Hoje se inicia a semana em que
completo meu sexagésimo terceiro ano. Vida que me privilegiou, até aqui, com
bens preciosos: boa saúde, uma companheira, três filhos e três netos (o último
carrega em seu sobrenome o nome pelo qual eu sou mais conhecido).
Penso que não causei males profundos
e nem fiz bens relevantes.
Modesta e trivial passagem.
Estive sempre mais atento à
Humanidade que ao Homem. Optei por dirigir meu olhar mais para a História do
que para o Tempo. Mais para as circunstâncias do que para seus efeitos. Mais
para o contexto do que para o texto.
Acabei optando por uma marcha para
a solidão.
Olhar na dimensão da floresta
ofusca minha visão às árvores. Não convivo com ninguém que assalta meu
cotidiano, tenho pavor do coloquial, do aqui e agora, questiúnculas da vida em
sociedade.
Reconheço-me na presunção e na
agressividade espevitada de um nariz que fita de cima, até porque não enxergo
nem quem está ao meu lado. Nos raros e breves momentos de reflexão, sempre me
sofro disso. É óbvio que dói.
Volto logo ao meu altismo autista.
Não há arte senão no bordejamento.
E com que Arte me compenso? Seguramente
não é a Literatura. Nem a Crítica. Sequer a Consultoria em Governança. Banais,
hoje, mais do que outras, ainda.
Compenso-me pela arte de não ter
inimigos, nem ódios, nem articulações perversas intrigantes. Compenso-me pela
arte de cumprir compromissos, inclusive os mais prosaicos, como pagar as contas
do sustento.
Compenso-me pela arte de sentir, no
mais profundo, afeto intenso por Noninha, Tim e por Antônio, que nos seus
primeiros olhares antes de completar noventa dias de vida, vislumbrou afinal,
sexta-feira agora, contornos de parte de suas origens. E até sorriu, cândido.
Compenso-me sobre mata verdejante
que me assola, nesse lugar que escolhi, edifiquei e que, espero, enterrarão
minhas cinzas.
Compenso-me por ser simples, embora
não pareça, em contentar-me com vestes liminarmente pudicas, sem afetações
contemporâneas. Quando posso, passo dias com as mesmas.
Compenso-me pela arte de ser
desnecessário.
E, ainda assim e exatamente por
isto, ser indispensável. O que seria da Humanidade não fosse a Arte?
Apenas o
Homem, essa besta lamentável, tosca, desnecessária.
Até breve.
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