Sumi.
Nasci mamãe morreu. Pai eu não
soube. Muitas mãos depois fui dar em Dona Dulce. Passava dos doze, mas já dava
conta de todo o serviço. Isso foi a infância.
Sempre, quando ficasse adulta,
queria voltar lá. Nunca foi possível. Dinheiro prá viagem até tinha. Faltou
liberdade de tempo. E, no fundo, tinha medo. Dos assombramentos.
História como de qualquer outra.
Desafortunada. Igual sem reparos nem exageros para doer. Nos outros. Assim,
milhões de como. Então prá que ficar falando? Se não vai de interesse.
Tem só um porém.
Eu não carnei de pecado nenhum, nem
comigo. Não matei e nem roubei. Nem bicho e nem centavo. Nunca. De igreja,
qualquer, corri. Escola fui, mas não fiquei. Letras conheço as do meu nome: o
esse, o ó, o ene, o i e o a. Nunca precisei de mais nenhuma.
Porém é isso. Com xibiu inteiro,
sem crime, sem leitura e nem escrita. Muitas das vezes dava estranhamentos, mas
mesmo assim eu deixava prá lá. Ninguém é mesmo igual.
Um dia gostei mais de um canto e
fiquei. Eu nem via a dona da casa todo dia. Eu arrumava um lanche pra ela de
manhã e ia pro meu quarto. De noite, quando ela voltava encontrava a janta
pronta. Eu, na cama.
Fiquei prá mais de doze anos. Ela
foi morar fora do país. No dia que eu saí ela levou uma dona para que eu
ficasse prá ela. Foi assim.
Mais cinco anos.
Essa casou e o marido levou ela
embora. Me levou para uma família perto, dois velhos e um rapaz entrevado em
uma cama. Lá eu fiquei sete anos. Quando morreu o último, um dos parentes pediu
prá eu ficar prá ele.
Foram nisso oito anos.
Daí prá trás foi do meu quarto prá
cozinha e arrumação. Terminava voltava pro meu canto. Nunca ruminei nada.
Televisão de jeito nenhum. Nunca entendi. Nem amizade, com ninguém. Não saía
prá lado nenhum. Nunca.
Até que cansei.
E fui embora.
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