa do Saber é um centro de debates e disseminação do conhecimento em São Paulo, que oferece acesso à cultura de forma clara e envolvente, porém rigorosa e fiel às obras dos criadores.

Em um ambiente extra-acadêmico, a Casa do Saber apresenta cursos livres, palestras e oficinas de estudo em diversas áreas do conhecimento, reunindo renomados professores e conferencistas.

Os cursos (com duração de um a seis meses), palestras, aulas-espetáculo e eventos buscam fornecer referências básicas da melhor qualidade em temas essenciais da cultura humana.

O catálogo contempla 141 cursos abordando temas contemporâneos tratados “à quente”. São palestras ou cursos de curta duração, que falam dos fatos do mundo baseados na tese de que as pessoas querem se posicionar.

Disse-me o diretor executivo que a escola propõe, em seu núcleo pedagógico, um olhar positivo sobre o conjunto de realidades. Quem participa dos programas sai com perguntas elaboradas com fundamentos que permitem uma visão mais ampla dos inúmeros problemas pelos quais vimos passando.

Saí de lá com uma questão: o saber é capaz de nos confortar dos males? Ou o saber é a fonte crua para a angústia? Em um cartão marca-página do catálogo da Casa está impressa uma citação de Willian James: “A arte de ser sábio é a arte de saber o que ignorar”.

Pois é, não quis ficar sozinho com a questão e a trouxe para cá.




Até breve.

terça-feira, 10 de março de 2015

PROCESSO



Nunca mais o vi. Nem tive notícia a respeito. A verdade é que também não procurei saber, porque fosse revê-lo seria para mandá-lo daqui para melhor.

Claro que eu não sou assassino contumaz. Os que matei, acho que foram alguns trinta, todos foram por merecimento. Fizeram para.

Ora, no caso desse que eu digo que nunca mais o vi é diferente. Ele é especial, porque além de ter merecimento inquestionável, eu queria muito, mas muito mesmo mata-lo.

Larguei para lá porque estou certo que, uma hora dessas, ele vai cruzar à minha frente. E eu não vou acabar como de pronto. Vou fazer como novela televisiva. A gente sabe como vai acabar, mas vou cozinha-lo aos poucos até o capítulo final, sem sangue.

Afinal o que esse cara aprontou?

Eu sempre fui um sujeito passivo, quase tolo. Num mecho com a vida de ninguém, nem com mulher de outro, roubo sem ser visto, meus crimes se é que podem ser considerados crimes, são triviais.

Tô longe de ter a crueldade desse último aí que apareceu na TV, o do sujeito que brutalizava o filho tetraplégico da amante para que o jovem morresse aos poucos e todos achassem que ele morreu da doença. A mulher, desconfiada, deixou um celular ligado e filmou as sessões de tortura. Refinado assim, eu não sou.

Dos trinta que eu acho que fechei, doze foram dentro da cadeia nas minhas quatro passagens por lá. Por motivos que todo mundo é capaz de entender mesmo que não aceite. Um deles, que eu me lembre, andava comendo duas filhas da namorada. Uma de nove e outra de onze anos. Isso eu, nem os de lá, tolera. Sangrei.

Sempre quando eu começo a contar eu fico com a impressão de que na verdade foram mais de trinta, aí eu me perco. Também que importância que tem, mais dez menos dez, tinha que morrer mesmo?

Duas mulheres modificaram a minha vida. Uma era stripper, a outra era um gay. Todas as duas fizeram com que eu me perdesse de centro, me tiraram tudo. Das centenas de mulheres que já tive as duas tomaram conta a ponto de que, para voltar a ser dono de mim mesmo, também entraram na lista.

A stripper foi com super dose branca de má qualidade. Quando ela chegou ao hospital já tinha virado anjo. Não deu nem BO, foi um fato dentro de tantos outros. O gay foi na porrada mesmo, usei até soco-inglês, coitada machucou muito. Um dos olhos azuis derramou sobre a cabeleira loira falsa.

Eu me formei em faculdade, ninguém poderia esperar de mim esse destino. A coisa começou foi com esse que disse que nunca mais o vi e que nem tive mais notícias a respeito.

Foi por causa dele que eu destramelei e fiz uma carreira, por isto ele é especial. Foi ele que me iluminou os motivos, e os casos foram se sucedendo naturalmente. E vai acontecer de novo, como todos os outros sei lá quantos.


Até chegar a vez dele e eu cumprir.



(Ficção à luz do depoimento feito hoje por Pedro Barusco na CPI da PETROBRAS.) 

segunda-feira, 9 de março de 2015

PANELAÇO



Fico em dúvida se foi um pesadelo ou reflexões em período de sonolência mórbida.

Acontece assim:

Estamos todos diante de um grande salão onde se encontram os delatores e os delatados. Eles não nos veem, mas nós os vemos através de uma chapa de vidro transparente e os ouvimos por um sistema de som.

Os depoentes são coordenados por representantes do Ministério Público, Polícia Federal, Procuradoria Geral da República, Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, Comissão Parlamentar de Inquérito e Supremo Tribunal Federal.

O país todo acompanha.

Os delatores iniciam apontando os fatos, os dados e as pessoas envolvidas. Valores, forma de contratação e pagamento, citam datas, locais, números de vezes, enfim tudo o que na versão de cada um teria acontecido no período entre o ano tal até o ano tal.

Os delatados ouvem pacientemente, alguns com certo deboche, outros sonolentos e quando incitados a se pronunciarem repetem um mantra:

- Tudo que os depoentes disseram é mentira! Em todos os anos de minha vida pública todas as denúncias e processos que abriram contra mim foram arquivados por falta de provas.

Assessores entram no recinto com toneladas de pastas de processos envolvendo inúmeros documentos, depoimentos, provas físicas, gravações já periciadas, que atestam para qualquer cidadão por mais ingênuo que seja a veracidade e confiabilidade das denúncias.

De repente tudo para, como naquela brincadeira de criança em que dizíamos aos nossos amigos ESTÁTUA e todos tinham que ficar da forma que estavam quando foi dado o comando.


Muda a cena de meu pesadelo ou de minhas reflexões em períodos de sonolência mórbida.

Agora estamos em outro salão onde passeia o Juiz que condenou à expropriação de bens com um carrão do réu extrintabilhionáriodaforbes e do capô que, de repente se abre por força de um saculejo, voam as notas de dólares e euros surrupiados pelo sua Eminência Causídica do mesmo réu envolvido em meteórica e histórica trapaça.

De repente tudo para, como naquela brincadeira de criança em que dizíamos aos nossos amigos ESTÁTUA e todos tinham que ficar da forma que estavam quando foi dado o comando.


Ontem à noite fui visitar o Bê (meu filho mais novo), em sua nova casa e me surpreendi porque pelos arredores soavam gritos, sons de panelas sendo batidas, apitos, alvoroço total.

Só hoje entendi, quando li os jornais do dia que o mesmo teria ocorrido em várias regiões do país e eram para acordar as estátuas e continuarmos a brincadeira.

Fiquei mais tranquilo. Noninha sempre me diz: “Vovô, você inventa cada coisa”... 



Até breve.